SÃO PAULO - O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central subiu o tom nesta terça-feira (6) ao enfatizar os impactos de variáveis nacionais sobre os preços dos ativos e as expectativas da inflação, além de reforçar o cenário externo adverso e incerto.
Em ata da última reunião de juros da autarquia, o comitê disse que pode subir os juros se achar que é necessário. O documento destaca que essa é uma decisão de todos os membros do comitê, incluindo os diretores indicados pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"O comitê, unanimemente, reforçou que não hesitará em elevar a taxa de juros para assegurar a convergência da inflação à meta se julgar apropriado", diz. Segundo o documento, essa é uma das estratégias que passam a ser estudadas, caso a manutenção dos juros no patamar atual não seja suficiente para a perseguição da meta da inflação.
Na última quarta-feira (31), os membros do comitê decidiram unanimemente manter a taxa básica de juros, a Selic, no patamar de 10,5% ao ano pela segunda vez consecutiva.
Segundo o documento publicado nesta terça, as expectativas para a inflação apresentaram desancoragem adicional desde a reunião de juros anterior, que ocorreu em junho.
Por isso, o comitê reforçou que a política monetária deve se manter contracionista "por tempo suficiente em patamar que consolide não apenas o processo de desinflação, como também a ancoragem das expectativas em torno da meta".
Apesar da desaceleração da inflação, o Copom ressaltou que esse processo tem perdido força, com um cenário divergindo do previsto anteriormente. No ambiente doméstico, o comitê cita o mercado de trabalho e a atividade econômica, que têm surpreendido para cima.
"O dinamismo de indicadores de mais alta frequência, como de comércio e serviços, reforça o diagnóstico de resiliência da atividade doméstica e sustentação do consumo ao longo do tempo, em contraste com o cenário de desaceleração gradual originalmente antecipado pelo comitê", diz a ata.
"Com relação ao mercado de trabalho, ressaltou-se que o nível de ocupação, a taxa de desocupação e a renda vêm sistematicamente surpreendendo", completa.
O cenário externo, por sua vez, mantém-se adverso, segundo a autarquia, diante da incerteza sobre os impactos e a extensão da flexibilização monetária nos Estados Unidos.
"A menor sincronia nos ciclos de queda dos juros, já iniciados em alguns países avançados e ainda por iniciar em outros, contribui para a volatilidade de variáveis de mercado. Além disso, observou-se que as autoridades monetárias têm indicado ciclos cautelosos, com impactos correspondentes na precificação dos ativos financeiros", diz a ata.
Ao longo do documento, o Banco Central reforçou as projeções, que pioraram, e os riscos mais elevados para a alta da inflação. E mais uma vez destacou que é preciso cautela na política monetária para um acompanhamento "diligente do desenrolar do cenário".
Nas projeções de inflação do Copom, a inflação fechará 2024 em 4,2% e irá para 3,6% em 2025. Em um cenário alternativo, no qual a taxa Selic é mantida constante ao longo do horizonte relevante, que é o primeiro trimestre de 2026, as projeções de inflação situam-se em 4,2% para 2024 e 3,4% para 2025.
A ata deu uma ênfase maior na questão fiscal em relação ao documento publicado em junho. "O comitê monitora com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros", diz o texto.
"Ademais, notou-se que a percepção mais recente dos agentes de mercado sobre o crescimento dos gastos públicos e a sustentabilidade do arcabouço fiscal vigente, junto com outros fatores, vem tendo impactos relevantes sobre os preços de ativos e as expectativas", completa.
Segundo o documento, há uma visão do comitê de que o esmorecimento no esforço de realizar reformas estruturais e de disciplina fiscal, além do aumento do crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública, em conjunto, têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra, "com impactos deletérios sobre a potência da política monetária e, consequentemente, sobre o custo de desinflação em termos de atividade.
A taxa de juros neutra é aquela que não estimula a economia, mas também não causa desestímulos econômicos. Por ser uma variável "não observável", há grande incerteza em sua definição.
O Copom disse que todos os membros concordaram que há mais riscos para cima na inflação, com vários membros enfatizando a assimetria do balanço de riscos.
Entre os riscos de alta estão a "desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado"; "maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado [diferença entre o crescimento econômico potencial e o efetivo]; e" uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada".
Entre os riscos de baixa, o BC ressalta "uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada"; e "os impactos do aperto monetário sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado".
A inflação oficial do Brasil, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), é importante para as decisões de juros do país. O centro da meta perseguida pelo Banco Central é de 3% no acumulado de 2024.
A tolerância é de 1,5 ponto percentual para menos (1,5%) ou para mais (4,5%). Assim, a meta será cumprida se o IPCA ficar dentro do intervalo de 1,5% a 4,5% nos 12 meses até dezembro.
Atualmente, a inflação brasileira acumula elevação de 4,23% em 12 meses.
O mercado projeta que o IPCA encerre 2024 a 4,12%, segundo a mais recente edição do Boletim Focus divulgada pelo BC na segunda-feira (5), e que elevou novamente a expectativa de aceleração da inflação neste ano. O documento reúne as projeções de economistas para os principais indicadores econômicos do país.
Em relação à Selic, também, o documento mostrou que o mercado elevou a expectativa de juros ao final do próximo ano, de 9,5% para 9,75%. Para este ano, o Focus manteve a projeção, pela sétima vez consecutiva, de Selic a 10,5%
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