O aumento da taxa básica de juros anunciada nesta quarta-feira (4) deve impulsionar um ajuste para cima nos juros cobrados da ponta consumidora ao longo dos próximos meses.
A tendência de alta deve ser vista nos quatro maiores bancos de capital aberto do país (Banco do Brasil, Bradesco, Itaú Unibanco e Santander).
Alguns efeitos já conseguem ser percebidos diante das recentes altas da Selic. Recentemente, por exemplo, o Itaú anunciou um aumento nos juros cobrados no financiamento imobiliário tradicional, de a partir de 6,9% ao ano + TR (taxa referencial, atualmente zerada), para taxas a partir 7,3% ao ano + TR.
Antes dele, Bradesco e Santander já haviam feito anúncios semelhantes de aumento nos juros do crédito imobiliário.
"A partir do momento em que a Selic sobe é natural que [esse aumento] seja repassado às operações de crédito. Não tem como isso ser evitado", disse o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari em entrevistas a jornalistas para falar sobre os resultados do banco no segundo trimestre.
Na quarta-feira (4), o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central elevou a taxa básica em 1 p.p. (ponto percentual), para 5,25% e sinalizou pelo menos mais um aumento na mesma dimensão para a próxima reunião.
O último relatório Focus aponta que a estimativa é a de uma Selic em 7% ao ano ao final de 2021, mas analistas de mercado afirmaram que essa sinalização de um aumento mais robusto da taxa já inclinou a curva de juros futuros para cima e que, a depender do resultado das próximas reuniões, essa expectativa para a taxa básica pode subir.
A alta esperada na média das taxas de juros também considera as perspectivas de retomada da economia, que devem promover um volume maior de concessões de crédito em linhas com menos garantias -como crédito pessoal e cartão de crédito.
Segundo o vice-presidente de gestão financeira, meios de pagamentos e de relações com investidores do Banco do Brasil, José Ricardo Fagonde Forni, apesar da expectativa de alta dos juros, há uma maior competitividade no sistema financeiro que precisa ser considerada.
"Todo o mercado deve reprecificar seus produtos de certa maneira e nós vamos acompanhar esse movimento. Mas é lógico que em muitos segmentos de alta competitividade, o repasse dessa elevação vai precisar ser dentro do possível para manter a competitividade e buscar o crescimento da carteira de crédito", afirmou.
Cálculos do professor da Saint Paul Escola de Negócios e especialista em crédito Maurício Godoi, trouxeram a estimativa de um aumento entre 3 e 3,5 pontos percentuais na média das taxas de juros tanto para pessoas físicas quanto para empresas até o início do segundo trimestre do ano que vem.
No último relatório de crédito do Banco Central, as taxas médias para pessoas físicas estavam em 24,6% ao ano, enquanto os juros médios para pessoas jurídicas estavam em 12,4% ao ano.
Essa é uma média entre os juros de todas as linhas de crédito livre disponíveis no sistema financeiro. Isso significa que considera desde as taxas do consignado (18,7% ao ano) até os juros do cheque especial (125,6% ao ano), por exemplo. Assim, o aumento dos juros não tende a ser proporcional entre as linhas.
"Teremos duas operações distintas [de retomada no crédito]. De um lado, considerando que a economia já começa a se recuperar, teremos aquele que vai fazer compras e consumir por meio do cartão, por exemplo, ou fazer a troca de carro ou a compra de um imóvel", afirmou Godoi.
"De outro, ainda temos muita gente procurando emprego ou com redução de salário, sem contar os efeitos da inflação na renda do consumidor. Isso também pode trazer um aumento na busca de recursos para o pagamento de dívidas", completou.
O maior volume de concessões de recursos somado às taxas mais altas também podem implicar em um eventual aumento da inadimplência.
Segundo o presidente do Itaú Unibanco, Milton Maluhy, isso tende a refletir no balanço dos bancos em forma de custo de crédito, que é o quanto o banco gasta para emprestar --considera reservas contra calotes e desvalorização de ativos (impairment), por exemplo.
"Além disso, é preciso considerar que ainda vivemos um ambiente controlado, de auxílio emergencial e que uma eventual redução desse subsídio pode pressionar a inadimplência do período", afirmou.
"Assim, em termos de custo de crédito sobre a carteira, ainda devemos ter algum aumento neste ano. Mas é algo que já deve se estabilizar em 2022, abaixo dos níveis pré-crise", completou Maluhy.
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