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Com a Selic em alta, investir em renda fixa volta a ser uma opção?

Com a Selic em alta, investir em renda fixa volta a ser uma opção?

Com a alta, o rendimento da poupança, que equivale a 70% da Selic, aumenta. Será que isso indica que este pode ser um bom momento para investir em renda fixa?

Publicado em 17 de junho de 2021 às 13:29

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Investimentos, Bolsa de Valores
Com a alta da taxa de juros Selic, o que fazer com os investimentos?. (Pexels)

Com o aumento da taxa básica de juros, a Selic, divulgada nesta quarta-feira (16) pelo Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, de 3,5% para 4,25% ao ano, o poupador continua a questionar o que fazer com os investimentos.

Com a alta, o rendimento da poupança, que equivale a 70% da Selic, aumenta. Será que isso indica que este pode ser um bom momento para investir na caderneta? E as outras rendas fixas estão valendo a pena? Ou é melhor manter a aposta em renda variável? Para responder à questão, a reportagem ouviu especialistas que atuam no mercado financeiro.

Um ponto a ser considerado, é que, com a alta da taxa básica, ainda assim a poupança deve perder para a inflação. Para o economista Eduardo Araújo, do Conselho Federal de Economia e ex-presidente do Corecon-ES, as projeções de mercado indicam que a Selic deve atingir 6,5% ao ano ao fim de 2021, enquanto a inflação já acumula 8% nos últimos 12 meses.

"A Selic está subindo, mas o que se nota é que há ainda uma discrepância entre essa taxa e a inflação. É de se esperar que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve seguir acima da Selic por mais algum tempo, influenciado, sobretudo, pela alta de preços de commodities internacionais e de alimentos no mercado doméstico", disse o economista.

Eduardo Araújo, economista
O economista Eduardo Araújo. (Acervo pessoal)

Segundo Araújo, para quem pretende investir em renda fixa, é interessante ficar de olho nas opções de produtos atrelados à inflação ainda. "Por exemplo, há diversas opções de Certificados de Depósito Bancário (CDBs) no mercado, prefixados e com vencimento para 2025, que pagam o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) + 4,5% ao ano.

Se o investidor acredita nesse cenário de inflação acima de 6% ao ano, o que pode se consolidar em breve, então, essa alternativa pode ser mais atrativa do que as opções de CDBs indexadas à taxa Selic. A alta na taxa importa, mas é muito importante o investidor avaliar como é que os indicadores vão se comportar nos próximos meses", pontuou.

Para o economista e especialista em mercado financeiro Paulo Henrique Correa, sócio da Valor Investimentos, esse cenário ainda não aponta investimentos na poupança como uma boa opção.

Mercado financeiro
Paulo Henrique Correa, sócio da Valor Investimentos. (Valor Investimentos)

"A poupança ainda está muito baixa, já que rende um percentual da taxa Selic (70%). Se comparar o rendimento da poupança com a inflação, quem aplica pode de fato perder poder de compra. Ela é considerada o pior investimento no Brasil. Então é sempre importante buscar alternativas, que muitas vezes são tão seguras quanto, como é o caso do título do Tesouro Direto, de renda fixa, emitido pelo governo federal. Também pode ser interessante migrar para títulos emitidos por bancos", disse o especialista.

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Nesse cenário ainda é importante diversificar em ativos de mais risco, como fundos multimercados, renda variável ou investimentos no exterior. Não acho que seja o momento de abandonar a renda variável. Vemos perspectivas muito boas de recuperação de alguns setores por conta do aumento da atividade econômica e isso certamente se refletirá no preço dessas ações

Paulo Henrique Correa
Sócio da Valor Investimentos
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"DEVE-SE TER COMO PREMISSA O OBJETIVO COM OS RECURSOS", DIZ ESPECIALISTA

Para o planejador financeiro para o Meu Patrimônio, Renan Lima, também diretor do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças no Espírito Santo (Ibef-ES), a decisão sobre os investimentos deve levar em conta o objetivo pelo qual se pretende usar os recursos. "Se o investidor precisa ter reserva de emergência, a aposta deve ser sempre em renda fixa, independente da Selic, já que o retorno é previsível, sem flutuações, garantindo segurança para a emergência", apontou.

Já se a intenção é ter retorno em longo prazo, em dois ou três anos para frente, o recomendado, para o especialista, é sempre a diversificação. "Devemos enxergar a renda fixa como a nossa defesa e a renda variável como nosso ataque. E não é recomendado ter só defesa ou só ataque. Em um primeiro momento pode ser que o retorno da fixa seja maior, com a alta da Selic. Depois deve-se rebalancear a carteira e investir na variável. Estamos subindo com a Selic, pode ser que cheguemos a tê-la acima da inflação", acrescentou.

Mercado Financeiro
Renan Lima é planejador financeiro CFP® da Meu Patrimônio. (IBEF-ES)

Falando em diversificação, para Araújo, conselheiro no Conselho Federal de Economia, o importante é o investidor 'não colocar todos os ovos numa cesta só'. "Isso significa que deve-se buscar um equilíbrio na alocação do capital, com uma parte do recurso em renda variável e outra parte em renda fixa.

Para pessoas com um perfil conservador, talvez alocar 25% em renda variável e 75% em renda fixa seja uma boa alternativa. A alta da Selic tem influenciado na queda do dólar. Então, quem pensa em comprar fundos cambiais, talvez deva levar em consideração essa tendência de desvalorização até o fim do ano", ressaltou.

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A poupança continua sendo uma alternativa para deixar parte de reserva de emergência, dinheiro para cobrir algum imprevisto. Se o poupador quer uma rentabilidade melhor é hora de conversar com um agente de investimentos para estruturar uma estratégia que envolva outros produtos

Eduardo Araújo
Conselheiro no Conselho Federal de Economia
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Na mesma linha, Ricardo Aragon, diretor estratégico da Matriz Capital, assessoria profissional de investimentos vinculada ao Safra Invest, recomenda fortemente a diversificação dos investimentos. "Quando falamos em investimentos, a palavra que mais se vincula é a diversificação dos ativos. Nela, além de diminuir o risco total, o investidor consegue participar das janelas propícias e periódicas que se abrem no mercado em curto, médio e longo prazo", destacou.

Para ele, falar de diversificação é tratar do que o mercado chama de 'tripé do impossível', que diz que o investidor não consegue ter a melhor rentabilidade, a melhor segurança e a melhor liquidez em um mesmo produto, sendo a liquidez a capacidade de converter um ativo em dinheiro na maior velocidade.

"Quando falamos em poupança, temos alta liquidez, já que a qualquer momento pode-se resgatar o valor; grande segurança, já que não oscila muito; mas não temos rentabilidade, principalmente agora, com a selic baixíssima, mesmo com o aumento observado. O retorno não é dos mais interessantes e a inflação está acima da Selic, então acaba não permitindo haver ganho real. A poupança, de longe, não é o melhor investimento para o momento. Para o investidor conservador, que tem aversão ao risco, seria melhor optar pelo Tesouro Direto, por exemplo, com uma rentabilidade um pouco melhor que a poupança, mesmo com incidência do Imposto de Renda sobre o rendimento. A partir de R$ 30 o investidor já tem acesso ao tesouro direto", acrescentou.

De todo modo, na visão de Aragon, o investidor deve sempre buscar se expor de forma diversificada, aplicando um pouco mais em renda fixa e fazendo um balanceamento com pré-fixados, indexados pela inflação e pós-fixados, de modo inteligente e aproveitando as oportunidades de mercado. "Como nesse momento a Selic está subindo, em curto prazo é melhor ter uma posição atrelada ao CDI (taxa de juros cobrada nos empréstimos interbancários)", pontuou.

SELIC DEVE AUMENTAR AINDA MAIS ATÉ O FINAL DO ANO

Para os especialistas do mercado financeiro, a alta da Selic apresentada nesta quarta-feira (16) já era esperada, sendo que o índice pode subir ainda mais até o final do ano, podendo chegar a 6,25% ou até 6,5%.

Ricardo Aragon, diretor estratégico da Matriz Capital, explica que a Selic aumentou, neste momento, em virtude do grande descontrole da inflação.

"A economia ficou muito represada com a pandemia e esse movimento de volta, aceleração significativa da demanda, já era esperado no momento que houvesse um controle da Covid-19. Esse movimento começa a favorecer o aumento da inflação, muito por conta de toda a injeção de liquidez colocada no mercado financeiro através de estímulos, não só no país mas no mundo todo. As empresas que não quebraram voltam a acelerar a produção, o consumo, e isso afeta a curva da inflação. E para conter a inflação é que a taxa de juros se eleva", disse.

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Ricardo Aragon, diretor estratégico da Matriz Capital. (Matriz Capital)

Para ele, a inflação é saudável quando há um controle racional. A taxa de juros se eleva porque a função dela é justamente conter os avanços da inflação, para que não fuja ao controle. "E com a perda do poder de compra da população, o governo precisa tomar algumas medidas mais rigorosas para que tudo volte a funcionar perfeitamente. Então eleva a taxa para controlar o excesso de inflação. O Copom, além do aumento de ontem (16), indicou que deverá haver nova elevação na próxima reunião, chegando ao final do ano em torno de 6,25%", acrescentou.

Já a inflação, segundo o especialista, e de acordo com o boletim Focus, do Banco Central, pode chegar até o final do ano a 5,82%. "A gente observa uma diferença pequena entre o alvo da Selic e o da inflação. Já a partir do ano que vem, a inflação deve voltar para o centro, de 3,5 a 3,8%, e a Selic deve continuar aumentando, porém muito pouco. Então, se conseguirmos controlar a inflação, a Selic começa a estagnar novamente", afirmou.

QUEDA DO DÓLAR

Para Tiago Pessotti, estrategista-chefe da APX Investimentos, a decisão do Banco Central de ter aumentado a taxa Selic neste momento foi bastante acertada. Como implicação em médio prazo, o dólar poderá entrar em queda.

"A gente sempre espera do Banco Central que ele se posicione para que a inflação não aumente. Em médio prazo, isso pode trazer o dólar para baixo, chegando aos R$ 4,90 no final do ano. Quando sobem os juros, podendo chegar até 6,5% neste ano, apontando que o BC posiciona que não será leniente com a inflação, o Brasil volta a atrair o capital externo. Estávamos com juros de países desenvolvidos, mas agora o fluxo de capital poderá entrar no Brasil e o dólar cair, com a inflação mais controlada", explicou Pessotti.

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Tiago Pessotti, estrategista-chefe da APX Investimentos. (APX Investimentos)

E com a queda do dólar, o estrategista aponta que é possível ter uma carteira de investimentos com parte de títulos pós-fixados, os quais são atrelados a um indexador e só permitem saber quanto renderam no dia do resgate. E, com a retomada do crescimento do Brasil, os ações também poderão se beneficiar, em especial relacionadas ao setor de commodities. "O Brasil está crescendo por conta do mercado internacional, estamos exportando mais. Os juros de longo prazo então caem, não sendo o momento para desistir da renda variável, faz sentido ainda apostar em ações", concluiu.

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