O abrupto cancelamento do Renda Brasil em vídeo postado pelo presidente Jair Bolsonaro em rede social, acompanhado de invectivas e ameaça de "cartão vermelho" para quem contrariar sua orientação, recolocou o risco político na agenda, descolando o Ibovespa do bom humor externo em meio a nova série de dados econômicos favoráveis, especialmente na China, com produção industrial acima do esperado para agosto, e também nos EUA. O desdobramento surpreendeu na medida em que a equipe econômica começava a amadurecer proposta, mais uma vez rejeitada pelo presidente, irredutível quanto a compensações e ajustes impopulares.
Apesar do revés político, a reação tanto na B3 como em dólar e juros, e mesmo no CDS - em baixa na sessão -, foi relativamente tranquila a uma variável seguida tão de perto pelo mercado, por conta do efeito sobre as contas públicas, de um lado, e, de outro, pelo futuro programa de suporte à renda ser considerado vital à sustentação da atividade e do consumo no próximo ano, uma vez extinto o auxílio emergencial.
"Voltamos à estaca zero, mas é de se esperar que algo venha a ser colocado no lugar, e não deve ser o Bolsa Família", aponta o economista-chefe da Nova Futura, Pedro Paulo Silveira, observando que a opção do mercado hoje parece ter sido a de esperar para ver.
Assim, o principal índice da B3 sustentou viés levemente positivo entre o começo e o fim da tarde, tendo oscilado para o negativo em alguns momentos, afinal encerrando pouco acima da estabilidade (+0,02%), aos 100.297,91 pontos, saindo de mínima a 99.646,81 pontos e chegando na máxima aos 100.949,43 pontos, com abertura a 100.277,00.
O giro financeiro foi de R$ 24,4 bilhões, em linha com o observado no dia anterior (R$ 24,0 bilhões). Agora, o Ibovespa avança 1,97% na semana e 0,93% no mês, ainda cedendo 13,27% no ano.
Em entrevista no fim de semana, o secretário especial da Fazenda, Waldery Rodrigues, número 2 do Ministério da Economia, detalhou medidas em estudo, como o congelamento de aposentadorias e benefícios previdenciários por dois anos, para viabilizar o Renda Brasil.
Nesta terça, mostrando prints de notícias sobre compensações em estudo pela equipe econômica, como desvinculações e ajustes em benefícios como o BPC, Bolsonaro reiterou que não retirará dos pobres para dar aos muito pobres - e colocou um "ponto final" na discussão sobre o Renda Brasil. A presença de Waldery em uma entrevista coletiva nesta terça-feira foi cancelada e, ainda no início da tarde, o ministro da Economia, Paulo Guedes, aproveitou participação em evento virtual para dizer que não era o destinatário do "cartão vermelho".
O programa, que sucederia o auxílio emergencial a partir do ano que vem, foi declarado morto nesta terça pelo presidente, que acrescentou que o governo seguirá até 2022 com o Bolsa Família. "Não entendo de política, mas confio na intuição política do presidente Bolsonaro", disse hoje Guedes, durante participação virtual no painel Tele Brasil 2020. "Toda informação tem sinal e barulho, o sinal é de que as reformas progridem e a economia volta", observou também o ministro, reiterando sua expectativa de retomada em forma de 'V'.
Nesta terça-feira, destaque positivo para as ações de siderurgia, com Gerdau PN em alta de 5,77% e Usiminas, de 3,50%, Na ponta do Ibovespa, Suzano subiu 6,01%, seguida por Gerdau PN, Gerdau Metalúrgica (+5,25%), Minerva (+4,30%) e BRF (+4,19%). No lado oposto, Eletrobras ON cedeu 3,70%, IRB, 3,27%, Cielo, 3,16%, e Hering, 3,11%. Entre as ações de commodities, Vale ON subiu 1,11%, com Petrobras PN em baixa de 0,05% e a ON, em alta de 0,23% no fechamento. Os bancos tiveram ajuste de baixa entre 0,66% (Santander) e 1,33% (Itaú) na sessão, após os ganhos do dia anterior.
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