Acredito que toda viagem é, no fim das contas, uma busca por pedaços de nós mesmos. Muitos dizem que viajar é maravilhoso. E por quê? Eu concordo: sim, é uma das melhores coisas que podemos fazer.
Começando pela seleção do que iremos levar. Excesso de peso tem um preço, e tem metáfora mais adequada para a vida? O que carregamos além da conta nos consome, seja na nossa saúde física ou mental. Escolher o que vale a pena ir com a gente deveria ser um exercício diário. Caso contrário, o preço pode tirar a graça do passeio.
De malas prontas, seguimos para o embarque. O meio não importa tanto: todos eles trarão algum desafio a ser superado. Seja o medo do que a jornada nos apresenta, seja a dificuldade da espera, seja a ansiedade por chegar logo. Vencer todos esses obstáculos, portanto, é parte do roteiro.
E se escolhermos fazer todo o trajeto apenas em uma companhia: somente a nossa? Iremos nos deparar com perguntas recheadas de surpresas, quase inquisidoras: você está sozinha?
E aqui gostaria de abrir um grande parênteses porque perguntas como essa carregam milhares de camadas cobertas de julgamento, preconceito, desqualificação e, até mesmo, desaprovação. Sou mulher e viajo sozinha. Sou alguém com deficiência e viajo sozinha. Sou adulta e viajo sozinha. Sou Mariana e viajo sozinha. Por que tanta surpresa?
Quando descobrimos que temos asas, a primeira pessoa a se surpreender é a gente mesmo. E, a cada voo que dou, percebo como minhas asas crescem. Todas as perguntas que me fazem já foram respondidas por mim. Eu sou a resposta para todas elas. Diante do óbvio, nos resta sorrir. E continuar desejando para que as pessoas consigam ter outras curiosidades. Podem perguntar como estou me sentindo ao conhecer um novo país, se gostaria de companhia, já que estou sozinha, se aceito tomar um café e saiba que para essa última, a resposta é sempre sim.
Dizem que viajar é a melhor maneira de romper alguns preconceitos. Eu, mais uma vez, concordo. Nos últimos dias, vivi a utopia de estar em um lugar que entendeu o quanto a inclusão não é algo a ser feito. É parte do que se espera de uma sociedade que percebe as diferenças e as aceita, tornando possível a todos o exercício do viver. Quando viajo, me adapto a novos lugares, horários, rotinas. Me incluo em uma nova cultura. Aceito o que parece estranho. Me abro para o desconhecido. E me encontro naquilo que me faz tão igual e tão diferente de cada um de nós.
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