A chegada da telefonia de quinta geração está colocando em xeque o modelo de negócio das operadoras que se veem forçadas a compartilhar suas redes em vez de construir infraestrutura própria para garantir a velocidade de conexão prometida pela nova tecnologia.
Além da instalação das antenas que irão funcionar nas frequências de 5G a serem leiloadas, as teles terão de espalhar centenas de data centers (espécie de super servidores onde ficam armazenados os conteúdos e informações acessadas pelos clientes) pelo país, exigência para garantir um tempo de resposta inferior a um milissegundo entre o acesso de um cliente via celular a um site e a resposta.
Sem isso, será inviável ter carros teleguiados pelas cidades ou ambulâncias conectadas ao hospital fazendo atendimento médico à distância, ou jogar pelo celular com amigos enquanto se desloca pelo transporte público.
Hoje, a operadora é proprietária de quase toda a rede. Nos últimos anos, as empresas venderam suas antenas e passaram a alugá-las das companhias que adquiriram essas estações.
Com o 5G, esse movimento deve ser ampliado com a terceirização de data centers e intensificação do compartilhamento de outros pedaços da rede entre as operadoras.
"A competição terá de ser pela qualidade do serviço", disse Marco Di Costanzo, diretor de engenharia da TIM, durante um dos debates virtuais da Futurecom, evento anual do setor. "Não faz sentido mais gastar para replicar infraestrutura básica."
Na sua avaliação, a rede será cada vez mais uma "commodity" (algo comum a todos) e isso coloca as empresas diante de uma encruzilhada: como garantir a segurança da rede 5G e dos dados de seus usuários em um cenário de rede cada vez mais compartilhada?
Esse debate ocorre no momento em que o presidente Jair Bolsonaro avalia, em conjunto com o general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), banir a chinesa Huawei das redes 5G porque a empresa não respeitaria padrões de segurança de dados.
Repetindo o que afirmou em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, o presidente da Huawei no Brasil, Sun Baocheng, disse que a empresa segue todos os protocolos internacionais de segurança cibernética e que o banimento completo no país significará um atraso de até quatro anos na instalação completa do 5G e um encarecimento do serviço para o usuário final.
Isso porque os equipamentos da Huawei de tecnologias anteriores não conversam com os de 5G de seus concorrentes.
As operadoras confirmam essa situação e se dizem preocupadas. Por isso, durante os debates, defenderam uma rede aberta, que possa operar com equipamentos de diversos fabricantes, inclusive os da Huawei. Esse modelo é chamado no mercado de OpenRAN.
Ericsson e Nokia, concorrentes principais da Huawei, afirmaram ter investido mais de US$ 1 bilhão em soluções (de equipamentos e softwares) para esse sistema.
No entanto, para ambos, o melhor negócio seria um modelo de rede fechada com um ou poucos fabricantes.
Baocheng se posicionou contrariamente ao OpenRAN. Disse que a tecnologia "não está madura".
A Nokia, outra concorrente direta da Huawei na oferta de equipamentos 5G, divulgou um estudo mostrando que um modelo mais aberto pode gerar mais valor para consumidores e empresas.
A fabricante diz que, até 2035, a implementação do 5G acrescentará um ponto percentual de valor ao PIB do Brasil por ano, totalizando US$ 1,2 trilhão em 15 anos.
"Assim que se instalar e começar a valer, será um ganho imediato em geração de valor", disse Felipe Garcia, diretor de marketing da Nokia. "Porque gera aumento de produtividade."
A agricultura é o setor que deverá puxar a demanda de soluções desse tipo devido ao crescimento da população sem que haja aumento da área de terras cultiváveis.
"Teremos um crescimento populacional global de 26% nos próximos anos e, para dar conta, será preciso aumentar 70% a produção de alimentos", afirma Zaima Milazzo, presidente do Brain, laboratório de soluções da Algar Telecom. "O agronegócio será a mola propulsora [da expansão de uso de soluções 5G]".
Segundo Milazzo, já existem mais de 300 startups desenvolvendo soluções (aplicativos) para os agricultores. No entanto, ainda faltam ofertas de conexão pelas operadoras no campo.
Recentemente, a ministra Tereza Cristina (Agricultura) reclamou, em entrevista à Folha de S.Paulo, que o setor precisa "de qualquer G" para aumentar a produtividade.
A Nokia diz que já tem um programa voltado a esse ramo de negócio.
"São mais de 5,5 milhões de hectares conectados no país, isso é mais da metade da área de Portugal", disse Garcia, da Nokia.
Segundo ele, são drones sobrevoando a lavoura para saber que áreas exatamente necessitam de pulverização, controle de colheitadeiras, dentre diversas outras soluções que geram economias e potencializam ganhos para os agricultores.
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