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Companhias aéreas brasileiras aumentam ganhos e renegociam dívidas

Companhias aéreas brasileiras aumentam ganhos e renegociam dívidas

Cenário no final de 2022 apresentou melhoras para as empresas, mas, para os consumidores, não há previsão de queda no valor das passagens

Publicado em 11 de março de 2023 às 16:09

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Avião da Latam decola do Aeroporto de Vitória
No quarto trimestre de 2022, a Latam apresentou  lucro líquido de US$ 2,5 bilhões. (Fernando Madeira)

As principais companhias aéreas brasileiras tiveram uma semana de boas notícias, como aumento de receitas, renegociação de dívidas e alta no valor das ações. No entanto, os passivos seguem elevados, o que ainda preocupa analistas. Para os passageiros, não há previsão de queda no valor das passagens.

Os balanços do quarto trimestre de 2022 foram divulgados nos últimos dias. A Azul, por exemplo, faturou R$ 4,4 bilhões no período, o que gerou um lucro Ebtida (antes de amortização, impostos e outros fatores) de R$ 1,097 bilhão. No entanto, ao incluir os pagamentos de taxas e dívidas, a empresa teve um prejuízo líquido ajustado de R$ 610 milhões, 40% maior do que no quarto trimestre de 2021.

Na Gol, a receita foi de R$ 4,72 bilhões, a maior da história da empresa, lucro Ebtida de R$ 1,17 bi e lucro líquido de R$ 230 milhões. No último trimestre de 2021, o prejuízo líquido havia sido de R$ 2,8 bilhões.

Na Latam, a receita foi de US$ 2,74 bilhões, lucro Ebtida de US$ 139 milhões e lucro líquido de US$ 2,5 bilhões. No mesmo período de 2021, a empresa tinha tido cerca de US$ 2,7 bi de prejuízo.

O valor do lucro líquido da Latam foi distorcido porque a empresa saiu de um processo de recuperação judicial em novembro, por conta de reclassificações de dívidas que ocorreram no período.

As três empresas possuem dívidas bilionárias, que vão sendo roladas. É comum que as empresas aéreas façam grandes empréstimos para comprar ou arrendar aviões, equipamentos muito caros, pagos ao longo dos anos. Durante a pandemia, no entanto, a suspensão de voos fez as empresas perderem muito caixa. Sem dinheiro, ficou mais difícil honrar os compromissos, que precisaram ser renegociados.

Dentre as três companhias, a que fez a maior reestruturação foi a Latam, que passou por recuperação judicial nos EUA, iniciada em maio de 2020. Ao fim do processo, a dívida da empresa foi reduzida em 38%, de US$ 10,4 bilhões para US$ 6,5 bilhões.

Nesta semana, a Azul anunciou uma renegociação com arrendadores de aviões, categoria que detém 80% de sua dívida bruta. Pelo acerto, parte dos valores devidos será trocado por ações da empresa, e parte foi refinanciada com taxas mais baixas.

Na Gol, além do lucro líquido, também foi bem-visto pelo mercado o anúncio de um aporte de US$ 451 milhões feito pela Abra, holding criada a partir da união da empresa brasileira com a colombiana Avianca. As duas empresas fazem agora parte de um mesmo grupo, mas manterão marcas e operações separadas.

Os números animaram investidores. As ações da Azul quase dobraram de preço em uma semana: eram cotadas a US$ 4,19 na sexta (3), e fecharam a US$ 7,27 na sexta (10). Com a Gol, a alta foi menor, mas ainda expressiva: foram de R$ 5,13 na sexta (3) para R$ 7,13 sete dias depois. Já as da Latam ficaram praticamente estáveis, indo de US$ 0,40 para US$ 0,43 em uma semana.

Porém, analistas apontam que as empresas seguem em situação delicada. "As ações da Azul tiveram forte alta na semana, mas estão em valor muito baixo na comparação com a série histórica", avalia José Eduardo Daronco, analista da Suno Research. No fim de março de 2022, as ações da Azul estavam no patamar de US$ 15.

"As empresas conseguiram jogar as dívidas da pandemia para a frente, mas o 'para frente' chegou, em um cenário de custos mais altos. E a demanda corporativa ainda não se recuperou por completo", avalia.

André Castellini, analista de aviação civil da Bain&Company, aponta que os títulos de dívida da Azul estavam sendo negociados a 30% ou 40% do valor de face, em um sinal da falta de confiança do mercado. "As renegociações e investimentos dão um oxigênio, trazem liquidez para as companhias e tiram o risco de uma concordata em curto prazo", avalia.

No entanto, o meio para rolar as dívidas e estender o prazo incluiu pagar taxas maiores. "As empresas aéreas saem desse processo com dívida cara e um produto, as passagens aéreas, mais caro. Mas as empresas estão operando próximas do break-even [ponto de equilíbrio] de caixa, e com um produto mais caro, o que normalmente faz o mercado encolher", diz Castellini.

VALOR DAS PASSAGENS

O analista avalia ainda que uma eventual queda no preço das passagens só deve ocorrer caso o real ganhe força frente ao dólar. Como cerca de 70% dos gastos das companhias aéreas são cotados na moeda americana, o câmbio impacta muito nas passagens.

Os bilhetes aéreos no Brasil somam alta de 43,57% nos últimos 12 meses, segundo dados do IPCA. A inflação geral no período foi de 5,6%.

As empresas atribuem a alta ao aumento do preço do querosene, o principal custo de operação. O combustível teve forte alta em 2022, mas o preço atual está 18,2% mais baixo do que há um ano, na média global, segundo dados da Iata (Associação Internacional de Transporte Aéreo).

"Acho que todas as companhias aéreas querem recuperar a lucratividade que perderam nos últimos anos. O consumidor está disposto a pagar os preços que estão aí. Não vemos queda na demanda e, de fato, pensamos que a demanda está mais forte do que nunca", disse Abhi Shah, presidente da Azul, em conferência com investidores.

"A gente espera que na medida que o combustível continue uma tendência de queda, as passagens também acompanhem, mas não há previsão [de queda nas passagens], diz Jerome Cadier, presidente da Latam, em entrevista a jornalistas.

Para 2023, as expectativas são de novas altas na demanda e nos números. A Azul espera obter uma receita recorde de R$ 20 bilhões no ano. No fim de março, a empresa passará a ter mais voos do aeroporto de Congonhas, um dos principais do Brasil para viagens corporativas.

A Gol espera ter margem Ebtida de 24% neste ano, e reduziu sua projeção de investimento em 2023, de R$ 700 milhões para R$ 600 milhões. "Esperamos que a recuperação do mercado corporativo no quarto trimestre continue a se intensificar em 2023. Apesar do maior custo de vida, os brasileiros desejam viajar", disse a Gol, em comunicado de anúncio dos resultados.

A Latam espera alta de 20% no volume de passageiros e cargas e atingir um Ebtida em torno de US$ 2 bilhões. "O grupo continua direcionando esforços para reduzir ainda mais os custos e aumentar a capacidade, mantendo um forte foco na lucratividade e na geração de caixa", disse a empresa, em comunicado.

Dados deste começo de 2023, também divulgados nos últimos dias, mostram que a demanda segue aquecida. A Azul teve alta de 25,9% no volume de passageiros em fevereiro, na comparação com o mesmo mês de 2022. Na Gol, a alta foi de 22% na mesma comparação. E na Latam, em janeiro deste ano, a alta foi de 24,9%.

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