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Auxílio Brasil: cuidados e vantagens do empréstimo consignado

Auxílio Brasil: cuidados e vantagens do empréstimo consignado

Como benefício não é permanente e empréstimo é considerado de risco para as instituições financeiras, é preciso ficar atento para a dívida não se tornar impagável

Publicado em 25 de setembro de 2022 às 08:51

Ícone - Tempo de Leitura 5min de leitura
Ludson Nobre
Repórter / [email protected]

Beneficiários do Auxílio Brasil vão poder solicitar empréstimos para negociar dívidas, pagar as contas e até empreender. Mas, como o benefício não é permanente e o empréstimo é considerado de risco para as instituições financeiras, é preciso ficar atento às vantagens e aos cuidados que devem ser tomados antes de solicitar o crédito.

Em agosto deste ano, o governo federal anunciou que as famílias que recebem o Auxílio Brasil poderiam contar com o empréstimo consignado, que é quando as parcelas são descontadas diretamente no benefício. A ideia é que cada beneficiário possa comprometer até 40% do auxílio. Se o valor recebido for de R$ 600, a parcela máxima que poderia ser comprometida com o empréstimo seria de R$ 240 ao mês. Sendo assim, o valor recebido seria de R$ 360.

Beneficiários do Auxílio Brasil que estão em revisão cadastral têm até 14 de outubro para atualizar dados
Auxílio Brasil: empréstimo consignado deve ser liberado a partir de outubro. (Marcello Casal Jr/ Agência Brasil)

A previsão era que essa modalidade de empréstimo consignado ficasse disponível a partir deste mês. Mas, diante da falta de definição sobre a taxa de juros a ser aplicada, o lançamento deve ficar para o começo de outubro. Ficará a critério do banco oferecer ou não a modalidade. Até agora, de acordo com o UOL, 15 instituições financeiras de pequeno e médio porte — além de Banco do Brasil Caixa Econômica Federal — pediram autorização para oferecer o consignado.

Especialistas destacam que o empréstimo consignado, nesse caso, apresenta pouca segurança a quem está oferecendo o crédito. Além disso, por ser um benefício que, em alguns casos, pode ser suspenso ao segurado, deve trazer uma alta taxa de juros por conta do risco de inadimplência.

“O empréstimo consignado do Auxílio Brasil é alvo de muitas críticas porque as famílias que estão corretamente enquadradas para o recebimento do dinheiro estão em vulnerabilidade social. Então, se a pessoa que já está sem dinheiro contrai um valor pagando juros, isso pode até servir para alguma situação, mas a médio e longo prazo pode piorar a situação do beneficiário, ao invés de melhorar”, pontua o administrador financeiro Lélio Monteiro.

RISCOS DO EMPRÉSTIMO

O benefício pode ser suspenso porque o programa de transferência de renda é oferecido a famílias com renda per capita — quando o dinheiro da família é dividido entre os membros da casa — entre R$ 105,01 e R$ 210,00. Se a renda da família aumentar, ou tiver alguma mudança no programa, o benefício é cortado. 

Segundo Lélio, o empréstimo com base no Auxílio Brasil comete erro ao ser encarado como permanente. “As pessoas não sabem por quanto tempo vão receber esse dinheiro. Se o banco for analisar isso de forma técnica, vai querer cobrar muito caro nos juros. Se os valores cobrados forem muito altos, isso vai atrapalhar as contas do segurado e o auxílio vai perder o propósito”, destaca.

Outro ponto que deve ser observado, de acordo com Lélio, é que, se o empréstimo for concedido, o valor que vai ser recebido pelas famílias mês a mês diminuirá. “É importante poder contar com a maior quantidade de dinheiro possível para controlar as contas. O ideal é tentar ter o menor valor sendo comprometido com o empréstimo. E, no caso do consignado, se o beneficiário perder o auxílio, o banco não vai conseguir mais debitar a parcela do empréstimo e a pessoa terá que arcar com a dívida”, afirma.

O economista Eduardo Araújo também destaca o fato de o empréstimo consignado vinculado ao Auxílio Brasil não ter sido regulamentado. “Ainda não se sabe o teto de cobrança de taxa de juros, como existe já com o consignado do INSS. E isso é algo que preocupa porque as instituições financeiras poderiam cobrar uma taxa de juros acima daquilo que a gente considera como aceitável”, pontua.

QUANDO O EMPRÉSTIMO É RECOMENDADO?

O administrador financeiro Lélio Monteiro recomenda que, caso o empréstimo precise ser solicitado, as famílias comprometam no máximo 20% da renda e com parcelas divididas em até um ano, porque, quanto maior o valor e o tempo do empréstimo, maior a taxa de juros.

“O que poderia ser uma alternativa é a pessoa ter uma dívida mais cara e substituir pela dívida do empréstimo do auxílio com uma taxa menor. Aí seria uma vantagem. Vale se a dívida for no cheque especial ou cartão de crédito, por exemplo. Para uma quitação de dívida com taxa de juros mais cara, porque aí o empréstimo vai ter efeito positivo. A ideia é sempre tentar o caminho de diminuir a quantidade de juros que se paga”, informou Lélio.

Eduardo Araújo, por sua vez, confirma que economistas só recomendam a contratação de empréstimos quando o recurso a ser conseguido servirá para aplicação em alguma fonte que seja mais rentável que aquele custo.

“Se a pessoa recebe o auxílio e tem uma habilidade de fazer artesanato ou precisa de um pouco mais de dinheiro para usar esse recurso para empreender, em tese, faria sentido ela contratar um empréstimo nessa modalidade. Como também faria sentido ela pegar um empréstimo com uma taxa de juros menor para pagar outra dívida com uma taxa maior. Mas temos que pensar muito bem porque estamos falando de um dinheiro direcionado para uma situação de extrema dificuldade financeira. Oferecer crédito pode ser uma grande ameaça”, comenta Araújo.

De acordo com o economista, “o governo poderia, sim, criar outras linhas de crédito para as pessoas que possuem uma faixa de renda mais baixa, mas tem uma vantagem quando se faz isso de uma forma separada como microcrédito porque, quando as pessoas vão recorrer a essa outra modalidade de crédito, vão com a informação e o intuito de fazer o investimento”, conta.

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