Em dia de bom desempenho para empresas com receita em dólar e exposição à demanda externa, como as de commodities, siderurgia e parte dos frigoríficos, o Ibovespa retomou a linha de 115 mil pontos, atingindo seu melhor nível de fechamento desde o último dia 19 (116.221,58 pontos). Nesta segunda-feira, de máxima intradia a R$ 5,8067 e de fechamento a R$ 5,7663 (+0,44%) para o dólar à vista, o índice da B3 encerrou em alta de 0,56%, a 115.418,72 pontos, entre mínima de 114.095,70 e máxima de 115.552,84 pontos, com giro moderado, a R$ 25,7 bilhões.
Faltando duas sessões para o fim do mês, o Ibovespa acumula ganho de 4,89% em março, limitando as perdas do ano a 3,02%.
Após alerta sobre prejuízos em bancos estrangeiros, como Credit Suisse e Nomura, em razão de um fundo americano não ter cumprido compromissos, o desempenho misto do setor financeiro (Santander -2,93%, Bradesco ON +0,73%), o de maior peso no Ibovespa, foi o contraponto ao avanço dos segmentos de commodities (Vale ON +2,56%, Petrobras PN +1,58%) e siderurgia (CSN ON +3,67%), em dia de forte alta, de 4,08%, no minério de ferro em Qingdao (China), impulsionada por leitura acima do esperado para o lucro industrial chinês no primeiro bimestre, "o que reforça a expectativa de aumento da demanda em vista da forte atividade", observa Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora.
Destaque também para Minerva (+6,51%), segunda maior alta dentre os componentes do Ibovespa. No lado oposto, Eztec fechou em baixa de 3,04%, à frente de Santander (-2,93%), de Sul América (-2,81%) e de Cyrela (-2,58%). No pódio do dia, além de Minerva, Taesa (+6,37%) e Pão de Açúcar mais uma vez na ponta (+7,10%).
"Os papéis ligados ao mercado externo, com receita dolarizada, como os de commodities e parte dos frigoríficos, vêm performando muito bem, nessa aposta em ações com exposição a países com perspectiva de recuperação mais clara do que o Brasil. As empresas ligadas ao setor interno continuam sofrendo mais, como varejo e construção civil", diz Romero Oliveira, head de renda variável da Valor Investimentos, em Vitória.
"O foco do mercado continua no Orçamento, aprovado na semana passada: se pode ter burlado em alguma medida o teto de gastos, o que continua se refletindo em estresse nos DIs futuros, em prêmio de risco nos juros. A dúvida é se este orçamento será executado, foco do mercado daqui para frente. A política externa também ganhou atenção e, com a saída do [ministro] Ernesto Araújo [do Itamaraty], a expectativa é se haverá melhora de acesso a vacinas e insumos que chegam do exterior, a depender de quem será o escolhido para substituí-lo", acrescenta Oliveira.
Em outra baixa no governo, esta não antecipada, o ministro da Defesa, Fernando Azevedo, anunciou no período da tarde estar de saída do cargo com a "certeza da missão cumprida", em uma mudança de comando das Forças Armadas que teria ocorrido a pedido do presidente da República, Jair Bolsonaro, que teria como preferência para o cargo o general Braga Netto, atualmente na Casa Civil.
As incertezas sobre a política, em meio à mais recente dança de cadeiras em Brasília, contribuem para alimentar a expectativa por maior acomodação do Centrão no governo, em momento em que o fiscal continua no foco do mercado, após a controversa aprovação do Orçamento.
"No texto, despesas obrigatórias, como Previdência e folha de pagamento dos servidores públicos, estão subestimadas entre R$ 30 e 40 bilhões, aumentando muito a probabilidade de paralisação do governo (shutdown)", diz Paula Zogbi, analista da Rico Investimentos. Soluções "criativas" para o Orçamento de 2021, que pareceu incorporar emendas de parlamentares em detrimento de uma percepção realista sobre as necessidades de custeio, mantêm os investidores na defensiva, após a própria equipe econômica ter ventilado que a peça orçamentária seria "inexequível".
"As incertezas fiscais pesaram sobre o índice (Bovespa) na sessão de hoje, em função dos cortes realizados em despesas primárias obrigatórias e pelo crescimento de gastos em outras áreas, para viabilizar as emendas parlamentares propostas. Com isso, deputados federais de diversos partidos enviaram uma carta ao presidente Jair Bolsonaro solicitando informações sobre medidas para o cumprimento das regras fiscais, sem incorrer em crime de responsabilidade", observa Thayná Vieira, economista da Toro Investimentos.
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