O aumento de saques em espécie, a redução no volume de depósitos e compras no comércio e o pagamento de auxílios a um quarto de toda a população brasileira levaram o Banco Central a ampliar a quantidade de papel-moeda em circulação para o maior patamar da história do real. Em apenas dois meses desde a declaração de pandemia pelo novo coronavírus, o BC colocou na rua mais R$ 52 bilhões em cédulas, o que levou o dinheiro em circulação no país à marca de R$ 311,5 bilhões, segundo dados de terça-feira (12).
Não se trata, neste caso, de emissão de dinheiro novo ou expansão da oferta de moeda na economia como um todo (com aumento de reservas bancárias, por exemplo), como tem sido defendido por uma ala de economistas como saída para financiar os gastos da crise.
A ação significa uma ampliação do uso de cédulas impressas para fazer frente à maior demanda de brasileiros por "dinheiro na mão" diante da quebra no percurso das notas em papel durante a crise e das dificuldades de parcelas da população em usar canais digitais de pagamento.
Em momentos de normalidade, os cidadãos que sacam o dinheiro em cédulas vão ao longo do mês gastando esses recursos no comércio em geral ou em lotéricas e agências bancárias com o pagamento de contas. Ou seja, o dinheiro impresso aos poucos retorna para o sistema bancário.
O BC adotou medidas para ampliar a oferta de recursos para os bancos num momento de forte crise e garantir a solidez do sistema financeiro. Mas, com a pandemia e o fechamento do comércio, a instituição passou a observar um "entesouramento" do dinheiro em papel-moeda.
"O BC entende que o entesouramento pode ser consequência de três fatores: saques por pessoas e empresas para formação de reservas, diminuição do volume de compras no comércio em geral e porque parcela considerável dos valores pagos em espécie aos beneficiários dos auxílios ainda não retornou ao sistema bancário", disse o banco.
Nas últimas semanas, brasileiros protagonizaram filas em frente às agências da Caixa para sacar os recursos do auxílio emergencial de R$ 600.
No início de abril, reportagem do Estadão/Broadcast já havia mostrado a preocupação de especialistas com a maior oferta de cédulas impressas. Segundo o sociólogo Luis Henrique Paiva, ex-secretário Nacional de Renda de Cidadania e hoje pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica (Ipea), 70% dos beneficiários do Bolsa Família não têm conta e sacam o benefício em dinheiro. O valor médio do saque, que não chegava a R$ 200 por família, será triplicado por três meses.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou pandemia de coronavírus em 11 de março, data em que o dinheiro em circulação estava em R$ 259,5 bilhões. Em 1º de abril, o valor ainda estava próximo, em R$ 261,5 bilhões.
A partir daí, em meio às discussões do governo para formular políticas de auxílio à população, o aumento se tornou mais expressivo e se acentuou no fim do mês passado, quando os brasileiros começaram a sacar os recursos do auxílio emergencial. Nos últimos dias de abril, o BC fez uma consulta à Casa da Moeda sobre a possibilidade de antecipar a entrega de cédulas já contratadas para construir "estoques de segurança", como revelou a agência Reuters.
"Até o momento, os estoques de numerário foram suficientes para atender à demanda", informou a instituição. A Casa da Moeda não respondeu às questões da reportagem.
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