Em dia sem catalisadores domésticos que o sustentassem na linha de 104 mil, o Ibovespa andou duas casas para trás em realização de lucros que se acentuou à tarde em Nova York, puxada pelo Nasdaq, que vem de sucessivas máximas históricas. Assim, o índice de referência da B3 fechou nesta quinta-feira, 23, em baixa de 1,91%, aos 102.293,31 pontos, não distante da mínima de 102.118,54, tendo chegado na máxima quase aos 105 mil pontos, a 104.949,40.
O giro financeiro totalizou R$ 29,0 bilhões e o Ibovespa passa a terreno negativo na semana (-0,58%), ainda avançando 7,61% no mês. No ano, volta a acumular perda de dois dígitos, agora a 11,55%. O nível de fechamento de hoje foi o menor desde o dia 16 de julho (100.553,27), com o Ibovespa tendo permanecido em terreno negativo nas últimas três sessões, algo não visto desde o intervalo entre 9 e 15 de junho, quando registrou quatro perdas sucessivas.
O ajuste foi bem distribuído na sessão, abrangendo commodities, bancos, siderúrgicas, varejo e telecom. Na ponta negativa do Ibovespa, TIM cedeu 8,43%, seguida por Via Varejo (-7,00%) em realização de lucros (+29,33% no mês e +77,26% no ano), Cogna (-6,82%), Cielo (-5,43%) e Magazine Luiza (-5,02%), outra ação de varejo com forte avanço no ano (+69,31%). "A Oi recebeu uma proposta de exclusividade para aquisição de seus ativos de telefonia por outra empresa, o que colocou a TIM entre as maiores quedas do dia, assim como a Cogna, com o lançamento do IPO da Vasta nos EUA vindo em uma faixa de preço inferior ao esperado por alguns analistas de mercado", aponta Cristiane Fensterseifer, analista de ações da Spiti.
Perdas mais moderadas foram observadas em blue chips como Petrobras PN (-2,08%) e ON (-1,15%), e Vale ON (-0,66%), em dia no qual chegaram a mesas de operações rumores de que o BNDES pode vender papéis da Petrobras, Suzano, Klabin e Vale. Entre os bancos, destaque hoje para queda de 2,41% em Banco do Brasil ON e, entre as siderúrgicas, para Gerdau Metalúrgica (-3,76%). À frente do Ibovespa na sessão, três empresas beneficiadas pelo avanço do dólar (+1,92%, a R$ 5,2138) conseguiram fechar o dia no azul: as exportadoras Suzano (+3,14%), JBS (+1,36%) e Klabin (+0,99%). Após dois dias na ponta de vendas, Qualicorp teve leve recuperação, em alta de 1,49% no fechamento.
"Não houve um driver novo e com a realização lá fora, acaba realizando aqui também, com a proximidade do fim de semana", diz Luiz Roberto Monteiro, operador da mesa institucional da Renascença. "O mercado subiu muito com a expectativa por vacina, que ainda não se sabe ao certo quanto estará disponível, provavelmente não neste ano. A volatilidade tende a aumentar a partir do exterior, com a eleição nos EUA, em que o Trump está muito atrás e deve continuar atacando a China. Aqui, andou muito e é preciso ver se os preços estão condizentes com o que as empresas apresentarão de resultados", acrescenta.
"A Bolsa cresceu em cima de transferência de recursos da renda fixa para a variável, mas chega uma hora em que precisará olhar os resultados trimestrais", observa Monteiro. "O mercado é feito de compra e venda, e com o Ibovespa a 104, 105 mil pontos, fica difícil continuar comprando."
Nos EUA, o Comitê Judiciário da Câmara dos Representantes confirmou que um painel antitruste vai ouvir os depoimentos de executivos da Amazon, Apple, Facebook e Google na próxima segunda-feira, dia 27, o que resultou em realização mais aguda nas ações de tecnologia no complemento da sessão. Nesta tarde, o site Axios informou que vários Estados americanos estão investigando a Apple por supostamente "enganar" consumidores. Segundo o site, o procurador-geral do Texas pode processar a empresa.
Mais cedo, a cautela predominava, ainda que moderadamente, com os dados semanais sobre pedidos iniciais de auxílio-desemprego nos EUA, acima da expectativa de consenso para o período e também da semana anterior, o que confirma a impressão de que a resiliência e o espalhamento do coronavírus ao sul e oeste do país cobrarão um preço econômico.
"O mercado já estava se preparando para uma leitura pior sobre o emprego nos EUA, que deve se refletir também no payroll deste mês. A recuperação de maio e início de junho foi prejudicada por esta segunda onda de coronavírus por lá, que cortou parte do que vinha reabrindo e sendo retomado no país", diz Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos. "Na China e Europa, a recuperação segue em curso, sem retomada do número de casos, e os mercados globais continuam com ampla liquidez, em ambiente de juro zero e busca por retorno. Aqui, a Bolsa continua em conformidade a este cenário externo. Enquanto não chacoalhar lá fora, não deve chacoalhar aqui", acrescenta.
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