A projeção do Banco Central (BC) para o saldo das contas externas neste ano passou de um déficit de US$ 21 bilhões para um déficit de US$ 30 bilhões. O resultado corresponde a 1,8% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todos os bens e serviços produzidos no país) e reflete, principalmente, a expectativa de menor saldo da balança comercial, com aumento das importações, de US$ 239 bilhões para US$ 249 bilhões em 2021.
A previsão das transações correntes, que são as compras e vendas de mercadorias e serviços e transferências de renda do Brasil com outros países, está no Relatório de Inflação, publicação trimestral do BC, divulgado nesta quinta-feira (16). No documento, o órgão reduziu a estimativa de crescimento da economia de 4,7% para 4,4% em relação ao relatório anterior, de setembro.
Segundo o BC, o aumento no valor projetado para as importações está associado a surpresas no crescimento dos preços dos bens importados. “A dificuldade das cadeias de suprimento globais em atender à demanda tem apresentado duração maior que a esperada anteriormente, com impacto nos preços. As surpresas altistas no valor importado estão razoavelmente disseminadas nos bens intermediários, com destaque para fertilizantes, cujos preços exibem alta acentuada nos últimos meses. A importação de combustíveis também segue em ritmo forte, em ambiente de crise hídrica doméstica e preços internacionais elevados”, diz o relatório.
Nas exportações, manteve-se a previsão de valor recorde, de US$ 282 bilhões para US$ 284 bilhões. A revisão reflete o patamar ainda elevado dos preços das commodities no ano, apesar de retração no preço de alguns produtos nos últimos meses, em especial do minério de ferro. “Houve novamente ligeira melhora no cenário para as vendas internacionais de produtos manufaturados, que devem terminar o ano em patamar semelhante ao de 2019, com destaque para óleos combustíveis. As exportações de semimanufaturados também apontam para valor elevado em 2021, com destaque para os preços dos produtos de ferro e aço”, explicou o BC.
Na conta de serviços, houve manutenção da projeção de déficit de US$ 17 bilhões, abaixo dos níveis pré-pandemia, resultado de retorno lento das viagens internacionais. O BC destaca ainda as menores despesas com aluguel de equipamentos no setor de petróleo, consequência da nacionalização de plataformas de petróleo no âmbito do Repetro, que é o regime que suspende a cobrança de tributos federais de exportação e importação de bens para pesquisa e lavra de jazidas de petróleo e gás natural, principalmente as plataformas de exploração.
“Na renda primária, a melhora da lucratividade das empresas refletiu-se nas despesas líquidas de lucros e dividendos, também impactadas pela incorporação de informações mais recentes na revisão ordinária anual das estatísticas do setor externo”, diz o BC. Com isso, houve ligeiro aumento no déficit esperado, de US$ 49 bilhões para US$ 51 bilhões.
No caso de um país registrar saldo negativo em transações correntes, ele precisa cobrir o déficit com investimentos ou empréstimos no exterior. A melhor forma de financiamento do saldo negativo é o Investimento Direto no País (IDP), porque os recursos são aplicados no setor produtivo.
A projeção para os ingressos líquidos de IDP foi reduzida de US$ 55 bilhões para US$ 52 bilhões (3,2% do PIB) em 2021. Em 2020, foram registrados US$ 34,2 bilhões (2,38% do PIB) de investimentos externos no Brasil.
“Apesar da recuperação na participação de capital estar em linha com o previsto, as amortizações das operações intercompanhia [por exemplo, quando a matriz no exterior investe na filial no Brasil] têm sido maiores do que previamente esperado”, explicou o BC.
Para os investimentos em carteira, manteve-se a projeção para o ano, de US$ 21 bilhões, que deve registrar entradas líquidas pela primeira vez desde 2015.
“O aumento do diferencial de juros do Brasil em relação às economias avançadas aumenta a atratividade dos instrumentos de dívida locais, atraindo fluxos estrangeiros para títulos emitidos no país. Por outro lado, o investimento estrangeiro em ações de empresas brasileiras tem diminuído nos últimos meses, possivelmente impactado pelas incertezas fiscais [controle das contas públicas] e pela queda recente dos preços das commodities”, diz o relatório.
O déficit esperado para as transações correntes em 2022 aumentou em relação ao relatório anterior, de US$ 14 bilhões para US$ 21 bilhões (1,3% do PIB), também pela expectativa de saldo comercial menor. “A piora no valor esperado para as exportações [de US$ 289 bilhões para US$ 276 bilhões] reflete a recente deterioração nos preços de minério de ferro e petróleo. A perspectiva de volume embarcado desses dois produtos também foi reduzida, em linha com expectativas menores de produção doméstica”, explicou o BC.
Para as importações, o recuo da projeção, de US$ 229 bilhões para US$ 225 bilhões, reflete, principalmente, atividade doméstica mais fraca do que esperado anteriormente. Ainda no âmbito das importações, a perspectiva é de que, diferentemente de 2021, não haverá valores expressivos de operações no âmbito do Repetro em 2022.
Na conta de serviços, houve manutenção da projeção presente no relatório anterior, de US$ 26 bilhões. “O aumento do déficit esperado em relação a 2021 reflete a retirada gradual das restrições às viagens internacionais, com impacto nas contas de viagens e transporte de passageiros. Todavia, devido aos riscos associados à covid-19, essas contas ainda devem apresentar, na média do ano, patamar inferior ao pré-pandemia”.
Na conta de renda primária, espera-se resultado semelhante ao de 2021, em torno de US$ 50 bilhões. As despesas com juros devem ser ligeiramente maiores do que se esperava, resultado do aumento do custo de financiamento e de condições financeiras mais restritivas no Brasil. “A projeção das despesas líquidas com lucros foi marginalmente revisada para baixo, dado o cenário menos favorável para as commodities e para a atividade doméstica”, acrescentou o BC.
Entre os principais passivos da conta financeira, manteve-se a projeção de ligeiro aumento do IDP em relação a 2021. Nesse cenário, o IDP medido como porcentagem do PIB se situa próximo à sua média histórica: 3,2% em 2021 e 3,3% em 2022.
“A evolução da pauta de privatizações e concessões pode contribuir para os fluxos de participação no capital, que devem ganhar importância no total do IDP. Para os investimentos em carteira houve redução na projeção de entradas líquidas, em linha com elevado nível atual de incerteza econômica doméstica. Por outro lado, o diferencial de juros deve continuar sendo o principal fator de atração de capital para os títulos no país, ainda que mitigado à medida que decorre o processo de normalização monetária nas economias avançadas”, diz o relatório.
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