Os 27 dirigentes de federações estaduais da indústria se reúnem na próxima quinta-feira (28) em Brasília para decidir quem substituirá Robson Andrade no comando da CNI (Confederação Nacional da Indústria).
O favorito para assumir a tarefa é o presidente da Fieg (Goiás), Paulo Afonso Ferreira.
Alvo de operação da Polícia Federal, que investiga suposto desvio de recursos do Sistema S em Pernambuco, Andrade foi afastado da presidência da CNI por decisão da Justiça por 90 dias.
Ele chegou a ser detido na última terça-feira (19), mas foi liberado após prestar depoimento ao juiz César Arthur Cavalcanti de Carvalho, da 4ª Vara Federal de Pernambuco, que analisa o caso.
Os dirigentes da indústria querem afastar Robson administrativamente como forma de estancar possíveis desdobramentos da operação da Polícia Federal na CNI.
Paulo Afonso já teria conquistado a adesão de lideranças do Centro-Oeste e do Nordeste e tem o apoio do próprio Andrade para assumir, além de partidos políticos como o MDB e o PP.
Ele disputa a vaga com Paulo Skaf, da Fiesp (São Paulo), que é um nome forte e sempre almejou liderar toda a indústria, e com Glauco Côrte. Ex-presidente da federação de Santa Catarina, ele é o mais velho entre os cinco vice-presidentes-executivos e, por isso, poderia ser a escolha mais consensual.
O estatuto da CNI não prevê casos como o atual, em que o presidente foi afastado pela Justiça e não se sabe se poderá voltar a assumir. As possibilidades previstas no regimento são de afastamento temporário ou de vacância do cargo.
O primeiro caso foi descartado pelos demais representantes da indústria porque Andrade foi afastado contra a sua vontade e poderia voltar a ser preso.
Assim, a solução encontrada foi convocar uma assembleia extraordinária, com a participação dos presidentes das 27 federações industriais, para fazer uma eleição e decidir quem, entre os quatro vices, poderia ocupar o cargo de Andrade -o quinto, o presidente da Fiepe (Pernambuco), Francisco de Assis Benevides Gadelha, também foi preso na operação da PF.
Na assembleia da próxima quinta-feira, os representantes da indústria também deverão bater o martelo sobre o tempo de permanência do substituto de Andrade no cargo.
A tendência é que se opte por um mandato curto, coincidente com o afastamento judicial de 90 dias.
Caso daqui a três meses o afastamento de Andrade seja definitivo, será declarada a vacância do cargo. Com isso, uma nova eleição deverá ser convocada, para cobrir o restante do mandato de Andrade na CNI, válido até 2022.
Um observador da política interna da entidade afirma que Skaf tem mais interesse nessa disputa do que na interinidade de 90 dias e, por isso, poupará esforços neste momento. Dessa maneira, Paulo Afonso tem o caminho facilitado.
O afastamento de Andrade da presidência da CNI, além de evitar o escrutínio policial, pretende também reatar o setor com o governo federal.
Os industriais têm interesse em evitar o avanço do governo sobre a principal fonte de recursos das entidades, a contribuição feita pelas empresas ao Sistema S.
São cerca de R$ 20 bilhões recolhidos por ano e que irrigam federações e confederações patronais, como a CNI, CNC (Comércio) e CNT (Transportes), além da rede Sesi, Senai e Sesc.
Na visão dos industriais, o ministro Paulo Guedes (Economia) declarou guerra a essas entidades em dezembro, quando defendeu cortar em até 50% a contribuição das empresas, como forma de reduzir os encargos que incidem sobre o setor produtivo.
Mas Guedes e Andrade não se entendem desde a eleição de Jair Bolsonaro.
Ao ser alçado superministro pelo presidente, Guedes afirmou que unificaria os ministérios da Fazenda, Planejamento, Indústria e Trabalho em uma única pasta sob seu comando.
A fusão desagradou o setor industrial, que via na iniciativa uma perda de influência de suas lideranças e uma menor interlocução com o governo. Guedes, além disso, é um economista de linhagem liberal e, por isso, pouco afeito a políticas setoriais para a indústria, proteção comercial e incentivos.
Numa tentativa de conter o avanço de Guedes, representantes da indústria levaram à Bolsonaro a ideia de criar o Ministério da Produção, unindo Indústria e Trabalho fora do alcance do ministro.
A ideia não prosperou e a articulação mal-sucedida enfureceu Guedes, que desde então não esconde a antipatia por Andrade e por outras lideranças do setor.
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