A concessão de empréstimos caiu 16,5% em abril na comparação com o mês anterior, segundo divulgados nesta quinta-feira (28) pelo Banco Central. A queda afetou principalmente empresas, que tiveram 21,1% menos crédito.
Para as famílias, a redução nas concessões foi de 13,2%, segundo a série com ajuste sazonal, que retira peculiaridades do período, como número de dias úteis a mais ou a menos para facilitar a comparação.
Com o comércio fechado em razão de restrições impostas para tentar conter o avanço da Covid-19, novos empréstimos em modalidades ligadas ao varejo, como desconto de duplicatas e antecipação de recebíveis, tiveram quedas drásticas: 44,1% e 61,6% respectivamente.
Esses financiamentos dependem das vendas para gerar garantia. Já empréstimos para capital de giro, principalmente de curto prazo, registraram alta. A modalidade total cresceu 52,5% -com prazo menor de um ano, houve escalada de 101,2%.
"Esse comportamento das empresas demandando crédito por capital de giro reflete a necessidade de mais recursos em caixa para passarem pelo período de incerteza, que reduz faturamento", diz o chefe do departamento de estatísticas do BC, Fernando Rocha.
As medidas de isolamento social reduziram o consumo das famílias. Com isso, os gastos cartão de crédito também diminuíram 17,7% em abril. Na modalidade à vista, em que o cliente paga o total da fatura, a queda foi de 23,5%.
"É natural que haja diminuição na modalidade. As pessoas estão em casa e compram menos", diz Rocha. Em março, as pessoas utilizaram R$ 104,2 bilhões no cartão de crédito. Em abril, o valor caiu para R$ 85,7 bilhões, R$ 18,5 bilhões a menos.
Além disso, o uso de cheque especial diminuiu em 22%. A concessão de crédito consignado -descontado diretamente na folha de pagamento- reduziu 7,8%. Na modalidade, os bancos emprestaram 20,1% menos a trabalhadores do setor privado e 17,2% a servidores públicos.
Em contrapartida, houve aumento de 5,5% de novos créditos consignados para beneficiários do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).
Com a crise, os bancos preferem emprestar para empresas com risco baixo de inadimplência, que, em geral, são as maiores. Quando o risco é menor, os juros cobrados também ficam mais baixos.
A média das taxas para pessoas jurídicas caiu 0,7 ponto percentual no período (13% ao ano). Com recursos livres (sem direcionamento do governo), os juros ficaram em 15,75% ao ano, menor taxa da série histórica.
No acumulado do ano, comparado ao mesmo período do ano anterior, as concessões cresceram 13,2%, com alta de 24,2% para pessoas jurídicas e de 4% a pessoas físicas.
O saldo de crédito para micro, pequenas e médias empresas aumentou 0,2 ponto percentual, para grandes teve alta de 1,8 ponto e alcançou a marca de R$ 1 trilhão, maior da série histórica. Para as grandes companhias, o aumento no estoque foi de 9,5% nos primeiros quatro meses do ano.
O estoque de crédito para empresas menores teve elevação de 1,4%. O saldo total das micro, pequenas e médias ficou em 552 milhões, patamar longe do maior da série, de R$ 758,4 milhões em novembro de 2014.
Modalidades relacionadas ao comércio exterior também registraram queda. O financiamento às exportações diminuiu 44,5% e às importações, 32,6%. O ACC (Adiantamento sobre Contrato de Câmbio) diminuiu 55,6%.
"Houve aumento muito grande dessas linhas em março por conta da valorização do dólar. Por isso, há queda em abril, mas comparando com fevereiro as concessões ainda estão bem acima", avalia Rocha.
Empréstimos com recursos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) aumentaram 124,1% em abril (528% em capital de giro e 136% em financiamento de investimentos). Já o financiamento agroindustrial caiu 30,6%.
O setor de veículos é um dos mais afetados com a crise. As famílias pegaram menos empréstimos para comprar automóveis em abril, com queda de 50,7%. O financiamento imobiliário caiu 11,5%.
"A aquisição de veículos reflete efeito bem direto da conjuntura atual e indica adiamento na aquisição de bens duráveis em razão das incertezas do momento", pontua o técnico do BC.
O estoque de crédito ficou estável no mês, com R$ 3,6 trilhões. Houve expansão de 1,2% na carteira de pessoas jurídicas (saldo de R$1,6 trilhão) e redução de 0,9% de pessoas físicas (R$2 trilhões).
A taxa média de juros das operações contratadas em abril ficou em 21,5% ao ano, queda de 1,2 ponto percentual no mês e de 3,5 pontos percentuais em 12 meses.
O spread -diferença entre a taxa que os bancos pagam para captar recursos e a taxa cobrada em empréstimos- caiu 0,8 ponto percentual no mês e 1,6 ponto percentual nos últimos 12 meses.
Para as famílias, várias modalidades tiveram redução na taxa de juros, como cheque especial (-11,2 p.p.), cartão rotativo regular (-28,9 p.p.), cartão parcelado (-38,5 p.p.), crédito pessoal não consignado (-8,3 p.p.) e consignado (-0,9 p.p.).
"Vemos que já realmente um conjunto de instituições reduzindo taxas, então as reduções não são efeito de composição, mas efetivamente de corte", esclarece Rocha.
A inadimplência, atrasos superiores a 90 dias, ficou em 3,3%, aumento de apenas 0,1 ponto percentual em relação a março. Os calotes ficaram em 4% (+0,1 p.p.) entre as famílias e 2,3% entre empresas (+0,2 p.p.).
"Em épocas de crise vemos aumento na inadimplência e em períodos de expansão [da atividade econômica], redução", afirma Fernando Rocha.
Empresas com atrasos entre 15 e 90 dias tiveram salto de 1,23 ponto percentual no mês e somaram 3,03% em abril. "Não necessariamente esse atraso vira inadimplência de fato no futuro. Há muito diálogo entre banco e cliente para se chegar em um acordo", pondera Rocha.
Entre as famílias, no entanto, os atrasos diminuíram 1,04 ponto percentual, com 4,94% em abril.
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