Em meio a uma batalha com os governadores sobre a cobrança de impostos sobre combustíveis, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou nesta quinta-feira (6) que não adianta diminuir o preço nas refinarias se o valor não for repassado aos consumidores e que então é melhor "não baixar".
"Parece que hoje diminuiu de novo o preço do combustível? Não tenho certeza ainda. Se diminuiu, com todo o respeito, não pode diminuir mais, porque não chega no consumidor. Não chega. Se não chega ao consumidor, a gente está dando varada na água. Eu estou mostrando que a responsabilidade do preço do combustível é minha e dos governadores também. É só isso, mais nada. Não fiquem só jogando em cima de mim", disse ao sair do Palácio da Alvorada nesta quinta.
O presidente disse ainda que está sendo feito de "otário", já que a redução das refinarias não é replicada nas bombas.
"A gasolina baixou 4% na refinaria hoje. Quanto vai baixar na bomba para o consumidor? Zero. Então eu estou fazendo aqui um papel de otário. Se bem que eu não interfiro na Petrobras. Eu não vou ligar para o Castello Branco [Roberto Castello Branco, presidente da estatal] e ó, 'não baixa mais'. Eu não interfiro na Petrobras. Não existe isso. A Dilma e o PT interferiam até no preço da energia elétrica, olha a desgraça que está aí. As pessoas dizem 'não privatize'. Mas se não privatizar vai ter um colapso. Não temos quase R$ 30 bilhões para investir na rede de transmissão.", afirmou.
Cobrado pela população sobre a alta dos combustíveis, Bolsonaro vem repetindo que o problema está na cobrança do ICMS, um tributo estadual, e direcionando a questão aos governadores.
Na quarta (5), o presidente disse que proporia um desafio aos dirigentes estaduais para que eles zerassem o ICMS, ao que ele responderia reduzindo a zero os tributos federais.
O episódio levou a reações dos governadores, que se manifestaram publicamente em tom crítico à fala de Bolsonaro. "O que eu quero não é diminuir o valor do ICMS, é que o ICMS incida sobre o preço da refinaria", afirmou.
"Eu estou mostrando que a responsabilidade do preço do combustível é minha e é dos governadores também. Não fiquem só jogando em cima de mim."
O presidente disse ainda que, todas as vezes que ele enfrenta um problema, encontra "um monte de inimigo" que tem "amizade com a imprensa e com os poderes".
Ao longo da entrevista de 50 minutos na porta do Alvorada, o presidente fez uma série de críticas aos governadores, em especial a João Doria (São Paulo) e Wilson Witzel (Rio de Janeiro).
Ele voltou a se apresentar como um "outsider" na política e se disse "pobre, miserável" perto de políticos tradicionais.
"Eu sei que eu sou um cara diferente de alguns políticos que temos no Brasil. Eu sou um cara pobre, miserável, pô. Se bem que eu sou mais rico que 98% da população. Eu sei disso, mas perto desses caras eu sou pobre, e parece que meu cheiro não faz bem para eles. Minha plumagem é diferente da deles", afirmou.
O presidente negou que esteja fazendo populismo ao direcionar a responsabilidade aos governadores.
"Chega de esse povo sofrer. Isso não é demagogia. Dois governadores que estão me criticando, isso não é populismo, é vergonha na cara. Ou você acha que o povo está numa boa? Está todo mundo feliz da vida com o preço do gás, com o preço da gasolina, com o preço do transporte?"
Bolsonaro vem subindo o tom contra Witzel e Doria por ver neles possíveis adversários na corrida presidencial em 2022. Ele, contudo, negou por diversos momentos nesta quinta que tenha como objetivo disputar a reeleição.
"Em vez de mostrar o serviço deles [os governadores]... pergunta para o Witzel como é que está a água do Rio de Janeiro. Alguém quer tomar um copo de água do Rio de Janeiro aí? Agora botaram detergente na água, olha que coisa linda. Agora, problema dele, eu não vou dar pancada nele. Ele que tem que resolver", afirmou.
O presidente voltou a criticar Doria pelo uso do termo "Bolsodoria" nas eleições de 2018 para designar votos casados para o tucano no governo estadual e para ele na Presidência.
Ele repetiu que, embora o governador paulista tenha ido ao Rio de Janeiro entre o primeiro e o segundo turno das eleições, ele não o recebeu para não interferir no pleito estadual.
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