O FaceApp, aplicativo de manipulação de imagens que voltou a bombar nas redes sociais nos últimos dias ao envelhecer rostos, coleta dados pessoais para realizar seus serviços sem deixar explícito qual tratamento dá a essa informação.
A reportagem consultou três empresas de cibersegurança e o InternetLab, centro de pesquisa na área de direito e tecnologia, sobre as atividades do aplicativo. Nenhum disse ter encontrado quaisquer irregularidades.
Segundo especialistas ouvidos, não há indicação de comportamento malicioso por parte do app. A prática de pegar dados dos usuários, na verdade, não foge muito do usual em aplicativos do gênero. O que não é necessariamente boa notícia.
O FaceApp caiu no gosto do público pela primeira vez em 2018, quando passou a oferecer a opção de "trocar o gênero" dos usuários. Por meio de inteligência artificial, também transformou internautas em crianças.
De acordo com Nikolaos Chrysaidos, chefe de ameaças em dispositivos móveis da Avast, não há pedido de permissão "suspeito" no aplicativo, e a comunicação feita entre telefones e os servidores do FaceApp é segura. Também não foi detectado o envio de dados irregulares nessa conexão.
Fabio Assolini, analista sênior de segurança da Kaspersky, destacou que nesse tipo de aplicativos a maior preocupação é a privacidade.
"Por utilizar inteligência artificial para fazer as modificações [nas fotos], uma tecnologia usada em reconhecimento facial, a empresa dona do app pode vender essas fotos para empresas que compram esse tipo de tecnologia, pois o reconhecimento facial está crescendo mundialmente", afirma Assolini.
DADOS COLETADOS
A reportagem controlou as atividades do FaceApp durante 24h usando o Lumen, aplicativo monitor de privacidade desenvolvido pela Universidade da Califórnia em Berkeley. Nesse período, não foram detectadas violações. O editor de fotos se comunicou com três serviços para servir anúncios online, além de servidores próprios, do Facebook e do Google.
Em sua política de privacidade, o FaceApp diz coletar os dados fornecidos pelo usuário, como as fotos enviadas, com a possibilidade de compartilhar as informações com terceiros.
De acordo com Dennys Antonialli, diretor presidente do InternetLab e especialista em proteção de dados, o documento é "genérica", mas dentro do padrão de mercado. Os termos não deixam claro como eles lidam com as informações do usuário, mas também não indicam que há um uso perverso.
Por não ser específica, a política deixa brecha para que as informações pessoais sejam usadas para fins não desejados no futuro -um caso possível seria a venda das fotos para ajudar sistemas de reconhecimento facial.
"Uma preocupação adicional [em relação a outros aplicativos] é que o FaceApp pede acesso a todas as fotos do Facebook", diz Antonialli.
Conectar o aplicativo à rede social não é obrigatório, mas, no processo, o FaceApp pede acesso a lista de amigos, endereços de email e a todas as fotos do usuário, não só àquelas que ele quer manipular.
A dica de Antonialli, nesse caso, é prestar atenção ao se cadastrar usando o Facebook: no processo, é possível impedir que essas informações mais sensíveis e desnecessárias para a brincadeira sejam compartilhadas com o app.
É também importante lembrar de pedir a exclusão da conta depois que deixar de usar o serviço.
A reportagem tentou entrar em contato com a empresa que faz o FaceApp, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.
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