O avanço da crise econômica gerada pelo novo coronavírus fez o Copom (Comitê de Política Monetária), do Banco Central, cortar a taxa Selic a 3,75% ao ano. O comunicado indica que o BC manterá a Selic neste patamar na próxima reunião.
No comunicado, o BC frisou os impactos da pandemia, com forte desaceleração no crescimento global, queda no preço das commodities e aumento da volatilidade nos mercados. "Nesse contexto, apesar da provisão adicional de estímulo monetário pelas principais economias, o ambiente para as economias emergentes tornou-se desafiador", diz decisão.
O BC ressaltou que os dados da atividade econômica divulgados no último Copom estavam alinhados ao processo de recuperação gradual da economia brasileira, mas ainda não refletiam os impactos do Covid-19.
"O Comitê avalia que diversas medidas de inflação subjacente se encontram em níveis compatíveis com o cumprimento da meta para a inflação no horizonte relevante para a política monetária", traz comunicado.
Com base em cenário híbrido, com taxa de mercado e taxa de câmbio constante a R$ 4,75, as projeções do Copom para a inflação ficam em torno de 3,0% para 2020 e 3,6% para 2021. Esse contexto supõe trajetória de juros que encerra 2020 em 3,75% ao ano e se eleva até 5,25% ao ano em 2021.
No cenário com taxa de juros constante a 4,25% ao ano e taxa de câmbio constante a R$ 4,75, as projeções para a inflação são de 3,0% para 2020 e 3,6% para 2021. O Copom ressaltou que, em seu cenário básico para a inflação, "permanecem fatores de risco em ambas as direções."
O comitê enfatizou também a importância da continuidade do processo de reformas e ajustes necessários na economia.
Nesta semana, o mercado reduziu as expectativas para o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) de 2020, que passou de 1,99% para 1,68%, de acordo com o relatório Focus do Banco Central. A projeção para o dólar no fechamento do ano aumentou de R$ 4,20 para R$ 4,35. A previsão para a inflação também caiu de 3,20% para 3,10%.
Segundo economistas consultados pela Bloomberg, o corte de 0,50 ponto percentual era o esperado pelo mercado, ainda que nos últimos dias tivesse crescido a pressão por redução mais drástica.
As expectativas para a queda da Selic se consolidaram no início do mês, quando o BC divulgou uma nota afirmando que, com o avanço da Covid-19 pelo mundo, estava monitorando atentamente a pandemia.
A autarquia indicou que a taxa básica de juros deveria permanecer em queda. Na reunião anterior (fevereiro), quando o comitê cortou a taxa em 0,25 ponto percentual, a autoridade monetária havia anunciado que não haveria mais cortes. O juro estava em 4,25% ao ano.
Ao longo da semana, o BC sofreu forte pressão para intensificar a queda da Selic. Depois que o Fed (Federal Reserve) anunciou, no domingo (15), corte na taxa de juros norte-americana em reunião extraordinária, que ficou entre de 0% e 0,25%, aumentaram as expectativas para que o comitê intensificasse o corte na taxa Selic.
Desde dezembro de 2017, os juros renovam as mínimas históricas.
Agora, economistas divergem, principalmente, com relação à manutenção da taxa na próxima reunião, em 6 de maio. Marco Ross, economista sênior da XP Investimentos, acredita que o BC tentou afastar o protagonismo da autoridade monetária na retomada da atividade econômica.
"O comunicado enfatizou a importância da continuidade das reformas fiscais. O corte de meio ponto era previsto, mas o tom do comunicado em si gerou surpresa. Eu diria que foi conservador e não vejo claramente algum ganho em sinalizar a manutenção da taxa na próxima reunião", pondera.
José Francisco Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, ressalta que o comitê não está seguro para continuar o ciclo de redução da Selic, mas acha que a decisão poderia ter sido mais agressiva. "Os efeitos da crise do coronavírus na economia ainda não está nos dados disponíveis, mas é certo que a atividade econômica vai piorar. Então, não há como prever melhora até a próxima reunião", coloca.
Alguns analistas apostavam em um corte mais intenso. "Nossa projeção era de corte de 1 ponto percentual. Acredito que, neste contexto, a realidade vai acabar se impondo e o BC terá de cortar juros antes da próxima reunião", projeta Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Fibra.
Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos também previa uma queda mais brusca, para 3,5%. "Apesar de sugerir manutenção da taxa na próxima decisão, o comunicado reconhece que novas informações são essenciais para definir o próximo passo."
Para Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos, o corte deveria ter sido mais intenso. "Este patamar me parece pouco diante do cenário que se desenha. As projeções do PIB estão sendo revistas para baixo, há muita incerteza e números muito discrepantes. Acredito que, no mínimo, o BC poderia ter deixado as portas abertas para um novo corte daqui a 45 dias. Em condições normais talvez fosse suficiente, mas não é o caso", salienta.
Já Marcel Balassiano, pesquisador da área de Economia Aplicada do FGV/Ibre, acredita que, por se tratar de uma crise de saúde, que afeta o dia a dia e, especialmente, o setor de serviços, as medidas fiscais são mais eficientes do que as de política monetária.
"Nos últimos dez anos a Selic caiu 10 p.p. e a economia continuou fraca, o que leva a crer que não só juros baixos garantem a retomada da atividade econômica e essa não é a função do BC. Acredito que, com as incertezas, a autoridade monetária acertou em ter cautela", diz.
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