O dólar bateu um novo recorde nesta sexta-feira (3), a R$ 5,327, ganho de 1,15%. Nesta sétima semana seguida de alta, a divisa acumulou valorização de 4,4%. No ano, sobe 32,7%, ficando R$ 1,31 mais cara.
A alta nesta sessão reflete a aversão a risco de investidores diante do salto do desemprego nos Estados Unidos. Segundo dados do Departamento do Trabalho dos EUA divulgados nesta sexta, empregadores cortaram 701 mil vagas no país em março, depois de criarem 275 mil em fevereiro, o que fez a taxa de desemprego disparar de 3,5% para 4,4%.
O dado reflete ações para conter a pandemia de coronavírus, que prejudicam empresas e fábricas. O número, contudo, é pior que o esperado pelo mercado e representa uma rápida degradação do cenário econômico. De acordo com uma pesquisa da agência de notícias Reuters com economistas, a previsão era de houvesse cortes de 100 mil empregos no mês passado.
O recorde do dólar, porém, é nominal, sem contar a inflação. Se for considerado apenas o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), calculado pelo IBGE, o pico de R$ 4 em 2002 equivale a cerca de R$ 10,80 hoje. Caso também seja levada em conta a inflação americana, o valor corrigido seria cerca de R$ 7,50.
A moeda americana é um dos ativos que mais se valoriza em meio à pandemia de Covid-19. Assim como o ouro, ela é tida como um dos investimentos mais seguros do mundo, sendo buscada por investidores em momentos de incerteza.
O movimento faz a maior parte das moedas globais a se desvalorizarem ante o dólar, incluindo o euro e a libra. O real é a sexta moeda que mais perde valor no mundo em 2020, atrás de apenas de divisas africanas.
Segundo analistas, o movimento é fruto de uma expectativa de maior dano econômico da pandemia no Brasil, que deve ter contração do PIB (Produto Interno Bruto), e impacto fiscal das medidas de incentivo do governo.
Também contribui para a alta do dólar um cenário de juro baixo. Com a Selic na mínima histórica de 3,75% ao ano, e expectativa do mercado que caia para 3,25%, investir no Brasil fica menos vantajoso, o que contribui com uma fuga de dólares do país.
Nesta prática de investimento, chamada carry trade, o ganho está na diferença do câmbio e do juros. Nela, o investidor toma dinheiro a uma taxa de juros menor em um país, no caso, os Estados Unidos, para aplicá-lo em outro, com outra moeda, onde o juro é maior, o Brasil.
Além da saída de dólares da renda fixa, há uma saída recorde da Bolsa de Valores. O saldo de investimento estrangeiro em ações brasileiras está negativo em R$ 63,3 bilhões até 30 de março, segundo dados da B3.
Para conter a alta da moeda e garantir liquidez ao mercado, que busca dólares diante da aversão a risco, o Banco Central (BC) tem feito leilões diários da moeda americana. Nesta sexta, o Banco Central (BC) vendeu US$ 455 milhões à vista.
As Bolsas globais também reagiram aos dados de emprego dos EUA e fecharam em queda. Dow Jones recuou 1,7% e S&P 500 e Nasdaq, 1,5% cada uma.
No Brasil, o Ibovespa, que chegou a cair mais de 6%, fechou em queda de 3,76%, a 69.537 pontos. Na semana, a queda é de 5,3%. No ano, de 39,9%.
O índice também reflete a deterioração do setor de serviços no país em março com o fechamento de empresas e a redução da demanda do consumidor devido às medidas adotadas para contenção do coronavírus.
No mês passado, o Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) calculado pelo IHS Markit teve a maior queda desde o início da pesquisa, em 2007. Ele desabou para 34,5 pontos ante 50,4 pontos em fevereiro.
"Os dados de março ilustram que o fechamento de empresas, cancelamento de encomendas e recuo da demanda do consumidor em meio à emergência de saúde pública do Covid-19 se traduziram em uma rápida queda na produção do setor de serviços", disse Tim Moore, diretor de economia do IHS Markit.
A contração recorde no PMI de serviços levou o PMI composto do Brasil a despencar para 37,6 em março, de 50,9 em fevereiro, também o menor nível em 13 anos. A indústria também contraiu no mês, mas a um ritmo mais modesto.
Já o petróleo, apesar da piora no cenário econômico, teve o segundo pregão seguido de forte alta, com o barril de Brent subindo 15%, a US$ 34,45, maior valor em três semanas.
Segundo a Reuters, Opep e aliados estão trabalhando em um acordo para um corte de produção de cerca de 10% da oferta global, o que pode elevar a cotação da matéria-prima, que sofre forte desvalorização com a crise do coronavírus e o aumento de produção da Arábia Saudita.
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