O Banco Central (BC) afirma que as incertezas quanto à evolução da pandemia e ao quadro fiscal do país podem gerar uma retomada ainda mais gradual da atividade econômica brasileira. A avaliação foi publicada na ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) nesta terça-feira (15).
"Os programas governamentais de recomposição de renda têm permitido uma retomada relativamente forte do consumo de bens duráveis e do investimento. Entretanto, os dados recentes continuam refletindo uma recuperação desigual da atividade econômica", diz o texto.
"A pouca previsibilidade associada à evolução da pandemia e ao necessário ajuste dos gastos públicos a partir de 2021 aumenta a incerteza sobre a continuidade da retomada da atividade econômica. O Comitê ponderou que os riscos associados à evolução da pandemia podem implicar um cenário doméstico caracterizado por uma retomada ainda mais gradual", avaliou.
Na última quarta-feira (9), o Copom manteve a taxa básica de juros (Selic) em 2% ao ano. A definição desta ocorreu em meio à pressão inflacionária, especialmente com a alta nos preços de alimentos e combustíveis.
O BC reforçou que considera que o choque na inflação é temporário, mas afirmou que "segue monitorando sua evolução com atenção".
A Selic é o principal instrumento do BC para controle da inflação. Quando o índice está alto, o BC sobe juros, o que diminui o consumo e equilibra os preços. Caso contrário, o BC pode reduzir juros para estimular a economia.
O comitê sinalizou que deve manter a taxa no mesmo patamar na próxima reunião, mas, com a aceleração nos preços, anunciou que abandonará em breve o compromisso de não subir juros.
Nas últimas decisões, o BC adotou um instrumento adicional de política monetária, chamado de "forward guidance", ou prescrição futura. Nele, o Copom garante ao mercado que não subirá juros a menos que as expectativas de inflação sejam elevadas acima da meta ou que o regime fiscal seja alterado.
Como o comitê avalia que a taxa Selic está próxima do seu limite mínimo, o BC teve que recorrer ao recurso para tentar diminuir a especulação em torno da taxa básica de juros futura e aumentar o estímulo à economia sem cortar ainda mais os juros.
A autoridade monetária, no entanto, reafirmou que a retirada do forward guidance não significa necessariamente que haverá aumento automático de juros.
"A manutenção desse cenário de convergência da inflação sugere que, em breve, as condições para a manutenção do forward guidance podem não mais ser satisfeitas, o que não implica mecanicamente uma elevação da taxa de juros pois a conjuntura econômica continua a prescrever estímulo extraordinariamente elevado [juros baixos] frente às incertezas quanto à evolução da atividade", ressaltou a ata.
Com maior tendência a subir juros no próximo ano, o país pode atrair mais capital estrangeiro, fazendo com que o real se valorize e o dólar caia.
No cenário externo, o BC afirma que a baixa atividade econômica por período prolongado, associada ao juros baixos nas principais economias cria um ambiente favorável a países emergentes.
"A presença de ociosidade, assim como a comunicação dos principais bancos centrais, sugere que os estímulos monetários terão longa duração, permitindo um ambiente favorável para economias emergentes", disse o texto.
Para o BC, a segunda onda em algumas das principais economias deverá afetar a atividade econômica no curto prazo. No entanto, os resultados promissores nos testes das vacinas contra a Covid-19 tendem a trazer melhora da confiança e normalização da atividade no médio prazo.
O BC reiterou que a importância da continuidade das reformas econômicas, em tramitação no Congresso.
"O Copom avalia que perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia. O Comitê ressalta, ainda, que questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia", disse.
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