CAMPINAS, SP - O presidente Jair Bolsonaro sinalizou neste sábado (20) que haverá mais trocas em seu governo, um dia após indicar o general Joaquim Silva e Luna para o comando da Petrobras no lugar de Roberto Castello Branco após os últimos reajustes nos combustíveis.
A intervenção foi mal recebida pelo mercado e fez a empresa pública perder bilhões em valor de mercado. A informação foi publicada primeiro no Twitter do presidente da República e não em forma de fato relevante ao segmento financeiro, conforme manda o estatuto da petroleira, que é uma companhia de capital aberto, com ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (B3) e também no exterior.
"Vocês aprenderão rapidamente que pior do que uma decisão mal tomada é uma indecisão. Eu tenho que governar. Trocar as peças que porventura não estejam dando certo", afirmou o presidente a novos soldados do Exército, numa formatura da Escola Preparatória de Cadetes do Exército, em Campinas (SP).
"E se a imprensa está preocupada com a troca de ontem [sexta-feira], na semana que vem teremos mais. O que não falta para mim é coragem para decidir pensando no bem maior da nossa nação. O mais fácil é se acomodar, é se aproximar daqueles que não têm compromisso com a pátria."
Somente na noite de sexta (19), a Petrobras registrou R$ 28,2 bilhões em redução de valor de mercado no Brasil e outros R$ 30 bilhões com os papéis no exterior, segundo banqueiros e gestores de investimentos que falaram com a reportagem sob anonimato.
A substituição despertou má reação do mercado, levando investidores a iniciar um desembarque das ações da estatal. As perdas acumuladas até a sexta-feira (19) somam R$ 60 bilhões e devem chegar a R$ 100 bilhões nesta segunda (22) devido ao que chamam de intervenção do governo na companhia.
Em seu discurso, Bolsonaro deu a entender que não é capaz de fazer tudo o que gostaria, não neste contexto democrático. "Alguns acham que eu posso fazer tudo. Se tudo tivesse que depender de mim, não seria este o regime que nós estaríamos vivendo. E apesar de tudo eu represento a democracia no Brasil."
Um mandatário afeito a ataques contínuos a jornalistas, diretamente ou por meio de aliados, ele voltou a dizer que trata bem esses profissionais. "Nunca a imprensa teve um tratamento tão leal e cortês como o meu. Se é que alguns acham que não é dessa maneira, é que não estão acostumados a ouvir a verdade."
A movimentação do lado de fora da escola de cadetes começou por volta das 7h. Além das duas filas de militares e familiares prontos para a formatura dos novos soldados do Exército, centenas de apoiadores de Bolsonaro também aguardavam a chegada do presidente em Campinas.
Polícia Militar, Guarda Municipal e a Polícia do Exército montaram um esquema de segurança. Estava também prevista uma carreata contra o presidente que chegaria próxima à Escola de Cadetes. Agentes da Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec), que gerência o trânsito do município, fizeram um bloqueio para evitar confrontos.
Sem máscaras, aglomerados, com bandeiras, cartazes e os gritos tradicionais dos apoiadores, Bolsonaro chegou à Escola por volta das 9h10. Entrou direto, sem cumprimentar quem o aguardava pelo lado de fora.
Deu início à cerimônia de formatura de 419 alunos, sendo 37 mulheres, que vão fazer a academia de novos cadetes do exército pelos próximos quatro anos.
O próprio Bolsonaro passou pela Escola de Cadetes de Campinas em 1973, antes de se formar na Academia das Agulhas Negras.
Poucos são aqueles que tocam sobre assuntos considerados espinhosos, como a prisão do deputado federal Daniel Silveira.
"Eu não concordo com a ação do deputado, mas acho que não é o Supremo Tribunal Federal que deveria avaliar essa situação", diz Valdira Santis, 56, que segurava um cartaz dizendo que o Parlamento é "covarde".
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