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Acionistas sinalizam pôr R$ 7 bi na Americanas, mas reunião não tem acordo

Acionistas sinalizam pôr R$ 7 bi na Americanas, mas reunião não tem acordo

Valor a ser injetado pelos bilionários Lemann, Telles e Sicupira é considerado insuficiente pelos bancos para tapar o rombo contábil de R$ 20 bilhões na empresa

Publicado em 16 de fevereiro de 2023 às 17:33

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SÃO PAULO - A reunião dos bancos credores com a Americanas, na manhã desta quinta-feira (16), em São Paulo, terminou sem acordo. Antes mesmo das 11 horas, as instituições financeiras deram sinal negativo para as conversas, diante do impasse no valor a ser aportado pelos acionistas de referência — os bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira.

Fachada de Lojas Americanas no Centro de Vitória
Fachada de Lojas Americanas no Centro de Vitória. (Fernando Madeira)

Donos de 31% do capital da varejista, os fundadores da empresa de private equity 3G Capital sinalizaram que iriam aportar R$ 7 bilhões — R$ 1 bilhão a mais do que havia sido indicado por Sergio Rial, ex-presidente da Americanas, na reunião que conduziu com os bancos em 13 de janeiro, representando o trio de bilionários.

O valor, contudo, é considerado insuficiente pelos bancos para tapar o rombo contábil de R$ 20 bilhões nos balanços da Americanas, que entrou em recuperação judicial em 19 de janeiro com dívidas declaradas de R$ 43 bilhões. As instituições financeiras acreditam que um aporte de R$ 15 bilhões por parte do trio, que até o final de 2021 controlava a Americanas, seria suficiente.

Havia uma expectativa de avanço nas negociações desta quinta-feira (16), já que, pela primeira vez, um representante dos bilionários participaria da reunião — Roberto Thompson Motta, sócio do trio na no 3G Capital. Mas a única mudança foi um incremento de R$ 1 bilhão sobre a proposta trazida por Rial.

A maior dívida da varejista está nas mãos dos bancos privados. Os débitos com as instituições financeiras somam R$ 19,5 bilhões, sendo o Bradesco o maior credor (R$ 5,1 bilhões), seguido por Santander (R$ 3,6 bilhões), BTG (R$ 3,5 bilhões), Itaú Unibanco (R$ 2,7 bilhões) e Safra (R$ 2,5 bilhões). Também estão na lista os bancos públicos Banco do Brasil (R$ 1,6 bilhão) e Caixa (R$ 500 milhões).

Em fato relevante divulgado no início desta tarde, a Americanas confirma que estão sendo realizadas nesta quinta (16) reuniões com bancos e outros credores financeiros. A reportagem apurou, junto a uma fonte a par das negociações, que a reunião com os bancos foi a primeira do dia — e envolveu apenas banqueiros, não os respectivos advogados. Mas a varejista continua em negociações com outros credores nesta tarde.

"Rothschild & Co, seu assessor contratado para interagir com esses credores, apresentou proposta contemplando, principalmente, um aumento de capital em dinheiro, com suporte de seus acionistas de referência, no valor de R$ 7 bilhões (considerando o financiamento DIP já aportado que seria convertido em capital), recompra de dívida por parte da companhia da ordem de R$ 12 bilhões e a conversão de dívidas financeiras no montante total de cerca de R$ 18 bilhões, parte em capital e parte em dívida subordinada", diz o comunicado.

A Americanas reconhece, porém, que não houve acordo "até o momento". "A companhia espera continuar mantendo discussões construtivas com seus credores em busca de uma solução sustentada que permita a continuidade de suas atividades."

Sem acordo, caminho é a falência

Na visão dos bancos, os acionistas devem injetar um capital relevante na Americanas e não propor um empréstimo. 

Para que o plano de recuperação judicial seja apresentado à Justiça em 20 de março, a Americanas precisa entrar em acordo com os grandes credores, que se mostram extremamente insatisfeitos com as soluções "paliativas" que o trio de bilionários têm apresentado — como o financiamento DIP (do inglês debtor-in-possesion financing, ou "financiamento do devedor em posse"), aprovado pela Justiça no último dia 9, no valor de até R$ 2 bilhões.

Os acionistas aportaram, efetivamente, R$ 1 bilhão e esperavam captar a mesma quantia com credores ou outros interessados no mercado financeiro, o que não aconteceu. Neste tipo de empréstimo, só concedido em recuperações judiciais, se a empresa sai do processo, o investidor se torna um acionista. Caso contrário (se vai à falência), o investidor é privilegiado, recebendo antes de todos os outros credores da recuperação judicial.

Segundo uma fonte que acompanha a negociação, os bancos consideraram o primeiro valor proposto, de R$ 2 bilhões, "risível", diante do montante da dívida. E também uma "aberração", uma vez que o DIP foi apresentado e diferido em segredo de justiça, sem que ninguém tivesse acesso às condições.

Para as instituições financeiras, da forma como foi proposto, o financiamento parece uma forma de os acionistas aportarem dinheiro às custas dos credores. Neste tipo de empréstimo, a empresa costuma dar garantia para atrair investidores. Mas, no caso da Americanas, foi proposta apenas uma remuneração de 128% do CDI, sem garantias.

A dívida bilionária que a varejista tem com os bancos pode ser transformada, por exemplo, em participação societária, a fim de aliviar o caixa da Americanas e permitir o cumprimento do plano de recuperação judicial sem grandes sobressaltos, informou uma fonte que acompanha a negociação.

Se os bancos não aprovarem o plano, o caminho que resta à Americanas é a falência — uma solução que não é boa para ninguém, incluindo as instituições financeiras.

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