BRASÍLIA – Uma falha no sistema nacional de energia afetou o fornecimento de luz em Estados de todas as regiões do país, na manhã desta terça-feira (15). O apagão interrompeu o fornecimento de 16 mil MW de carga, segundo o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico).
Até as 12h25, 55% da carga da região havia sido recomposta no Norte, e 81%, do Nordeste. O montante equivale a 13.500 MW. A recomposição foi concluída nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.
A queda ocorreu por causa da abertura, às 8h31, da interligação Norte-Sudeste. As causas da ocorrência ainda estão sendo apuradas.
A Abradee (Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica), com base em notificações de filiados, confirmou que 25 Estados e o Distrito Federal foram afetados. A exceção foi Roraima, que não está no sistema interligado.
Essa interligação é o conjunto de linhas de transmissão que conecta as instalações de geração de energia das regiões Norte e Nordeste com as instalações majoritariamente de consumo da região Sudeste.
No momento do apagão, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, estava no Paraguai, acompanhando a comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas decidiu retornar ao Brasil.
Silveira determinou a criação de um grupo de trabalho, com MME (Ministério de Minas e Energia), ONS e Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), para averiguar o que ocorreu. Ele concederá entrevista coletiva hoje às 16h30 para detalhar as informações.
Segundo a Folha de S.Paulo apurou, existem várias possibilidades de caráter técnico em análise.
Técnicos ouvidos pela reportagem, que preferem não ter o nome identificado, dizem que o mais provável é que a falha tenha começado na Região Norte. Como os reservatórios das hidrelétricas estão cheios e não era horário de pico quando a energia foi interrompida, é quase certo que ocorreu falha operacional. Pelo volume de energia, essa falha é qualificada como grave.
No Norte, estão duas usinas muito importantes, Tucuruí e Belo Monte.
O vice-presidente, Geraldo Alckmin, mencionou que investiga-se se houve problema em Imperatriz, no Maranhão, uma subestação da Eletronorte, que faz parte do sistema Eletrobras, hoje privatizado. Essa subestação recebe energia de Tucuruí e manda para uma interligação com dois linhões, um para o Sudeste e outro para o Nordeste.
Ficaram sob observação a Subestação Xingu, no Pará, e a interligação entre a hidrelétrica de Serra da Mesa, ao Norte de Goiás, e do sistema que passa pelas cidades de Gurupi e Miracema, ao Sul de Tocantins.
Especialistas no setor dizem que é preciso aguardar a conclusão dos técnicos. O ex-diretor-geral da Aneel Jerson Kelman é um deles. "Nessa altura, qualquer hipótese sobre a causa do blackout é mera especulação", afirmou.
Kelman avalia que a gestão do sistema vem se tornando mais complexa, o que exige análises mais detalhadas sobre a operação para averiguar uma queda de energia dessa proporção.
"É fato conhecido, por exemplo, que o aumento da participação das fontes eólica e solar, principalmente no Nordeste, pode resultar em abruptas variações de produção local de eletricidade devido à flutuação dos ventos ou passagem de nuvens, causando trancos no fluxo de energia nas linhas de transmissão e na produção das hidrelétricas", afirmou, a título de exemplificação.
A prioridade do ONS foi inicialmente recompor a energia.
Essa recomposição foi iniciada logo cedo em todas as regiões. A estimativa é que 6.000 MW já tinham sido recompostos até as 9h16. Segundo o MME, até as 10h22, estavam recompostos 27% da carga da região Norte, e 68%, do Nordeste. O apagão causou transtornos nas principais cidades do país.
A Conexis Brasil Digital, que representa as principais operadoras de telefonia e internet do país, informou que, por causa do apagão, houve instabilidade nos serviços de telecomunicações. "As operadoras já estão trabalhando para reestabelecer os serviços no menor prazo possível."
A EDP, responsável pela distribuição de energia para 70 municípios do Espírito Santo e por 28 cidades de São Paulo, confirmou que os clientes de sua área tiveram o fornecimento impactado pela manhã e disse que a rede elétrica de distribuição da EDP foi normalizada imediatamente.
A Enel, distribuidora de energia nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará, afirmou que, na manhã desta terça, parte dos clientes da sua área de concessão teve o fornecimento de luz interrompido.
O serviço, segundo a empresa, é restabelecido de forma gradual.
A CPFL, que atende cidades do interior de São Paulo, informa que registrou, pela manhã, desligamento no Sistema Interligado Nacional, que é coordenado pelo ONS, ocasionando interrupção do fornecimento para parte dos clientes das quatro distribuidoras, CPFL Paulista, Piratininga, Santa Cruz e RGE. A empresa informa que o fornecimento foi restabelecido a todos os clientes.
A concessionária Light, que também atende o Rio de Janeiro, registrou falta de energia na manhã desta terça em trechos de bairros das zonas norte e oeste da capital e também em pontos da Baixada Fluminense.
Segundo a empresa, o serviço foi restabelecido gradativamente após a autorização do ONS. A Light é responsável pela distribuição de energia em 31 municípios do estado. A empresa informou que a energia foi totalmente restabelecida nas regiões impactadas pela atuação do Erac (Esquema Regional de Alívio de Carga) pela manhã.
O Erac é acionado automaticamente quando há ocorrência na rede interligada de energia para proteger o sistema de danos.
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