O presidente do Grupo Banco Mundial, David Malpass, alertou para o risco de que os efeitos da crise provocada pelo coronavírus levem a uma "década perdida", com colapso de sistemas de saúde e educação, baixo crescimento econômico e alto nível de endividamento. "(A pandemia) jogou mais economias em recessões simultâneas do que em qualquer momento desde 1870", destacou, durante evento virtual organizado pela Escola de Finanças e Administração de Frankfurt, na Alemanha.
Segundo Malpass, as estimativas preliminares da instituição internacional sugerem que entre 110 milhões e 150 milhões de pessoas podem entrar em situação de extrema pobreza (menos de US$ 1,90 por dia) em 2021, o que corresponde a 1,4% da população global. "Está claro que uma recuperação sustentável exigirá um crescimento que beneficie todas as pessoas - e não apenas aquelas em posições de poder", ressaltou, acrescentando que as disparidades podem ameaçar a ordem social e até a defesa da democracia.
Na área do capital humano, Malpass salientou que, antes da pandemia, os países em desenvolvimento estavam tendo progressos notáveis, particularmente na questão da desiguladade de gênero. Contudo, de acordo com ele, os avanços foram suspensos com a covid-19, que tirou 1,6 bilhões de crianças da escola. "Nossas primeiras estimativas sugerem um aumento potencial de até 45% na mortalidade infantil devido à escassez de serviços de saúde e redução no acesso aos alimentos", citou.
Para atenuar o problema, o Banco Mundial está fornecendo ajuda para que governos mais pobres consigam reabrir escolas, revela Malpass. "O Banco está trabalhando em 65 países para implementar estratégias de aprendizagem remota, combinando recursos online com rádio, TV e redes sociais e materiais impressos para os mais vulneráveis", pontuou.
O dirigente americano acrescentou que a crise atual é diferente da de 2008. "Desta vez, a desaceleração econômica é mais ampla, muito mais profunda e atingiu os trabalhadores do setor informal e os pobres, especialmente mulheres e crianças, com mais força do que aqueles com renda ou ativos mais elevados", explicou.
David Malpass também defendeu a extensão do programa do G-20 que garante a países pobres a moratória temporária do pagamento de dívidas. "Em meados de setembro, 43 países estavam se beneficiando de cerca de US$ 5 bilhões em suspensão do serviço da dívida de credores bilaterais oficiais", revelou.
Malpass explicou que uma combinação de fatores levou a uma onda de endividamento excessivo por governos cujos quadros fiscais já são complicados - entre eles, o baixo nível dos juros no mundo inteiro. "Isso é reforçado por um desequilíbrio no sistema de dívida global que coloca a dívida soberana em uma categoria única que favorece os credores sobre as pessoas no país tomador", ressaltou.
Para o dirigente, é preciso encontrar soluções definitivas para esse problema. Segundo ele, credores privados não estão se juntando à iniciativa e os passivos estão sendo apenas adiados. "Dada a profundidade da pandemia, acredito que precisamos agir com urgência para fornecer uma redução significativa no estoque da dívida para os países pressionados", argumentou.
Malpass lembrou que, dentro do sistema atual, os países precisam negociar suas dívidas na Justiça, muitas vezes em cortes nos Estados Unidos e no Reino Unido. "É certamente possível que esses países - dois dos maiores contribuintes para o desenvolvimento - possam fazer mais para reconciliar suas políticas públicas para os países mais pobres e suas leis que protegem os direitos dos credores de exigir reembolsos desses países", exortou.
Sobre a questão ambiental, Malpass instou países a trabalharem para atingir metas climáticas e se colocou a disposição para ajudá-los a colocar valor econômico sobre a biodiversidade.
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