A cotação do dólar teve uma forte alta de 2,20% nesta quarta-feira (6) e foi a R$ 4,0810, maior valor desde 21 de outubro. A falta de estrangeiros interessados no megaleilão do pré-sal frustrou as expectativas do mercado de entrada de dólares no país, o que poderia fazer a moeda americana a se enfraquecer ante o real.
Apenas a Petrobras, em parceria com as chinesas CNOOC e CNODC, comprou o direito de explorar bacias de petróleo na região, frustrando a previsão de arrecadação. Nas perspectivas mais otimistas, esperava-se R$ 106 bilhões contra os R$ 69,9 bilhões arrematados. Ainda assim, o governo considerou o resultado um sucesso.
"A frustração com os leilões foi bem grande, pegou todo mundo de surpresa. Acreditávamos que o dólar iria para R$ 3,95 com a entrada dos estrangeiros, foi muito frustrante", afirma Fernanda Consorte, economista-chefe do Banco Ourinvest.
A economista aponta que o fluxo negativo de dólares no ano preocupa. Segundo o relatório de 'Movimento de câmbio contratado', do Banco Central (BC), a saída de dólares em operações financeiras é de US$ 35,5 bilhões (R$ 144,8 bilhões) no acumulado de 2019. Em 2018, a saída foi de US$ 48,7 bilhões (R$ 198,6 bilhões).
"A falta do estrangeiro no leilão de hoje mostra que eles não têm interesse em investir no Brasil. O país está como o patinho feio da história pelo problema de reputação do governo, pela falta de crescimento da economia e pelo juros muito baixo", diz Consorte.
Ela cita as queimadas na Amazônia como um dos grandes problemas do governo de Jair Bolsonaro (PSL) ante investidores estrangeiros.
Segundo o Instituto de Finanças Internacionais (IFF), o fluxo de investimentos estrangeiros destinados a países emergentes está positivo em US$ 78 bilhões em 2019 para todos os emergentes - tirando a China, que tem um fluxo maior. O Brasil, no entanto, está com este fluxo negativo em US$ 6 bilhões no ano.
Para o mercado doméstico, o leilão desta quarta (6) representava uma virada neste cenário, com forte entrada dos estrangeiros e um grande fluxo de dólares.
Para Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, a estratégia do leilão também afastou estrangeiros.
"O esvaziamento do leilão aponta alguns erros no processo do leilão. A estratégia do governo em majorar o valor dos bônus se mostrou equivocada, visto que o governo não só majorou o bônus como solicitava que as entrantes negociassem com a Petrobras uma indenização", afirma.
Abertman também destaca que a falha do governo em entregar o megaleilão que prometeu também é negativa para o mercado. "O governo sai com a capacidade de organizar pleitos e fomentar projetos de infraestrutura, importantíssimos para o desenvolvimento do país e o 'destravamento dos investimentos', questionada".
Em 2019, a saída de estrangeiros da Bolsa de valores brasileira soma R$ 30 bilhões, pior saldo desde 2008.
"O mercado precificou um apetite maior dos estrangeiros por risco e se decepcionou. A fuga de capital do país continua", afirma Márcio Gomes, analista da Necton Investimentos.
Nesta quarta, o Ibovespa fechou em queda de 0,33%, a 108.360 pontos em linha com exterior mais negativo. O volume negociado foi de R$ 20,435 bilhões, acima da média diária para o ano.
Durante o pregão, as ações da Petrobras tiveram fortes oscilações. Os papéis preferenciais, mais negociados, foram de uma alta de 3,5% na primeira hora de negociação a uma queda de 5,25% às 11h10, após a divulgação do resultado do leilão.
Ao final do dia, as ações preferenciais terminaram em leve alta de 0,20%, a R$ 29,71. As ordinárias, com direito a voto, não conseguiram se recuperar e fecharam em queda de 0,43%, a R$ 32,41.
No exterior, o viés foi misto. A notícia que a assinatura da "fase 1" do acordo comercial entre China e Estados Unidos pode ficar para dezembro desanimou investidores que esperavam a celebração deste primeiro passo ainda neste mês.
Em Nova York, o índice Dow Jones fechou estável, enquanto Nasdaq caiu 0,39% e S&P 500 subiu 0,07%.
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