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105 mil empresas estão inadimplentes no Espírito Santo

105 mil empresas estão inadimplentes no Espírito Santo

Falta de gestão e economia fraca afetam micro e pequenos negócios

Publicado em 5 de agosto de 2019 às 00:33

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No país, quatro em cada 10 empresas endividadas são comércios. (Reprodução)

O cenário de crise econômica não superado no país ainda apresenta reflexos em solo capixaba. Por aqui, 105.333 micro e pequenas empresas estão inadimplentes de acordo com dados da Serasa Experian. Os números são de abril deste ano e superam o registrado no mesmo mês do ano passado, quando eram 102.234 pequenos negócios com contas atrasadas.

No Brasil, o número de micro e pequenas empresas chegou a 5,38 milhões, o recorde da série histórica iniciada em março de 2016. Ainda a nível nacional, os negócios do setor de serviços são os mais inadimplentes, representando 48% do total. Na sequência, aparecem as empresas que atuam no comércio (43,2% de participação) e, por fim, as indústrias (com 8,4%).

Segundo os economistas da Serasa Experian, o fraco desempenho da atividade econômica, que freou o consumo, acabou por não favorecer a ampliação da geração de caixa das empresas. Esse fator e a alta da inflação nos anos anteriores foram os responsáveis pelo aumento do número de micro e pequena empresas negativadas.

Para o analista técnico do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) Rafael Botelho, a dificuldade das empresas em manter os compromissos em dia está associada à falta de gestão dos empreendedores.

“Muitas vezes, o microempreendedor trabalha sozinho. Ele não consegue manter um foco no comercial e na gestão financeira da empresa. Assim, quase sempre, o foco passa a ficar exclusivamente no comercial, enquanto a gestão vai em frente sem muita preocupação”, comenta o analista, que ainda complementa: “Esses problemas se assemelham muito aos do orçamento doméstico e familiar. Quando a situação é favorável, tudo vai bem, mesmo que sem um grande controle. Agora, quando a renda diminui um pouco, o baque é grande”.

Rafael ainda sugere que os empreendedores que estejam passando por tais problemas, ou até os que querem evitar tal situação, que procurem o Sebrae em busca de uma consultoria especializada.

EXPECTATIVA

Na avaliação do conselheiro do Conselho Regional de Economia (Corecon-ES) Sebastião Demuner, as dívidas das empresas podem ser explicadas pela alta expectativa de venda que foi criada, principalmente, depois das eleições do ano passado. Expectativa essa que não foi correspondida.

“Os empreendedores tinham grande expectativa; fizeram financiamentos acreditando na melhoria da economia, mas isso não aconteceu. E quando o vencimento chega, o banco não quer saber se as vendas foram bem ou não”, comenta.

“Na verdade, esses microempreendedores são uns gigantes, porque o país está num atoleiro. A gente precisa é sair desse atoleiro para que as pessoas consigam chegar ao asfalto que representa o bom caminho da economia”, diz Demuner fazendo uma analogia.

“O importante é que quem está no mercado procure fazer algo diferente para se destacar. Porque você pode montar uma padaria e, duas semanas depois, aparecer um concorrente. Agora, se o seu pão for diferente e você se destacar com ele, podem vir outros concorrentes que ainda assim o seu produto será valorizado”, aconselha o conselheiro do Corecon-ES.

FIQUE ATENTO

O que faz o empresário perder dinheiro

Falta de planejamento Muitas vezes o empreendedor não consegue se planejar e acaba por perder dinheiro, não comprando as matérias-primas no melhor momento e até pagando contas em atraso com juros.

Misturar as contas

É comum que os donos de pequenos comércios misturem as finanças pessoais com as empresariais. Isso é um grande passo para se endividar, já que perde-se o controle financeiro.

Ficar fora das redes sociais

Atualmente é importante que os empresários estejam presentes tanto pessoalmente quanto on-line para aumentar as vendas ou mesmo para apresentar o produto para outras pessoas.

Não se capacitar

O empreendedor precisa saber gerir, vender, negociar. Para isso, ele precisa se capacitar.

DESEMPREGO AUMENTA NÚMERO DE NEGÓCIOS

O número de pequenos negócios aumentou nos últimos anos, segundo o secretário da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Espírito Santo (Fecomércio-ES) José Carlos Bergamin. Esse aumento, causado em grande parte pelo desemprego, pode ter contribuído para a elevação do número de empreendedores endividados.

“Olhando a economia como um todo, não seria comum abrir muitas empresas com um mercado retraído como o nosso. Porém, como muita gente perdeu o emprego, acabou tentando a sorte com um negócio próprio. E quando a empresa é aberta dessa forma, a chance de insucesso é muito maior”, pondera Bergamin, que trabalha com o setor de vestuário.

O desemprego também afeta os pequenos negócios de outra maneira mais direta: com o endividamento. “Se a pessoa não tem dinheiro para pagar o comerciante que trabalha no bairro, como o comerciante vai ter condições de arcar com suas despesas?”, questiona.

Uma das saídas, avalia o representante da Fecomércio, é que o pequeno empresário se associe a outros empreendedores que estão no mesmo ramo.

“Dessa forma, a cadeia vai se fortalecer e ambas empresas poderão comprar matéria-prima, por exemplo, com um valor mais em conta. Outra possibilidade é admitir a presença de um sócio que invista na empresa e ajude a planejar o futuro”, pondera o empresário.

MALABARISMO PARA DEIXAR AS CONTAS NO AZUL

Há cerca de seis anos, a pequena empreendedora Myrthes Loyola Muqui, 36, decidiu abrir uma loja de roupas em Goiabeiras, Vitória, depois de ter tido uma boa experiência atuando como vendedora de porta em porta. Hoje em dia, no entanto, ela confessa que precisa fazer certos malabarismos para continuar de portas abertas.

“A grande luta é com o fluxo de caixa. É muito difícil ter o dinheiro na mão para honrar os compromissos nesse período em que o comércio oscila tanto. Parece que as pessoas ainda estão inseguras para comprar”, avalia.

Hoje com uma loja que ocupa dois pontos, Myrthes teve dificuldades para quitar um empréstimo que fez quando resolveu ampliar o negócio.

“Há dois anos resolvi ampliar a loja. O Micro Empreendedor Individual (MEI) acredita muito no sonho. Então, mesmo sem dinheiro, resolvi pegar um empréstimo e expandir a loja. Foi com a graça de Deus que consegui terminar de pagar as prestações há três meses”, comemora.

Agora, para tentar melhorar as vendas, Myrthes tem apostado nas vendas on-line, lançando seus produtos nas redes sociais. “Já consegui fazer duas vendas para fora do país. E como tenho uma loja de bairro, dá muita alegria quando as pessoas vêm de outros lugares falando que viram minhas postagens nas redes sociais e querem conhecer minha loja. Isso é muito gratificante”, diz entusiasmada.

“Para seguir em frente não tem muito segredo. É trabalho. São 12 horas por dia, sete dias na semana. Você sai da loja e vai para casa pensar em estratégias para melhorar suas vendas, pensar como vai ser o mês seguinte, a semana seguinte. Mas, como já disse, a gente que é MEI acredita no sonho”.

APOIO

Segundo a empreendedora, muitas ajudas foram importantes ao longo do período de desenvolvimento do negócio, como amigos, parentes e até membros da associação de moradores do bairro. Um dos pontos de apoio foi a Agência de Desenvolvimento das Micro e Pequenas Empresas do Empreendedorismo (Aderes), vinculada à Secretaria de Estado de Desenvolvimento (Sedes).

O diretor técnico da Aderes, Hugo Tofoli, é um entusiasta da capacitação dos pequenos empreendedores. “Para escapar dessa crise o empresário precisa se capacitar, mas nem todos entendem essa importância. Pela Aderes temos dois projetos estruturantes que são opções para ajudar essas pessoas”, completa Tofoli.

Ele acrescenta que há algum tempo vem notando a dificuldade dos pequenos empreendedores em pagar as contas.

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“Isso é a prova de que a crise é grave. Geralmente, ela começa atingindo os grandes investidores, as grandes empresas, mas quando chega ao pequeno empreendedor é prova de que o dinheiro parou de circular”, comenta o diretor da Aderes.

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