Em abril, a Bolsa de Valores brasileira teve o primeiro mês de valorização no ano, acumulando alta de 10,25%, a maior desde janeiro de 2019, quando o Ibovespa subiu 10,8% com o otimismo de investidores com o início do governo de Jair Bolsonaro.
O desempenho positivo de abril, por sua vez, sobreviveu às turbulências no governo, com a saída de Luiz Henrique Mandetta e Sergio Moro do comando dos ministérios da Saúde e da Justiça, respectivamente, os atritos entre o Executivo e demais Poderes e pedidos de impeachment.
A alta no mês é um alívio após o pior trimestre da história, com queda de 36,85% do índice entre janeiro e março de 2020 devido à crise do coronavírus. Apesar da recuperação, o ano acumula queda de 30,4%, o pior desempenho desde 2008, ano da crise financeira, quando a Bolsa caiu 41,2%.
"Ainda não temos nenhum dado econômico a respeito da recuperação e o risco político continua sendo maior, mas se espera que a retomada da economia suavize os impactos da paralisação", diz Ilan Arbetman, analista da corretora Ativa Investimentos.
Arbetman destaca que o otimismo que sustenta a Bolsa é do investidor doméstico. Os estrangeiros seguem retirando recursos do mercado acionário brasileiro. Até 27 de abril, saíram R$ 5 bilhões de investimento estrangeiro no mês, o melhor resultado desde setembro, quando entraram R$ 425 milhões. Em 2020, a saída é recorde: R$ 69,5 bilhões.
"Vimos uma nova leva de investidores nacionais entrando na Bolsa com os preços mais convidativos e com a iminência de um corte mais robusto na taxa de juros, fazendo com que menos pessoas busquem a renda fixa e procurem ativos de risco", diz o analista.
A Selic a 3,75% e a perspectiva de que ela deve cair para 3% reduz o retorno de muitos investimentos, como a poupança, que rende 0,7% da Selic + TR (Taxa Referencial), hoje zerada.
Também contribuiu para a alta da Bolsa brasileira a recuperação do preço do petróleo e das Bolsas no exterior.
Após cair abaixo de US$ 20 o barril no início da semana, o contrato do Brent, referência internacional do óleo, ganhou força nos últimos pregões e está a US$ 25.
Neste mês, as principais Bolsas globais com o otimismo na retomada das atividades na Europa e Estados Unidos conforme a flexibilização da quarentena.
Nesta quinta-feira (30), porém, o Ibovespa caiu 3,2%, a 80.505 pontos, com o aumento do desemprego no Brasil e nos Estados Unidos e queda recorde no PIB (Produto Interno Bruto) da zona do euro.
Dentre os destaques negativos do dia, as ações preferenciais (sem direito a voto) do Bradesco caíram 7,2%, a R$ 19,15, e as ordinárias (com direito a voto) 6,44%, a R$ 17,56, após o lucro do banco despencar 40% no primeiro trimestre.
O cenário de juros baixo também contribuiu para a alta de 4,6% do dólar no mês devido ao carry trade. Nessa prática de investimento, o ganho está na diferença do câmbio e do juros. Nela, o investidor toma dinheiro a uma taxa de juros menor em um país, para aplicá-lo em outro, com outra moeda, onde o juro é maior. Com a Selic na mínima histórica, investir no Brasil fica menos vantajoso, o que contribui com uma fuga de dólares do país, elevando assim sua cotação.
Em abril, o dólar teve sucessivos recordes e atingiu o maior patamar nominal (sem contar a inflação) da história do Plano Real, a R$ 5,6680 na segunda (27) e, durante o pregão de sexta (24), a moeda chegou a R$ 5,7450 na máxima, após a saída de Moro do governo Bolsonaro.
No ano, o real tem o pior desempenho dentre todas as divisas globais, com desvalorização de de 35,4% ante o dólar, a maior desde 2015, quando a moeda americana disparou 49% no Brasil.
Nesta quinta, a moeda subiu 1,490%, a R$ 5,4370, após acumular queda de 5,5% nos últimos dois pregões. O dólar turismo está a R$ 5,73 na venda.
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