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Cassinos de Las Vegas abrem bets no Brasil já de olho no jogo presencial

Cassinos de Las Vegas abrem bets no Brasil já de olho no jogo presencial

"Estamos avaliando todas as possibilidades no mercado, seria gratificante trazer a nossa marca também para esse setor quando surja a oportunidade", diz o presidente do Hard Rock Cafe

Publicado em 1 de outubro de 2024 às 12:11

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cassino, jogos de azar, roleta
cassino, jogos de azar, roleta. (Freepik)

Cassinos de Las Vegas como MGM Grand e Caesars Palace estão próximos de obter uma licença para operar no setor de apostas online no Brasil. Além disso, o Hard Rock Cafe procura oportunidades para entrar no mercado nacional. As multinacionais do jogo presencial abrem suas bets não só para lucrar com o jogo nos smartphones e computadores, mas também para experimentar a dinâmica do mercado brasileiro. Já estão de olho na chance de abrirem cassinos em pontos paradisíacos e buscam construir suas marcas no país.

Dirigentes dessas empresas dizem que o Brasil seguiu um processo inverso ao visto no resto do mundo: legalizou bets antes de ter o mercado de apostas presenciais organizado sob as regras do Estado. Em paralelo à liberação das apostas na internet, o Congresso voltou a discutir o projeto de lei nº 2.234 de 2022, que regulamenta jogo do bicho, corrida de cavalo e cassinos. Trata-se da versão para o Senado do PL nº 442, aprovado na Câmara dos Deputados em fevereiro de 2022 após tramitar desde 1991.

O Caesars Palace já tem licença da Loterj para operar com bets no Rio, constrói no momento sua sede em Americana, no interior de São Paulo, e está contratando. Já são 28 funcionários com vínculo direto e a projeção é chegar a 100. O portal do cassino pretende se diferenciar com oferta de jogos exclusivos e a obrigação de um depósito mínimo alto --"deve ser cerca de R$ 1.000", diz o conselheiro da empresa no Brasil Paulo Morais, mais conhecido por fundar a franquia de estética Espaço Laser.

A Big Brazil, que representa o Caesars Palace no país, tem capital social de R$ 36 milhões, dos quais R$ 30 milhões irão para a Fazenda e R$ 5 milhões ficarão em um fundo de garantia exigido pelo governo. "Para nós, o jogo físico, caso venha a ser regulamentado no Brasil, é um caminho natural que a gente vai seguir para pedir uma licença também", diz o presidente da Caesars Sportsbook no Brasil André Feldman.

Feldman acompanha o debate pela regulamentação das apostas no país desde 1996, quando começou a se envolver com o Campeonato Mundial de Poker, e representa o cassino americano desde 2019, logo após a liberação das apostas online durante o governo Michel Temer, em dezembro de 2018.

O vice-presidente do Hard Rock Cafe para América Latina, Alex Pariente, que já teve reuniões com a Fazenda, afirma esperar uma estabilização no cenário legal do Brasil antes de anunciar planos. "Estamos avaliando todas as possibilidades no mercado, seria gratificante trazer a nossa marca também para esse setor quando surja a oportunidade."

A prioridade da companhia está, porém, no jogo presencial. "O mercado brasileiro sempre foi muito importante para a Hard Rock International, o país contribui significativamente para o número de turistas que visitam as nossas propriedades nos EUA e outras partes do mundo."

O MGM Resorts já investiu R$ 54,25 milhões no empreendimento que lançará com o Grupo Globo, a BetMGM. Em publicação no LinkedIn, o presidente-executivo do grupo, Bill Hornbuckle escreveu que a empresa pretende levar ao Brasil a "autêntica experiência de apostas em Las Vegas ao Brasil."

O relator do projeto que deve liberar os cassinos, o senador Irajá Abreu (PSD-TO), disse à Folha que a discussão sobre as bets não deve atrapalhar o andamento do debate sobre a regularização do jogo presencial. Na avaliação dele, há condições de votar a proposta em outubro, após as eleições. "É um texto já maduro, que tramita há mais de 30 anos".

Depois da chegada do texto à Casa, os senadores trocaram o termo "cassino construído" por "cassino instalado". A alteração permite que os resorts internacionais procurem parceiros já consolidados no Brasil, para adaptarem hotéis em cassinos-resorts, em vez de fazerem empreendimentos do zero.

Assim, as multinacionais economizariam o dispêndio de tempo com licenciamento, encurtando o prazo para início de atuação de cinco anos para menos de um ano, diz o presidente do Instituto Jogo Legal, Magnho José. A medida, contudo, levanta críticas de especialistas no tratamento da dependência em apostas por aumentar à exposição da população ao jogo. De acordo com o psiquiatra do Programa Ambulatorial do Jogo do HC (Hospital das Clínicas), Rodrigo Machado, os jogos de azar, assim como as drogas, têm maior ou menor potencial viciante.

A loteria, por exemplo, tende a ser menos aditiva, porque a notícia do prêmio demora horas ou dias para chegar. "Os caça-níqueis, por outro lado, trazem um espaçamento muito mais curto entre o ato de executar a aposta e ter o resultado, gerando uma hiperestimulação das vias que processam o prazer no cérebro e gerando, portanto, maior excitabilidade". Para ele, os argumentos a favor da legalização do jogo vão na direção contrária dos critérios da saúde e da ciência.

Em audiência pública realizada no Senado em 9 de agosto, Abreu afirmou ter em mãos dez pareceres técnicos de ministérios da atual gestão, como Fazenda e Turismo, favoráveis a legalização do cassino, do jogo do bicho e do bingo. "O projeto, depois de aprovado, será um grande divisor de águas no turismo brasileiro", afirmou Abreu na ocasião.

O secretário nacional de Infraestrutura, Crédito e Investimentos do Ministério do Turismo, Carlos Henrique Sobral, estimou que a aprovação da lei gerará mais de 650 mil empregos e terá um incremento de R$ 74 bilhões na receita do país. "Vamos ter um investimento de R$ 66 bilhões, mais de 1.000% de aumento de investimento [em turismo]". Hoje, o setor representa 8% do PIB --passaria a 9,2% nas contas de Sobral.

Em nota, a pasta do Turismo diz defender a legalização dos cassinos. "A previsão é de um investimento de US$ 1 bilhão em cada empreendimento". A Fazenda, por outro lado, pondera os riscos da atividade, como lavagem de dinheiro e danos à economia popular. A saída, segundo o secretário de Prêmios e Apostas do Ministério da Fazenda, Régis Dudena, é um texto que assegure a possibilidade de uma regulamentação responsável e técnica, baseada em dados e evidências e no tempo hábil para que a atividade não venha a se desenvolver sem regras efetivas, como ocorreu inicialmente com a atividade das bets.

O projeto de legalizar cassinos, embora tenha apoio de petistas e bolsonaristas, ainda tem oposição no Senado, encabeçada sobretudo pelo senador Eduardo Girão (Novo). Deputados evangélicos, que perderam na votação do texto na Câmara durante o governo de Jair Bolsonaro, também têm participado das audiências públicas e levado pessoas que relatam dívidas de centenas de milhares de reais.

O projeto

Os cassinos terão de estar integrados a complexos de lazer, como prédios ou embarcações, e deverão estar adequados aos seguintes requisitos:

  • Ter hoteis com 100 acomodações
  • Shoppings
  • Salões para eventos sociais
  • E restaurantes A proposta prevê autorização para até três cassinos-resorts por estado, a depender do tamanho da população da região ou da extensão do território.
  • O estado de São Paulo conseguirá instalar três cassinos-resorts, por ter uma população de mais de 25 milhões de habitantes.
  • Minas Gerais e Rio de Janeiro têm entre 15 milhões e 25 milhões de habitantes e poderão ter dois cassinos cada.
  • Mesmo sem ter população suficiente, Amazonas e Pará também devem instalar dois empreendimentos por causa de uma exceção à regra, que permite mais cassinos para territórios com mais de 1 milhão km².
  • Os demais estados e o Distrito Federal só poderão ter um cassino-resort cada.
  • As empresas precisarão ser credenciadas pelo Ministério da Fazenda para operar seus cassinos pelo prazo de 30 anos, com possível renovação por igual período.
  • A aprovação do texto também legalizaria o jogo do bicho e do bingo.

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