Caso se confirme a nomeação de um general da reserva para a presidência da Petrobras, os militares estarão no comando de mais de um terço das estatais federais com controle direto da União.
Um levantamento feito pela reportagem mostra que, de 46 estatais com esse perfil, 15 são presididas por militares no governo de Jair Bolsonaro. O general Joaquim Silva e Luna, indicado à Petrobras, seria o 17º.
Luna foi ministro da Defesa no último ano do governo de Michel Temer e é diretor-geral de Itaipu Binacional desde o início de 2019, o primeiro ano do governo Bolsonaro.
As empresas controladas por fardados e ex-fardados cuidam de áreas essenciais no país, como administração de hospitais universitários, envio de correspondências e encomendas, energia nuclear, administração de portos e financiamento de projetos de pesquisa.
Se Luna foi confirmado no cargo de presidente da Petrobras, a produção e o refino de petróleo também passarão pelas mãos de um militar, o que não ocorria desde o fim da década de 80.
O comando por integrantes das Forças Armadas -e da Polícia Militar, como é o caso do presidente da Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo)- vai além das estatais com controle direto da União.
O general da reserva Antonio Carlos Krieger é o diretor-presidente da Eletrosul, subsidiária da Eletrobras. Na Telebras, três diretores que atuam junto com o presidente são militares.
Para comandar Itaipu Binacional, o governo Bolsonaro indicou outro general para substituir Luna, o general reformado João Francisco Ferreira. Itaipu não tem as características técnicas de uma estatal, mas de uma empresa binacional, administrada por Brasil e Paraguai.
Ferreira foi reformado (aposentado) em maio de 2018, por ter atingido a idade limite para estar na reserva. Ele é da mesma turma de Luna, a de 1972, na Aman (Academia Militar das Agulhas Negras), instituição que forma os oficiais do Exército.
Bolsonaro é da turma de 1977. Para indicar o general reformado à diretoria-geral de Itaipu, o presidente consultou militares sobre qual era a turma de Ferreira.
O militar vive em Campo Grande há mais de cinco anos, desde a reserva, e não ocupou nenhuma função no governo federal deste então. Na transição, em 2018, ele chegou a ser lembrado para cargos no governo, o que não se concretizou.
A última vez que militares comandaram a Petrobras foi no fim da década de 80, no governo de José Sarney. Os presidentes eram integrantes da Marinha e da Aeronáutica. O último oficial do Exército a estar no comando da estatal foi na década de 70, durante a ditadura militar.
Os boletins mais recentes do Ministério da Economia apontam a existência de 46 estatais federais com controle direto da União, das quais 19 são dependentes de recursos do governo e 27 são independentes. A lista completa de estatais inclui 197 empresas.
Entre as que dependem da União, estão a EBSERH (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares) e a Valec Engenharia, Construções e Ferrovias.
A EBSERH, vinculada ao Ministério da Educação, é responsável por 40 hospitais universitários ligados a universidades federais. Desde o início do governo Bolsonaro, é comandada pelo general da reserva Oswaldo Ferreira, que atuou na formulação de propostas na campanha eleitoral e na transição. A Valec é presidida pelo engenheiro André Kuhn, que foi tenente-coronel do Exército.
Também são dependentes da União a Amazul (Amazônia Azul Tecnologias de Defesa), a Nuclep (Nuclebrás Equipamentos Pesados), a INB (Indústrias Nucleares do Brasil) e a Imbel (Indústria de Material Bélico do Brasil). As três primeiras são presididas por oficiais da Marinha. Um general do Exército comanda a Imbel.
Oficiais da Marinha comandam ainda três de sete autoridades portuárias no país: Companhias Docas do Rio, do Rio Grande do Norte e da Bahia.
Parte das estatais ocupadas por militares está na mira do programa de privatizações do governo Bolsonaro. São os casos dos Correios, estatal presidida pelo general Floriano Peixoto Neto, que foi demitido da Secretaria-Geral da Presidência da República ainda em 2019; da Ceagesp, comandada pelo policial militar Ricardo Augusto Mello; e da Nuclep.
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