Após três sessões acima da marca psicológica de 80 mil pontos, a qual tem lutado para reconquistar e superar desde meados de março, o Ibovespa fechou nesta segunda-feira, 4, em baixa de 2,02%, aos 78.876,22 pontos, limitando as perdas no fim da sessão e se afastando da mínima do dia, a 77.640,22 pontos, após ter saído logo no começo de máxima a 80.501,65 pontos.
Ao longo desta primeira sessão de maio, o índice se alinhava mais cedo a perdas observadas pelas ADRs brasileiras em Nova York na sexta-feira, 1º, quando não houve negócios na B3, bem como a uma combinação de balanços negativos, como o da Gol, o recrudescimento da tensão entre EUA e China em torno do novo coronavírus e a reanimação do risco político doméstico, após nova participação do presidente Jair Bolsonaro em protesto antidemocrático no fim de semana. O giro financeiro totalizou R$ 19,3 bilhões, mais fraco do que a faixa de R$ 24 bi a R$ 27,5 bilhões observada na semana passada. No ano, o índice cede agora 31,79%.
O nível de 80 mil pontos foi perdido inicialmente no dia 12 de março, quando o Ibovespa fechou aos 72.582,83 pontos, tendo saído de 85.171,13 pontos no encerramento anterior. Em meio ao padrão bem volátil que prevalecia então, já no dia 13 de março fechava aos 82.677,91 pontos, um nível de encerramento que só voltaria a ser superado no fim de abril. Apenas no último dia 22, o Ibovespa conseguiria voltar a fechar acima dos 80 mil, aos 80.687,15 pontos. Após dois ajustes negativos nos dias seguintes - o mais forte na sexta, dia 24, quando Sérgio Moro saiu do governo e o índice fechou aos 75.330,61 - , avançou nas três primeiras sessões da semana passada, chegando na quarta-feira, dia 29, a 83.170,80 pontos, o maior nível de fechamento desde 11 de março.
Ao longo de abril, o índice se manteve boa parte do tempo entre os 77 mil e 79 mil pontos, em padrão lateralizado e dependente em especial de bom desempenho das bolsas do exterior para ganhar impulso. Assim, a correção observada neste começo de semana chega sem surpresas, na medida em que a crucial linha dos 80 mil tem sido uma barreira difícil de ser cruzada de forma sustentável. Refletindo o risco doméstico, tanto o político como o da economia, o Ibovespa cedeu mais terreno do que Nova York, em dia no qual as bolsas de Frankfurt, Paris, Milão, Tóquio e Hong Kong se curvaram ao duelo verbal alimentado pelo presidente dos EUA, Donald Trump, e o secretário de Estado, Mike Pompeo, contra a China, a quem voltaram a responsabilizar pela origem do novo coronavírus.
Assim, além das fortes perdas nas ações das aéreas Azul (-12,87%) e Gol (-10,08%), após a divulgação do balanço da segunda e em dia de alta de 1,51% no dólar, a R$ 5,5208 no fechamento, os papéis do chamado 'kit Brasil', mais expostos ao risco político, estiveram também entre os de desempenho negativo, com Eletrobras PNB em queda de 5,53%, Banco do Brasil, de 2,60% e Petrobras PN, de 3,71%, apesar do avanço dos preços da commodity na sessão. As ações de bancos também caíram, com Bradesco PN em baixa de 4,44%, Santander, de 4,67%, e Itaú Unibanco, de 3,82%, antes do balanço da instituição, programado para depois do fechamento. Outra blue chip, Vale ON, cedeu hoje 2,07%.
Na ponta positiva da carteira teórica do Ibovespa, destaque para o varejo, com Via Varejo em alta de 3,49% e Magazine Luiza, de 3,50%, e, acima delas, Telefonica Brasil (+5,87%) e Tim Participações (+5,41%). Atenção também para Ambev, em alta de 3,70% no encerramento do dia.
Conforme observa Marcel Zambello, analista da Necton, maio tem se mostrado um mês difícil para o Ibovespa nos últimos 10 anos. "E o deste ano não começou bem, com a retomada da tensão entre EUA e China, além da indefinição sobre o coronavírus no Brasil, com sinais de que a economia pode levar mais tempo do que se antecipava para ser reaberta, em meio à possibilidade também de restrições mais fortes ao movimento de pessoas", diz Zambello.
O teor das declarações do ex-ministro Sérgio Moro a Polícia Federal é algo que pode causar mais ruído em Brasília, após o mercado ter se acalmado na semana passada com a permanência do ministro da Economia, Paulo Guedes. "Para o mercado, o Guedes continua a ser o fator mais importante, mas não se pode descartar um estresse maior e um aumento da percepção de risco político", acrescenta o analista.
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