Vindo de sua pior semana desde março e tendo emendado em outubro o terceiro mês de perdas, o Ibovespa chegou a mostrar menos ímpeto à tarde do que pela manhã, mas conseguiu fechar o Election Day nos EUA em alta de 2,16%, a 95.979,71 pontos, com ganhos em Nova York de até 2,06% (Dow Jones) no encerramento, após segunda-feira também positiva em Wall Street, que movimentou para cima os ADRs de empresas brasileiras.
Reforçado, o giro neste retorno de feriado ficou em R$ 31,8 bilhões na B3, com o Ibovespa saindo de mínima na abertura a 93 967,64 e chegando na máxima do dia, renovada perto do fechamento, a 96.350,23 pontos (+2,55%). Na Europa, Frankfurt (+2,55%) e Milão (+3,19%) fecharam nos picos da sessão, após série ruim em que os índices do velho continente estiveram pressionados por novas medidas de distanciamento social em resposta à segunda onda de covid-19.
"Os mercados reagiram positivamente ao Dia das Eleições, finalizado hoje, e saudaram positivamente o 'novo presidente americano', o que pode destravar a agenda de pacotes de estímulos nos EUA. Uma sinalização importante é que os eleitores democratas tendem a votar mais por correio", aponta em nota a Upside Investor Research. A consultoria política Eurasia avalia em 80% a chance de triunfo para Biden e, caso o democrata seja vitorioso na Flórida, Carolina do Norte ou Arizona, o resultado final pode ser conhecido ainda esta noite - uma rápida definição que seria muito bem-vinda para os investidores.
"Se Biden vencer ainda hoje, os mercados emergentes devem abrir bem amanhã. Por outro lado, quanto mais apertado for o resultado, especialmente em swing States estados que alternam preferência, maior a chance de judicialização. O mercado pareceu colocar no preço hoje uma onda azul, com vitória de Biden acompanhada por maioria democrata no Senado e na Câmara. Mas é preciso ter cautela", aponta Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos.
Como em 2000, o pior cenário envolve apuração prolongada e questionamentos judiciais, que tendem a atrasar definição do vencedor. Ainda assim, o mercado começou a se posicionar para vitória de Biden e reconfiguração de forças no Senado, que abriria caminho para mais estímulos após a materialização de "onda azul" - ou seja, ampla vitória democrata nas urnas, passando a contar o futuro presidente com maioria nas duas casas
Sanchez destaca fatores domésticos que contribuíram para que o Ibovespa buscasse desde cedo se ajustar à sequência positiva em Wall Street. "A ata melhorou muito a comunicação do BC, com diretrizes mais objetivas e opções muito mais claras, reduzindo a zero a chance de cortes adicionais (na Selic)", observa o economista-chefe da Ativa, chamando atenção também para a abordagem da questão fiscal no documento. "Desde ontem, com as declarações do Rodrigo Maia contra a prorrogação do auxílio emergencial e de estado de calamidade, já havia um sentimento mais positivo quanto ao fiscal", acrescenta.
"Não acredito que o mercado tenha embarcado em 'onda azul' - haveria mais motivos de preocupação do que para celebrar. O fato é que, com Trump, Wall Street triplicou de valor - o S&P 500 estava em 1.120 pontos naquela madrugada de 2016 em que surpreendeu e saiu vitorioso. Trump sofreu desgaste no último ano de mandato, mas não dá para esquecer o que foi feito antes. Não há definição, vai ser uma madrugada para passar acordado", diz Jefferson Laatus, estrategista-chefe do Grupo Laatus.
"Independente de quem vença, o pacote vai destravar, senão a economia apaga em momento no qual a Europa volta para a quarentena", acrescenta. "Por outro lado, para o Brasil, eventual vitória de Biden seria problemática especialmente em relação ao meio ambiente, com mais pressão internacional, coordenada a partir dos EUA, sobre a Amazônia", observa Laatus.
Nesta terça-feira, os ganhos se distribuíram bem na B3 por empresas e setores, como os de commodities (Petrobras ON +3,95% e PN +3,75%; Vale ON +4,61%, no pico do dia no fechamento), bancos (Bradesco PN +3,42%, Itaú PN +2,43%) e siderurgia (CSN +9,01%, maior alta do Ibovespa, e Gerdau PN +6,28%, segundo maior ganho do dia). Na ponta do índice da B3, além de CSN e Gerdau, destaque também para Usiminas (+6,24%). No lado oposto, CVC cedeu 3,26%, BR Malls, 2,94%, e Sul América, 2,50%.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta