O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vendeu nesta terça (4) R$ 8,3 bilhões em ações da Vale. A operação foi realizada por meio de leilão na Bolsa de Valores e marca a retomada do processo de redução da carteira de ações do banco, uma das prioridades da gestão Gustavo Montezano.
No leilão, realizado pela manhã, foram vendidas 137,6 milhões de ações da mineradora, o equivalente a 2,6% do capital total da companhia. Após a operação, o BNDES permanece com 3,7% do capital. Para evitar impactos nos preços, o banco se comprometeu a não vender novas ações da empresa por um prazo de pelo menos 90 dias.
O BNDES não comentou a operação. No mercado, a avaliação é que a recuperação dos preços da Vale após o relaxamento das medidas de isolamento social, principalmente na China, abriu uma janela de oportunidades para dar seguimento à estratégia de se desfazer dos papéis.
Na semana passada, a Vale divulgou lucro de R$ 5,3 bilhões no segundo trimestre, desempenho provocado pela elevada demanda do mercado chinês, que impulsionou os preços do minério de ferro. Com lucro acumulado de R$ 6,2 bilhões em 2020, a mineradora decidiu ainda retomar sua política de distribuição de dividendos, que estava suspensa desde a tragédia de Brumadinho.
O preço das ações da empresa quase dobrou desde o piso de R$ 34,10 atingido no dia 23 de março, quando as Bolsas precificavam a tomada de medidas de isolamento pela Europa e pelas Américas. Na segunda (3), os papéis encerraram o pregão a R$ 60,26.
Por volta das 14h20, as ações operavam em leve queda, ao redor dos R$ 60. Na mínima da sessão, foram cotadas a R$ 59,36.
O processo de leilão em bloco, como foi feita a venda desta terça, é mais simples que o de follow-on (oferta subsequente de ações), instrumento que vinha sendo usado até então para desinvestimento.
No block trade, a empresa contrata um intermediário que é responsável por encontrar investidores interessados no papel. A venda ocorre quando há interesse pelo pacote todo de ações ofertadas e isso ocorre por leilão, para evitar que o grande volume de ações ofertado desvalorize demais a companhia.
Já o follow-on é semelhante a uma abertura de capital, que demanda o cumprimento de regras de oferta pública estabelecidas pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários).
A redução da carteira de ações do BNDES foi uma dos compromissos assumidos por Montezano quando chegou ao banco, em julho de 2019, para substituir Joaquim Levy. No ano passado, o banco se desfez de papéis da Fibria/Suzano, Petrobras, Eletropaulo e Vale, levantando R$ 16,5 bilhões.
Em fevereiro, pouco antes da pandemia, promoveu a maior oferta pública de ações no Brasil em dez anos, ao vender por R$ 22 bilhões quase 10% das ações da Petrobras. Ao fim do primeiro trimestre, a carteira do banco, que ainda tem participação relevante da petroleira estatal, somava R$ 72,5 bilhões.
Montezano defende que o tamanho da carteira de ações gera riscos ao BNDES ao deixar as finanças do banco mais sujeitas às volatilidades do mercado financeiro. No primeiro trimestre, por exemplo, os efeitos nas bolsas da pandemia derrubaram o valor da carteira em R$ 34,1 bilhões.
"Isso só reforça a importância dessa estratégia de desinvestimento da carteira de ações", disse o executivo na divulgação do balanço. Procurado, o BNDES ainda não comentou a operação desta terça.
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