Principal índice de ações da bolsa de valores de São Paulo, a B3, o Ibovespa registra baixa de 14,4% em 2021. É o segundo pior resultado no mundo, atrás apenas da bolsa do IBC da Venezuela (-99,5%), cujo país se encontra há anos num quadro de hiperinflação.
Os dados são de um levantamento feito pela agência classificação de risco Austin Rating, divulgado pelo g1. O estudo compara a variação de 79 índices internacionais em bolsas de 78 países no acumulado no ano, até o fim de novembro. Veja o ranking:
O mapeamento aponta que a bolsa brasileira tem caminhado na direção contrária da tendência global dos mercados acionários, onde apenas nove índices acumulam perdas no período. A mediana das variações das bolsas do mundo nos 11 primeiros meses do ano foi de uma alta de 13,6%.
O resultado do Ibovespa é reflexo de um cenário de grandes incertezas, que fez com que o otimismo difundido à medida em que a vacinação contra a Covid-19 avançava desse lugar à cautela.
Desde o início do semestre, as projeções de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para 2022 foram reduzidas à metade, e com a queda de 0,1% da economia brasileira no terceiro trimestre de 2021, o segundo recuo seguido no indicador frente ao trimestre imediatamente anterior, o Brasil entrou em uma recessão técnica.
Trata-se de uma tecnicalidade, considerando apenas o indicador, e que não leva em conta outras questões, como nível de emprego, produção industrial, entre outros. Ainda assim, as perspectivas estão longe de serem positivas, e analistas consideram que a economia brasileira foi forçada à sua exaustão e tende a estagnar.
Isso é refletido nas variações do Ibovespa, que, em seis meses, saiu de seu recorde nominal, na casa dos 130 mil pontos, para algo em torno de 100 mil.
Hoje, o país lida com inflação galopante, crescimento baixo e patamares elevados de desemprego, ainda que os indicadores do mercado de trabalho venham apresentando melhora gradual. Ao mesmo tempo, os estímulos à economia foram reduzidos, e as taxas de juros elevadas, dificultando tomar crédito e financiar novos projetos.
Na visão do especialista em renda variável da Valor Investimentos, Paulo Luives, trata-se de uma tempestade perfeita, em que um cenário já ruim é agravado por variáveis incomuns, transformando-se em uma situação caótica.
Até meados de junho, a Bolsa brasileira estava batendo recordes históricos, de 130 mil pontos, mas as projeções macroeconômicas do país se deterioraram bastante. Tínhamos previsão de inflação em torno de 6%, 6,5%, e juros mais contidos também. Então tudo mudou. Essa questão dos precatórios acendeu um alerta, mas tivemos outros fatores, como a crise hídrica, o choque de ofertas no mundo inteiro, que puxou também a inflação.
Ele observa que esses fatores prejudicaram bastante o cenário macroeconômico, e que com as consequentes revisões para cima da inflação, o Banco Central foi forçado a subir juros numa tentativa de conter a alta generalizada de preços.
Nesse cenário, o próprio mercado começa a reprecificar a bolsa, pois as empresas começam a lidar com aumento de custos, que ou implicará em repasse aos consumidores, ou em perda de margem de lucro. Também passam a ter maior dificuldade crédito. Não obstante, as dívidas, que antes eram corrigidas por taxas de juros mais baixas, crescem exponencialmente.
O sócio-fundador da Pedra Azul Investimentos, Lélio Monteiro, reforça que, no momento, a Bolsa pode ser considerada barata em relação ao lucro das companhias, e que a conjuntura tem tornado os investidores mais cautelosos, tendo em vista as dúvidas em relação ao cenário político e econômico do país.
Estamos em ano pré-eleitoral, não se sabe ainda o que vai acontecer. Historicamente, o ano de eleições presidenciais é um ano difícil para os mercados financeiros. As posições políticas atuais do governo também não tem agradado ao mercado, que precifica isso. E outro campo é a incerteza fiscal. O mercado precifica tudo isso. O Ibovespa está barato porque o mercado não está confiante para o futuro.
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