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BC corta pela metade projeção para PIB de 2022 e agora espera alta de 1%

BC corta pela metade projeção para PIB de 2022 e agora espera alta de 1%

A estimativa do BC está acima das projeções do mercado. Nos últimos meses economistas têm reduzido as expectativas para o desempenho da economia no próximo ano

Publicado em 16 de dezembro de 2021 às 17:46

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Inflação
Além da inflação, as instituições financeiras também ajustaram as previsões para o PIB e o Dólar. (Pixabay)

O Banco Central revisou para baixo sua projeção para o PIB (Produto Interno Bruto) de 2022 nesta quinta-feira (16). De acordo com o relatório trimestral de inflação, a autoridade monetária espera que a atividade cresça 1% no período.

No documento anterior, de setembro, a previsão era de elevação de 2,1%.

A estimativa do BC está acima das projeções do mercado. Nos últimos meses economistas têm reduzido as expectativas para o desempenho da economia no próximo ano.

Com a deterioração do cenário econômico e aumento do risco fiscal, instituições financeiras e casas de análise esperam alta de 0,5% no PIB de 2022, segundo o relatório Focus desta semana. Há um mês a expectativa era de 0,93%.

O BC justificou que surpresas negativas em dados recentes sugerem desaceleração da atividade no próximo ano. Além disso, a autarquia atribuiu à piora da projeção o aumento da inflação e o do risco fiscal.

Para este ano, o BC espera crescimento de 4,4%, abaixo dos 4,7% projetados no documento de setembro.

"Corroborando a evolução menos favorável da atividade, os indicadores de confiança de empresários e consumidores, particularmente relevantes para entender a atividade ao longo do trimestre corrente, recuaram nos últimos meses. Dessa forma, o resultado abaixo do esperado no terceiro trimestre e a piora nos prognósticos para o quarto reduzem a projeção de crescimento para 2021 e o carregamento estatístico para 2022", afirmou o BC.

"Agropecuária pesa para o outro lado. Como caiu em 2021, a contribuição para 2022 sobe e há uma perspectiva de safras melhores em 2022. Isso ajuda o PIB e explica parte da diferença do nosso dado com o Focus", ressaltou o diretor de Política Econômica, Fabio Kanczuk.

Ele pondera, entretanto, que há um aperto relevante nas condições financeiras, causado por fatores como parte longa da curva de juros, depreciação cambial e aumento do risco-país. "Isso implica em crescimento menor, explica boa parte de porque revisamos o nosso PIB para 2022", disse.

Para a política monetária, Kanczuk ponderou que as condições financeiras têm efeitos diferentes em países emergentes e economias avançadas. "Em economias desenvolvidas condições apertadas significam inflação menor. No Brasil e nos emergentes, são ligados ao risco fiscal", destacou.

Em seu ponto de vista, o cenário pode até se traduzir em elevação da inflação nesses países. "As implicações para a política monetária [nos emergentes] são bem mais ambíguas, para dizer o mínimo", pontuou.

Para a inflação, Banco Central o manteve a probabilidade de 100% de estouro do teto da meta definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) de 3,75% para 2021, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo. Dessa forma, o indicador não poderia ultrapassar 5,25%.

A projeção do BC no cenário central é de 10,2%, quase o dobro do máximo permitido.

Para a autarquia, a inflação acumulada em 12 meses deve recuar para 9,9% em fevereiro. O BC espera alta de 1,18% em novembro e de 0,65% em dezembro. Para janeiro e fevereiro, a projeção é de crescimento de 0,15% e 0,66%, respectivamente.

"O recuo projetado da inflação para o próximo trimestre se justifica pela queda substancial esperada nos preços de combustíveis, principalmente em janeiro. Nesse mês também se espera recuo acentuado dos preços de passagem aérea. Para os demais componentes a projeção é, em geral, de persistência das pressões inflacionárias", avalia o BC.

Para 2022, segundo o relatório, a chance de a inflação estourar o teto é de 41%. A meta para o ano é de 3,5%, com tolerância de 1,5 ponto percentual (até 5%). A projeção central do BC é de 4,7%.

No relatório anterior a probabilidade de ultrapassar o limite máximo era de 17%. No pior cenário simulado pela autarquia, os preços podem acelerar até 5,6% no próximo ano, 0,6 ponto percentual acima do teto da meta definida pelo CMN.

O BC diz que a inflação de 2021 ficou acima do esperado e se propagou para os anos seguintes via inércia (quando o número atual afeta os dados futuros). Houve também aumento das expectativas do mercado para o indicador.

No relatório, o BC aumentou também a estimativa de juros neutros utilizados em seus modelos, que passou de 3% para 3,5% em termos reais (descontada a inflação). A taxa serve como métrica para o nível da Selic que, acima, se torna contracionista -ou desaquece a economia- e, abaixo se torna expansionista, estimulando a atividade.

Além disso, a depreciação cambial e o aumento da taxa de juros neutra justificam a revisão para cima das projeções do BC para a inflação, segundo o relatório.

Ao ser questionado sobre o ciclo de alta de juros em meio à desaceleração da economia e desemprego alto, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, reiterou que o compromisso da autarquia é com o controle de inflação, e afirmou que isso tem efeitos positivos em outros indicadores.

Para ele, o país ainda convive com memória inflacionária muito recente.

"A gente entende que a ancoragem da inflação é o elemento mais importante para estabilizar o crescimento de longo prazo e a parte fiscal. Sim, teremos elevação de juros com crescimento na margem que não é muito elevado, mas entendemos que isso foi feito de forma a ter credibilidade e transparência, esse é o melhor remédio para maximizar as condições ideais de crescimento futuro", disse.

Na semana passada, o Copom elevou a taxa básica novamente em 1,5 ponto percentual, a 9,25% ao ano. No comunicado, o BC indicou nova alta de mesma magnitude para próxima reunião, em fevereiro, para 10,75% ao ano.

O ciclo atual de alta da taxa básica é o mais agressivo desde 2002, com elevações bruscas, e é o que terá maior diferença entre a taxa inicial e a final desde a criação do sistema de metas para inflação, em 1999.

O BC revisou ainda as projeções para o crescimento do crédito em 2021 e 2022. Neste ano, a expectativa da autarquia é de crescimento de 14,6%, ante 12,6% no relatório de setembro. Para o próximo ano, a autoridade monetária espera alta de 9,4% nos empréstimos (contra 8,5% do documento anterior.

"Essa revisão decorreu de surpresas positivas nos últimos três meses nos saldos nominais de pessoa física e jurídica e do impacto do aumento na inflação esperada para o final do ano", destacou o relatório.

"Entre os empréstimos às famílias com recursos livres destacam-se as modalidades de cartão de crédito e de crédito pessoal não consignado. No crédito direcionado a pessoas físicas, os financiamentos imobiliários em patamar elevado continuaram impulsionando o saldo", pontuou o BC.

De acordo com o texto, o crédito rural também surpreendeu pelo aumento significativo nas concessões ao longo do ano, especialmente em linhas ligadas às commodities e dos insumos agrícolas.

"No crédito para empresas, observa-se nos últimos meses maior expansão das linhas de desconto de recebíveis e de crédito rotativo. Como esperado, o crescimento do saldo de crédito direcionado a pessoas jurídicas continua exibindo relevante desaceleração", ressaltou.

No relatório, o BC ajustou a projeção para as contas externas. Em relação ao último relatório, houve aumento na expectativa de deficit em conta corrente para 2021, que passou de US$ 21 bilhões (R$ 119,9 bi) para US$ 30 bilhões (R$ 171,3 bi).

"A revisão reflete, principalmente, a expectativa de menor saldo da balança comercial, com aumento das importações", disse a autoridade monetária.

O deficit esperado para as transações correntes em 2022 também aumentou em relação ao documento anterior, de US$ 14 bilhões (R$ 79,9 bi) para US$ 21 bilhões, em razão da expectativa de saldo comercial menor.

"A piora no valor esperado para as exportações reflete a recente deterioração nos preços de minério de ferro e petróleo", justificou o BC.

Os investimentos diretos no país também tiveram piora na projeção. Agora, o BC espera ingresso de US$ 52 bilhões na modalidade em 2021 e de US$ 55 bilhões em 2022. Antes, o BC estimava ingresso de US$ 55 bilhões e US$ 60 bilhões, respectivamente.

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