Fevereiro começa e, com tantas experiências que ele traz, existe uma que acontece muitas vezes na vida de um estudante: a volta às aulas de forma presencial. Só que, desta vez, não será da mesma forma como quando retornavam das férias. Temos agora uma nova lição a ser praticada e que, do contrário, poderá lhes custar a vida.
No ano anterior, e num outro texto de volta às aulas, as crianças e jovens não eram alvos do novo coronavírus, mas hoje são considerados a população mais vulnerável. Mais uma vez estamos diante de um grande desafio: o que poderia ser uma oportunidade para diferentes debates e argumentos sobre a complexidade do tema, o que temos visto é uma intempestividade na decisão em retornar à escola presencialmente mesmo com a cobertura vacinal dos alunos incompleta. Essa volta, de acordo com os gestores, deve ser tão rápida quanto a velocidade de contaminação da Ômicron.
Já em seu terceiro ano, a pandemia marca esse novo começo com vivências e sentimentos que podem ter deixado muitos impactos negativos, tanto na aprendizagem como também no aspecto socioemocional.
O ensino remoto acentuou ainda mais as diferenças de acesso à educação. Agora, são os antivacinas que vão marcar de forma letal esse grupo de pessoas. Seria bem melhor estarmos falando de encontros com os amigos, professores, e ainda, poder abraçar depois de tanto tempo isolados, mas o que temos é uma sociedade mergulhada no caos, uma pandemia interminável, individualismo e um momento em que a conversa entre as pessoas, valores, respeito e compaixão, parece, foram perdidos, esquecidos durante esse tempo.
A volta às aulas, sem a vacinação das crianças ou exigência de medidas para conter a contaminação, é uma violência e uma desintegração social, pois a escola não é somente a transmissão de conhecimento. Ela é também é um espaço de convivência, onde podemos incluir diversas ações de transformação de vidas. Quando falo em incluir estão aí valores sociais como: a diversidade, a tolerância, o direito. Ou seja, a escola como um espaço de troca e de paz. É uma pena estarmos assistindo a um processo inverso ao da promoção da socialização. Infelizmente, as ações pedagógicas educacionais não encontram espaço para investir positivamente nas potencialidades das crianças e jovens.
São tantos os enfrentamentos que a educação atualmente precisa fazer, que tarefas imprescindíveis são postas de lado. Por exemplo, estudantes com deficiência. Dar conta de tudo e todos é colocar na pauta que, se por um lado o isolamento e o distanciamento social marcam de forma incontestável a vida, os estudantes com deficiência continuam suas atividades reforçadas pela invisibilidade na educação inclusiva. Desta vez vai ser preciso driblar a Ômicron e a falta de prioridade no programa vacinal. Acolher o sentimento da exclusão em não poder estar na escola e vacinado parece ser tarefa que os gestores públicos querem manter isolada.
Mesmo em circunstâncias normais, as pessoas com deficiências têm, historicamente, menos acesso à educação, a assistência médica, a oportunidades de trabalho e à participação nas suas comunidades. Porém, a pandemia agravou as desigualdades e gera novas ameaças, uma vez que, as pessoas com deficiências estão entre as mais afetadas por esta crise. Em mortalidade, por exemplo.
Adequar o aprendizado, desenvolver habilidades afetivas, reorganizar as matérias, e reordenar os objetivos, todo esse planejamento deve ser pensado incluindo e não escolhendo quem estará sentado na carteira. Minha torcida é para que a volta às aulas traga sentimento de segurança, e que todos possam criar estratégias para a recuperação da vida e da aprendizagem. Que todas as crianças estejam vacinadas, que disponibilizem meios tecnológicos e continuem seguindo em direção ao encontro dos recursos que complementam esse processo sem esquecer que a convivência com a diversidade, com diálogo, trará muitas respostas.
A beleza da vida está na presença dos amigos, no reencontro, nas brincadeiras na hora do recreio. Encarar e frear o vírus que tantas vidas nos tirou são ações coletivas, ao passo que devemos compreender que negar a vacina para crianças é soprar contra a liberdade e o bom senso. Além de jogar pra longe os laços de amizade e saudade. Vacina no braço e mochila nas costas. Boa aula!
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