O Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Santander são os líderes da nova edição do ranking socioambiental de instituições financeiras feito pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) em parceria com instituições internacionais. O relatório, a ser divulgado nesta terça (9), mostra avanço geral das nove instituições financeiras avaliadas em relação à última edição. No entanto, a média local ainda é ruim, diz Gustavo Pereira de Melo e Souza, pesquisador do Idec e um dos autores do estudo. "O cenário é de melhora gradual e muito lenta."
O guia joga luz em pontos sensíveis e que ganharam os holofotes por conta da pandemia, com a temática ESG (meio ambiente, sociedade e governança, na sigla em inglês) se tornando pauta obrigatória. Dentre os achados da atual edição está o fato de que a maioria dos bancos não tem mulheres em seus conselhos e falham na equidade de gênero em suas equipes, a falta de políticas voltadas a reduzir de fato as mudanças climáticas e a transparência limitada sobre políticas de financiamento ao setor de armas.
Segundo o pesquisador do Idec, todos os bancos tiveram evolução em relação a 2018: as exceções foram dois bancos públicos, o líder BNDES e a Caixa Econômica Federal, 6.ª colocada. Entre todos os bancos pesquisados, o maior avanço foi o do BTG Pactual, que saiu da lanterna para a sétima colocação. O salto de 0,6 ponto porcentual da instituição, aponta Melo e Souza, foi reflexo da adoção dos Princípios do Equador para a seleção de projetos de crédito.
Os bancos foram selecionados por serem os maiores em ativos totais. Juntos, representam 78% dos ativos e 80% da carteira de crédito de conglomerados financeiros. Para realizar o guia, além da coleta de informações públicas, foram enviados questionários às instituições. A avaliação se estendeu de maio de 2020 a janeiro de 2021. O ranking é realizado em parceria com a Conectas Direitos Humanos, o Instituto Sou da Paz e a Proteção Animal Mundial.
Entre os pontos positivos para os bancos brasileiros, segundo o Idec, está a adesão dos bancos analisados ao Global Reporting Initiative (GRI), com diretrizes para a elaboração de relatórios de sustentabilidade, além de produtos financeiros que visam a redução de gases do efeito estufa. Por outro lado, apenas Santander e Safra têm políticas sobre financiamento de armas. De forma geral, faltam políticas entre os bancos de inclusão da população LGBTQI+ e de pessoas com deficiência.
A paridade de gênero nas instituições, de maneira geral, é considerada ruim. Pesou contra o fato de a representatividade feminina nas diretorias não chegar a 30% em nenhum dos avaliados. Além disso, a maioria não informa quantos de seus diretores ou superintendentes são negros. Por fim, mais da metade dos bancos sequer publica políticas específicas para crédito a setores que têm forte impacto no ambiente, como petróleo e mineração.
Procurada, a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) disse que o setor bancário, nos últimos anos, lançou diversas iniciativas voltadas à sustentabilidade. A entidade destacou que estabeleceu diálogo com o Idec para ampliar engajamento nos próximo guias. O BNDES disse ter "grande satisfação" em ser o banco mais bem avaliado no estudo, mas frisou que ainda vê espaço para melhorar suas políticas.
O BB afirmou que "tem uma longa e sólida trajetória no tema e tem sido reconhecido continuamente por integrar a sustentabilidade na estratégia". O Bradesco disse que "tem como missão contribuir com o desenvolvimento sustentável" e com uma economia mais inclusiva. O BV diz ter criado um comitê de sustentabilidade, com participação de executivos e colaboradores, além de adotar uma nova estratégia ESG.
Os demais bancos não se pronunciaram.
Os bancos brasileiros ampliaram os cuidados com o meio ambiente, a sociedade e a governança, mas ainda estão aquém de práticas observadas no exterior. A nova edição do Guia dos Bancos Responsáveis, iniciativa presente em 13 países, liderada no Brasil pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), mostra que o desempenho médio dos nove bancos, numa escala de 0 a 10, ficou em 3,2. Ou seja: um resultado "32% responsável", pequeno avanço de 2 pontos porcentuais em relação ao levantamento de 2018.
Apesar de, em termos práticos, o avanço ser tímido, o Idec aponta que, em meio à pandemia, aumentou a cobrança de investidores estrangeiros em relação ao meio ambiente, em especial a Floresta Amazônica, e os bancos passaram a ser mais claros em relação ao assunto.
Se em 2018 esse tema era uma nota de rodapé, em 2020 virou prioridade. "Houve avanço, mas ainda insuficiente para melhora da nota. Os bancos dão muita ênfase às questões operacionais, como a diminuição do uso da energia e criação de novos produtos, mas que são pequenos dentro de toda a cadeia do banco", diz o pesquisador do Idec e um dos autores do estudo, Gustavo Pereira de Melo Souza.
Além do Brasil, foram analisados países como Bélgica, Alemanha, Índia, Indonésia, Japão, Tailândia, Vietnã, Filipinas e Camboja, Holanda, Suécia e Noruega, com apenas os últimos três com notas acima de 5.
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