Estúdio Gazeta
Aracê Casa de Vivência
Difícil alguém que não goste de música. Também não dá para duvidar que ela é uma verdadeira terapia. Traz sensações boas, anima o ambiente. Para os idosos, faz até muito mais do que isso.
Diego Bertoldi Valentim, que trabalha com musicoterapia na Aracê Casa de Vivência, em Jardim Camburi, em Vitória, desde 2017, tem exemplos incríveis de como a música traz benefícios para esse grupo.
Um caso de que ele se recorda é o de uma senhora que havia tido um acidente vascular cerebral (AVC) e ficou com a comunicação verbal reduzida a poucas palavras. "Ela compreendia muito bem o que falávamos, mas usava apenas palavras como 'beleza', 'oi', 'é' e 'tudo bem'. No entanto, ela conseguia cantar um vasto repertório do Roberto Carlos. Isso se deu, provavelmente, porque para cantar ela acessava a memória musical distribuída pelo cérebro e focava nas frases melódicas e não na construção textual palavra a palavra", relembra ele.
O musicoterapeuta pega o violão e começa a dedilhar uma canção. Um senhor entra no ritmo com um instrumento de percussão. Uma idosa toca o caxixi, um tipo de chocalho. Uma outra começa a soltar a voz. E a música vai desempenhando seu papel. Ou melhor, seus papéis. Segundo Diego, a música é um instrumento poderoso enquanto terapia por atuar em várias frentes.
"No cognitivo ela ativa memórias importantes, que de outras formas não seriam acessadas. Além disso, a música também pode ajudar a retomar algumas capacidades perdidas, como a verbalização ou coordenação motora", cita.
"Outras pacientes com pouca ou quase nenhum estímulo muscular, por exemplo, conseguem assumir voluntariamente células rítmicas com seus pés ou mãos, acompanhando as músicas ou mesmo tocando instrumentos, ainda que em sua vivência anterior nunca tenham feito isso", comenta o musicoterapeuta.
A musicoterapia coletiva, como a que é feita na Aracê, diz Diego, traz um senso de comunidade, troca de informações, lembranças da infância, juventude e vida adulta. "Tivemos uma paciente que mal falava depois de 12 anos com Alzheimer. Mas cantava boa parte de algumas músicas mesmo depois do fim das sessões", relata.
Diego explica ainda que a prática ajuda também na localização de tempo. "Os dias das sessões marcam os dias da semana em que são realizadas as musicoterapias, criando também algo fundamental para pacientes institucionalizados: a expectativa."
De acordo com Diego, todo mundo dá conta de entrar no ritmo. "São os instrumentos que se adequam à possibilidade motora de cada um", finaliza o musicoterapeuta.
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