MIAMI - Não havia nem 100 convidados quando Jair Bolsonaro chegou na manhã desta terça-feira (10) a um hotel no centro de Miami. Pelo menos três das 25 mesas do evento organizado por empresários brasileiros estavam completamente vazias. Ele chamou o cenário atual de "pequena crise do coronavírus" e disse que há muita fantasia sobre o assunto.
Aos presentes, que incluíam o ex-piloto de Fómula 1 Emerson Fittipaldi e o ex-lutador de UFC Vitor Belfort, o presidente insistiu na retórica de que o quadro econômico do Brasil está controlado, negou que haja crise com o derretimento dos mercados financeiros em todo o mundo e disse que a imprensa é culpada pela situação.
Na avaliação de Bolsonaro, "muito do que falam é fantasia", "problemas na Bolsa acontecem" e é melhor "cair 30% o preço do petróleo do que subir."
Na segunda-feira (9), ele já havia minimizado o coronavírus como uma das causas das perdas históricas dos mercados e dito que as notícias sobre a doença estavam "superdimensionadas."
"Durante o ano que se passou, obviamente, temos momentos de crise. Muito do que tem ali é muito mais fantasia, a questão do coronavírus, que não é isso tudo que a grande mídia propaga. Alguns da imprensa conseguiram fazer de uma crise a queda do preço do petróleo [...] é melhor cair 30% do que subir 30% do preço do petróleo", afirmou o presidente nesta terça.
"Mas isso não é crise. Obviamente, problemas na Bolsa, isso acontece esporadicamente. Como estamos vendo agora há pouco, as Bolsas que começam a abri hoje já começam com sinais de recuperação."
Impactadas pelo avanço do coronavírus e pela guerra do preço do petróleo entre Rússia e Arábia Saudita, nesta segunda, as Bolsas do Brasil e do EUA anunciaram circuit break -quando as negociações são interrompidas compulsoriamente. O dólar e o risco país estavam em alta e os investidores estrangeiros, que já estavam cautelosos desde o ano passado sobre a possibilidade de investir no Brasil devido à marcha lenta do crescimento, foram completamente desencorajados a colocar dinheiro em mercados emergentes.
Após o curto-circuito do início da semana, o dólar recuou um pouco e a Bolsa brasileira abriu operando em alta nesta terça, mas empresários e especialistas de todo o mundo já falam que a possibilidade de uma crise global é inevitável.
Durante uma viagem de 4 dias aos EUA, Bolsonaro se reuniu duas vezes com empresários e fez discursos bem rápidos. Oito minutos, no primeiro, e quinze no segundo. Ele evitou a imprensa durante todo o período que passou em Miami e falou a jornalistas pela primeira vez somente nesta terça, antes de embarcar para Jacksonville, onde fará uma visita à fábrica da Embraer e, depois, segue para Brasília.
Após o evento com empresários, questionado pela imprensa sobre a crise, o presidente repetiu que não vai tomar medidas emergenciais, como o aumento da Cide, contribuição sobre o preço dos combustíveis recolhido pelo governo federal. Ele já havia declarado a mesma coisa via redes sociais, nesta segunda.
"Zero, zero, não existe isso [aumentar a Cide]. A política que a Petrobras segue é a de preços internacionais, então a gente espera, obviamente, não como presidente mas como cidadão, que o preço caia nas refinarias e seja repassado ao consumidor na bomba."
O encontro de Bolsonaro com empresários brasileiros desta terça foi organizado pro Mario Garneiro, presidente do Fórum das Américas. Ele enviou uma carta ao presidente Donald Trump para pedir que o presidente brasileiro fosse recebido pelo americano na Flórida.
No sábado (7), Bolsonaro jantou com Trump em Mar-a-Lago, o resort do presidente dos EUA perto de Miami. O encontro estava sendo costurado desde dezembro pelo governo brasileiro.
Diante dos empresários brasileiros, Bolsonaro repetiu três vezes que tem boa relação com Trump, disse que o americano "já falou que me considera um amigo" e que "foi dado o primeiro passo" para um acordo de livre-comércio entre os dois países.
"Discutimos questões pontuais, como é do interesse americano, etanol e carne porco. Pedi para ele para que nós deixássemos questões pontuais e discutíssemos de forma mais ampla. Ele concordou. Então nossas assessorias vão começar a discutir livre comércio mais amplo com EUA."
Até agora autoridades dos governos brasileiro e americano não avaliam que seja possível fazer um acordo de livre-comércio entre Brasil e EUA, visto que não há interesse político ou econômico para derrubar tarifas de ambos os lados. As ações, até agora, estão sendo feita no sentido de medidas para a facilitação de negócios.
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