Um mês após o lançamento do programa Desenrola Brasil, a inadimplência na carteira de crédito livre às pessoas físicas caiu 0,1 ponto percentual em julho, a 6,2%, segundo dados divulgados pelo Banco Central nesta segunda-feira (28).
Segundo o chefe do departamento de Estatísticas do BC, Fernando Rocha, embora o recuo tenha sido marginal, o movimento observado em mais de uma modalidade de crédito livre pode refletir algum impacto do programa de renegociação de dívidas lançado pelo governo Lula (PT) em junho.
"A gente viu diversas taxas a pessoas físicas com redução de inadimplência e eventualmente pode ser impacto do Desenrola, de fato", disse.
Segundo o técnico do BC, é difícil mensurar o efeito do programa porque as negociações dos devedores com as instituições financeiras envolvem um grande volume de operações com baixos valores.
"Se a gente pega uma grande empresa, que teve um evento de crédito com operações de bilhões de reais, a gente consegue ver o impacto de uma única operação [nas estatísticas]. O Desenrola é exatamente o oposto disso: uma quantidade muito grande de operações de valor individual pequeno. Então, pode ter operações de Desenrola na redução de inadimplência de modalidades específicas do crédito para pessoa física", acrescentou.
Entre 17 de julho e 18 de agosto, os bancos brasileiros repactuaram 1,5 milhão de contratos, segundo dados da Febraban (Federação Brasileira de Bancos). No período, foram R$ 9,5 bilhões negociados pela faixa 2 do Desenrola — cidadãos com renda mensal entre R$ 2.640 (dois salários mínimos) e R$ 20 mil.
De acordo com a entidade, cerca de 6 milhões de clientes que tinham dívidas bancárias de até R$ 100 tiveram o "nome limpo" por instituições financeiras.
Conforme os dados do BC, a inadimplência no crédito livre alcançou 5% em julho, contra 4,9% um mês antes, puxada pelo segmento de pessoas jurídicas. Na carteira de crédito para empresas, a inadimplência atingiu 3,3%, com aumento mensal de 0,2 ponto percentual — concentrado no desconto de duplicatas e recebíveis (elevação de 0,9 ponto no mês).
A modalidade está ligada ao risco sacado, operação tradicional no varejo brasileiro por meio da qual se desconta ou se securitiza o fluxo futuro de vencimentos da empresa — e que esteve no centro da crise da Americanas.
A inadimplência no desconto de duplicatas e recebíveis, que era de 0,4% um ano atrás, atingiu 3,7% em julho. Em 12 meses, houve aumento de 3,3 pontos percentuais -sendo que a alta se tornou expressiva a partir de abril, três meses após a eclosão do caso da varejista.
Na metodologia do BC, só atraso de pagamento superior a 90 dias é considerado inadimplência.
"Você tem um evento de crédito em janeiro, a empresa não consegue mais pagar uma parte das operações de crédito, exatamente em abril começa a ter um impacto na taxa de inadimplência dessas operações", disse Rocha. "Como a inadimplência para demais modalidades tem estado estável, pode-se dizer que esse efeito tem sido circunscrito a essa modalidade [desconto de duplicatas e recebíveis]."
A Americanas entrou em recuperação judicial no dia 19 de janeiro com dívidas da ordem de R$ 43 bilhões, mais de 16 mil credores e apenas R$ 800 milhões declarados em caixa. Isso ocorreu cerca de uma semana após a divulgação do escândalo contábil de R$ 20 bilhões.
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