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'Agronegócio enfrenta desafio mortal de imagem', diz economista

"Agronegócio enfrenta desafio mortal de imagem", diz economista

Na visão do economista José Roberto Mendonça de Barros, ainda não está claro o tamanho do estrago que a crise da Covid-19 vai deixar na economia brasileira

Publicado em 3 de julho de 2020 às 09:29

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Medida inclui agricultores familiares
O coronavírus tem afetado o agronegócio . (Freepik)

O economista José Roberto Mendonça de Barros, sócio da consultoria MB Associados, vê com preocupação a condução da política ambiental brasileira - segundo ele, em nome do combate à burocracia, deu-se a impressão de que a destruição de florestas estava liberada, o que se refletiu no aumento das queimadas no país. Isso gerou, na visão do economista, um "desafio mortal" para o setor. Mendonça de Barros participou ontem da série de entrevistas Economia em Quarentena, do Estadão.

Na visão do sócio da MB Associados, ainda não está claro o tamanho do estrago que a crise da Covid-19 vai deixar na economia brasileira. Segundo ele, o mês de setembro, quando o total de casos e mortes deve estar em uma clara curva descendente, será o momento do governo tomar a frente da reconstrução do país. Para Mendonça de Barros, o melhor caminho é incentivar concessões e privatizações, que têm efeito mais imediato na atividade econômica. "A infraestrutura é a única forma que eu imagino de sairmos do buraco em que estamos."

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:

O Brasil tem perspectiva de retração no PIB de até 9% este ano, segundo o FMI. O que o Brasil pode fazer para reconstruir sua economia no pós-pandemia?

  • O termo reconstrução é muito adequado. Ao contrário de outros países, que estavam crescendo e tiveram uma parada súbita por causa do vírus, nós mal tínhamos saído de uma recessão em 2015 e 2016. Passamos três anos crescendo lentamente e aí veio esse tombo. Além dessa queda deste ano, que poderá ser de 9%, temos as perdas de 2015 e 2016. No acumulado, vai ser uma queda de 15% entre 2015 e o fim de 2020. Isso significa que o país ficou mais pobre.

Com a demanda pelo auxílio de R$ 600, a questão da distribuição de renda voltou ao primeiro plano no Brasil?

  • Sem dúvida. Tinha muita gente que conseguia na informalidade viver como uma classe média modesta. Na hora que as pessoas ficam em casa por causa da pandemia, esse grupo de invisíveis literalmente fica sem chão porque sua renda cai abruptamente. A pandemia mostra que não só a distribuição de renda é ruim, mas também expõe a fragilidade do mercado de trabalho. O desafio para a equipe econômica vem em setembro, que será um mês-chave, porque vamos saber o tamanho do estrago trazido pela Covid-19. Só lá que os novos casos e as mortes provavelmente estarão desacelerando na maior parte do País. Muitas empresas também estão batalhando pela sobrevivência. Muita gente vai quebrar e nem vai conseguir reabrir. É aí que vamos saber o tamanho exato do desemprego.

Com esses dados em mãos, qual será o desafio?

  • Montar o orçamento para 2021. Vai ter uma parte do auxílio emergencial que terá de virar permanente, como suporte de renda à população. Além disso, tem de prever um aumento nos gastos na saúde. E como você empacota mais gastos em um cenário de maior controle fiscal? Porque tem de pensar na reconstrução. E o mais importante parece ser o incentivo às concessões, privatizações e PPPs (parcerias público-privadas), pois a infraestrutura é a única forma que eu imagino de sairmos do buraco em que estamos.

O agronegócio é hoje o motor da economia brasileira, mas as decisões do setor ambiental têm trazido ameaças de boicote. Isso atrapalha o país?

  • Atrapalha, definitivamente. Lamentável que isto esteja acontecendo porque o agronegócio realmente produz com tecnologia relativamente sustentável e não precisa queimar um pé de árvore. Com o discurso de redução da burocracia, a mensagem que o governo passou na área ambiental desde o ano passado é a de que liberou geral. Tanto é que, a posteriori, aumentou a invasão de terra. E isso (a questão ambiental) é um desafio mortal ao agronegócio. Está cada vez maior o número de entidades que trabalham com exigências de sustentabilidade. O que acaba acontecendo é que a ministra da Agricultura (Tereza Cristina) é a única que tem de sair correndo para colocar panos quentes (na situação).

Como reverter isso?

  • Se o assunto for bem encaminhado, nós temos uma avenida para crescer. O Brasil é o único grande fornecedor do mercado internacional que tem capacidade de aumentar em 10% ou 20% a produção nos próximos anos. O Brasil vive uma crise política. O fato de o governo federal de certa forma negar a pandemia nos prejudicou ainda mais? Infelizmente, sim. Ficou fácil de ver que os dois piores de casos de contaminação e óbitos pelo coronavírus são o Brasil e os EUA, ambos com líderes que negaram a pandemia. O negacionismo na área federal é espantoso. Isso é um pedaço do custo (que vamos pagar). Uma das formas de olhar isso é a oscilação do dólar no Brasil, que é maior do que na média dos emergentes. Essa volatilidade vem da incerteza.

Dá para pensar em reformas estruturantes na situação atual?

  • Acho que temos de ter um horizonte para fazer, mas as reformas não podem ser precondição para as outras medidas. Não vejo espaço para a discussão da reforma tributária nesse momento. As concessões e privatizações são mais factíveis e podem trazer resultados mais concretos. Acho mais relevante a reforma administrativa do setor público, que dá mais resultado no curto prazo. Sei que o lobby é complicado, mas acho que temos de colocar as coisas na ordem adequada.

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