SÃO PAULO - Após a Petrobras anunciar a distribuição de dividendos recordes de R$ 87,8 bilhões, analistas de mercado têm recomendado a investidores tirar proveito das perspectivas que seguem positivas para o negócio e comprar as ações da petroleira.
O montante anunciado pela estatal corresponde a cerca de R$ 6,73 por ação, com a data de corte estabelecida em 11 de agosto. Ou seja, para ter direito ao recebimento dos dividendos, o investidor deve ter as ações da Petrobras negociadas na B3 em carteira nesta data.
Aqueles que comprarem as ações a partir do dia 12 de agosto não serão mais elegíveis ao recebimento do pagamento referente aos resultados do segundo trimestre.
O pagamento será feito em duas parcelas de R$ 3,36 cada, nos dias 31 de agosto e 20 de setembro. Maior acionista da empresa, a União terá direito a cerca de R$ 25 bilhões.
Fazer o investimento com o foco apenas no curto prazo, pensando somente em receber os dividendos, no entanto, pode não valer a pena.
Para Bruce Barbosa, sócio da casa de análise de investimentos Nord Research, comprar as ações apenas com a ideia de embolsar os dividendos não faz sentido.
Isso porque, no dia seguinte à data de corte estabelecida pela Petrobras, explica o especialista, o valor das ações será automaticamente descontado pelo valor correspondente do dividendo distribuído por ação.
Portanto, o investidor que comprar as ações até o dia 11 de agosto vai embolsar os dividendos, mas, no dia seguinte, os papéis iniciarão o pregão já com o desconto correspondente à remuneração por ação anunciada pela Petrobras, afirma Barbosa.
"O valor financeiro detido pelo investidor não muda, o que ocorre é apenas uma distribuição em cima daquele montante que ele tem investido na ação."
O sócio da Nord afirma que existe a possibilidade de as ações se valorizarem nos pregões seguintes à data de corte, recompondo o valor descontado do dividendo distribuído, mas que não há como ter certeza se esse movimento irá se concretizar.
"As ações são negociadas em múltiplos baratos na comparação com os pares, mas por conta do risco de ingerência política intrínseco ao ativo", afirma Barbosa, que diz preferir outros papéis do setor, como PetroRio e PetroReconcavo, que também se beneficiam do cenário positivo para as exportadoras de petróleo, sem incorrer no risco político.
"A estratégia de comprar um ativo para embolsar os dividendos, pensando só no curto prazo, não é interessante," endossa Enrico Cozzolino, chefe de análise e sócio da Levante Investimentos. "O dividendo é interessante quando o investidor investe pensando no longo prazo, se beneficiando da distribuição e da valorização dos papéis em janelas mais longas."
Cozzolino acrescenta que, além do desconto sofrido pelas ações, o fato de a empresa anunciar um dividendo tão elevado indica que a estatal está dando preferência a remunerar os investidores em detrimento a manter parte desse valor em caixa para investir em novos projetos de expansão para o negócio.
Analista de ações da Toro Investimentos, Josias de Matos diz ainda que a distribuição de dividendos não é apenas resultado do bom momento financeiro da companhia, mas também fruto de pressão política por parte do governo federal. "Não à toa os dividendos anunciados foram tão agressivos e acima do previsto, e do que consideramos que seria distribuído caso não tivesse havido essa pressão externa", afirma o analista da Toro.
De todo modo, apesar do desconto referente ao dividendo pago, e das pressões políticas, analistas avaliam também que as perspectivas para a companhia frente à conjuntura econômica do setor de óleo e gás permanecem positivas e devem manter os papéis da petroleira na recente trajetória de valorização no acumulado de 2022, até 1º de agosto, os papéis sobem cerca de 18,4%, contra a queda de 2,5% do Ibovespa no período, segundo dados da Bloomberg.
"O risco de ingerência política é muito forte, e até por isso que a Petrobras é negociada a múltiplos mais baratos em comparação aos pares internacionais. No entanto, isso é algo que já está no preço e, ainda assim, considero Petrobras uma ação barata na Bolsa", diz o sócio da Levante.
Segundo Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, investir nas ações da Petrobras representa uma boa oportunidade neste momento, considerado o balanço operacional saudável e a conjuntura favorável que a empresa atravessa, com os preços do petróleo no mercado internacional ainda em níveis bastante elevados.
"Vimos nos resultados do segundo trimestre que a Petrobras teve novamente uma fortíssima geração de caixa, sendo que os valores anunciados de dividendos estão em linha com a capacidade financeira da companhia", afirma Arbetman.
Analista da Senso Investimentos, João Frota Salles diz que também vê o atual momento da Petrobras, beneficiada pelo preço do petróleo e pelos ganhos de eficiência operacional promovidos nos últimos anos, como uma boa oportunidade a ser capturada pelos investidores.
"As premissas macroeconômicas de médio e longo prazo continuam muito favoráveis à Petrobras", diz o especialista, acrescentando que, mesmo que a cotação do petróleo no mercado global passe por um ajuste e recue para a casa dos US$ 65, ainda assim, a petroleira seguirá com uma geração de caixa robusta, uma vez que o custo de extração do petróleo na área do pré-sal está hoje em torno de US$ 20 por barril.
A questão é que as perspectivas para a companhia a partir de 2023 ainda são uma grande incógnita na cabeça dos investidores, afirma Salles. Ele lembra que, em caso de reeleição do governo Bolsonaro, uma privatização da Petrobras é uma possibilidade no radar, o que poderia trazer um novo impulso para os papéis.
Já se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) confirmar o favoritismo indicado nas pesquisas de intenção de voto, o direcionamento tende a ser o oposto, com a empresa possivelmente retomando a estratégia de investimentos em áreas que não são prioritárias para o seu negócio, diz o analista da Senso.
"Uma escalada nas interferências políticas na Petrobras poderá impactar negativamente na percepção e nas expectativas dos investidores em relação à companhia, o que, em última instância, impactaria nos seus resultados e na sua saúde financeira como um todo, o que afetaria de maneira significativa a capacidade de remunerar os acionistas", afirma Matos, da Toro.
Mesmo com as incertezas que pairam acerca da condução da Petrobras no próximo ano, os papéis da petroleira seguem presentes nas carteiras recomendadas de bancos e corretoras para o mês de agosto.
"Vemos a estatal cada vez mais eficiente, com margens recorrentemente apresentando melhoras, e o endividamento progressivamente encolhendo", apontam os analistas da Guide Investimentos, que mantiveram os papéis da petroleira no portfólio sugerido para agosto.
A distribuição aprovada pela petroleira estatal supera os proventos pagos pelas principais empresas do setor em escala global.
As cinco maiores produtoras de petróleo do Ocidente Exxon Mobil, Chevron, Shell, TotalEnergies e BP publicaram recordes em distribuições a seus acionistas nos últimos dias, entre US$ 4 bilhões e US$ 7,6 bilhões, mas não chegam perto do valor de aproximadamente US$ 17 bilhões da Petrobras.
Os dividendos da Petrobras, contudo, ainda são menores do que os da estatal saudita Saudi Aramco, maior empresa petroleira do mercado global, que tem distribuído US$ 18,7 bilhões a seus acionistas por trimestre. O próximo valor de seus dividendos será publicado no dia 14 de agosto.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta