> >
Crianças se preparam para o mercado e para a vida

Crianças se preparam para o mercado e para a vida

Elas são estimuladas desde cedo a desenvolverem habilidades que serão importantes no futuro

Publicado em 6 de abril de 2019 às 23:33

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
Jamile Chamum estimula o filho Murilo a desenvolver habilidades diversas. (Fernando Madeira)

Aulas de vendas, inglês, musicalização, oficina de teatro. Parece rotina de universitário, né? Mas trata-se do dia a dia de crianças. A rotina “de gente grande” tem um motivo: é que as diferentes atividades contribuem para tornar os pequenos pessoas mais sensíveis, criativas e comunicativas, habilidades essas que vão auxiliar no futuro pessoal e profissional deles.

Por isso, segundo especialistas, cada vez mais escolas estão oferecendo aulas que vão além da grade curricular obrigatória como com o ensino bilíngue, artes e educação financeira, tudo de forma lúdica. Mas a ideia é que o estímulo não aconteça só em sala de aula.

O desenvolvimento também deve ser incentivado no âmbito familiar. Com o ensino vindo de todos os lados, as crianças vão estar mais preparadas para um mercado de trabalho cada vez mais competitivo e para uma vida cheia de desafios.

A psicóloga e doutora em Psicologia do Desenvolvimento Grace Rangel chama a atenção para a importância das crianças realizarem diferentes tipos de atividades, o que irá contribuir para aumentar o repertório de habilidades.

“Cada vez que expomos a criança a uma atividade de forma natural e adequada à idade, faz com que o conhecimento tenha mais chance de virar uma competência no futuro”, diz a especialista acrescentando que essas habilidades são cada vez mais exigidas no mercado. E complementa: “Não basta expor o conteúdo. É preciso que faça sentido. A criança precisa ver utilidade.”

No Estado, a Escola Canadense é umas das instituições de ensino com foco multidisciplinar. Ela oferece, por exemplo, ensino bilíngue para crianças a partir de 1 ano e meio. A coordenadora pedagógica do colégio, Roxanne Pereira, aponta as vantagens. “O cérebro bilíngue busca soluções inovadoras para problemas, além de ter as funções mentais mais aprimoradas, o que incrementa habilidades sociais.”

Além disso, na escola, os alunos são incentivados a desenvolverem o senso crítico. “Levam um livro para ler em casa e, depois, comentam se gostaram ou não, e o porquê. Assim, aprendem a questionar, falar em público e lidar com a visão do outro”.

Futuro

Murilo Chamun, de 2 anos, iniciou os estudos na Escola Canadense em fevereiro. De lá pra cá, a mãe Jamille Chamun já observa as vantagens da imersão no inglês. “Em casa, já canta músicas em inglês e interage bem mais com as crianças. Na escola, é preparado para ser um agente de transformação no futuro. Para se destacar no mercado.”

Na escola, os alunos também aprendem, de forma lúdica, matemática com um olhar para a educação financeira. Por exemplo, por meio de jogos. A coordenadora explica uma das formas: “Vendem e compram ursinhos. Como podem pagar? Com uma nota de R$ 10. E perguntamos: há outra forma? E isso exercita a criança a pensar, por exemplo, em duas notas de R$ 5. A criança tem o próprio caminho a traçar para chegar ao resultado.”

O Centro de Educação Infantil Jeito de Ser oferece, por sua vez, a musicalização e a contação de histórias. Para a diretora, Adriana Dalla Bernardina, a música é essencial na educação infantil. “Contribui para o desenvolvimento psicomotor, social, afetivo e cognitivo, além de facilitar a aprendizagem”, explica. Adriana diz ainda que a música desenvolve a sensibilidade, memória e concentração nos alunos. Fatores que podem tornar a pessoa um profissional mais produtivo lá na frente.

PLANEJAMENTO FINANCEIRO NA INFÂNCIA

A educação financeira já na infância desenvolve habilidades úteis na vida da criança. É o que avalia a psicóloga e doutora em Psicologia do Desenvolvimento Grace Rangel. “Há ganhos cognitivos e comportamentais”, frisa.

Para ela, a educação financeira não é só uma questão de poupar. A criança aprende o valor do dinheiro e do planejamento. “Não é dar apenas a capacidade de usar o dinheiro para obter bens, mas qualidade de vida. De saber colocar preço no seu serviço”, diz.

A família Francischetto sabe bem disso. Gustavo, de 9 anos (na época com 7), pediu ao pai, o assessor de investimentos Thiago Francischetto, um videogame. O pai viu no pedido uma chance de ensiná-lo sobre planejamento financeiro. “Falei com ele: como vamos conquistar?” Propôs para o filho: poupar dinheiro da semanada (quantia que recebia dos pais) e vender brinquedos que não usava mais. Thiago pagava ainda 5% de juros sob a quantia poupada.

Além disso, o pai orientou o filho a passar a argumentar com familiares o porquê de merecer a colaboração em dinheiro. “Ao invés de presentes caros no aniversário, o foco foi a compra do videogame”, relembra. O irmão, Vinícius, na época com 5 anos, também ajudou no projeto.

E o resultado de tanto empenho? Os meninos conseguiram comprar o game. “Viram que podem, por meio de planejamento, atingir o objetivo. Foi ótimo para controlar a ansiedade e o imediatismo.” A experiência da família virou livro: “Plano Infalível Para Comprar um Videogame”.

Para o pai, a experiência vai ajudar no futuro. “Podem aplicar em outra situação. Independentemente da profissão que venham a ter, uma boa gestão faz diferença.”

PAIS DEVEM ESTAR ATENTOS ÀS APTIDÕES DOS FILHOS

O estímulo de habilidades em casa é essencial para o desenvolvimento da criança. Quanto mais os pequenos são expostos a diferentes atividades – como pinturas, brincadeiras ao ar livre, música, entre outros – , mais eles irão adquirir capacidades como articulação e adaptação a diferentes situação da vida. Para especialistas, essas experiências influenciam positivamente no futuro.

A psicóloga Jessica Figueiredo explica que o ensino em casa é muito importante e que ele pode acontecer de uma forma leve, como por meio de brincadeiras.

Alguns exemplos divertidos citados pela profissional na hora de reforçar outro idioma em casa, por exemplo, pode ser no momento em que a família está cozinhando. “Tem que ser lúdico. Podem cozinhar juntos, ensinando nome de alimentos e frutas em outra língua”. Para Jessica, é importante inserir o segundo idioma nas atividades diárias, de forma natural, e não como obrigação.

Fábio Vargas e Meire Vargas incentivam o desenvolvimento da filha Valentina, de 6 anos, por meio de atividades como a pintura . (Marcelo Prest)

A psicóloga destaca, ainda, ser essencial saber os limites da criança. “É preciso que o estímulo venha de acordo com que a criança tenha curiosidade, na medida. Se é algo que ela não gosta, vai se tornar chato, tedioso”, explica.

E foi assim, por iniciativa da própria filha, que a servidora pública Lívia Peixoto percebeu que Lara, de dois anos e seis meses, curte as aulas de inglês na escola. “Um dia chegamos em casa brincando com ela, como sempre fazemos. Na hora de tomar remédio, que é de duas cores, Lara disse “quero o remédio pink (rosa) e blue (azul). A partir dali, começamos a estimular o idioma”, conta a mãe.

Lara tem aulas de inglês na creche onde estuda, em Vitória, há dois meses. Em casa, os pais a apoiam inteiramente e dão total atenção. “Nós sempre respeitamos o limite dela. Ela mostrar o que quer, direcionar as brincadeiras, torna tudo mais divertido”, conta Lívia.

Os pais destacam, também, que aproveitam por completo os momentos em que estão com a filha. “O tempo que passamos juntos considero de muita qualidade. Eu ouço o que ela tem pra falar comigo. Estimular a criança faz com que ela se sinta valorizada”, relata.

Na creche, Lara também exercita outras competências, como a criatividade e a atividade física. A menina participa de contação de histórias, educação física e capoeira.

Lívia e Márcio estimulam a filha Lara, de 2,6 anos, a aprender inglês. (Vitor Jubini)

“Em casa, nós sempre a levamos para ambientes externos. Para ter contato com a natureza e os animais. Ela também adora andar de patinete”, diz a mãe. E, após a entrada da menina na creche, a família percebeu o desenvolvimento de habilidades. “Com contato com outros amigos, ela está mais segura e socializa bastante”, observa a mãe.

Sem pressão

Cada criança tem o próprio tempo de desenvolvimento, ressalta a psicóloga Jeany Nascimento. Por isso, é importante que a criança se desenvolva de acordo com o que exige cada etapa da vida.

“No caso das crianças muito pequenas, brincadeiras são importantes. Desenvolver habilidades ajuda a se destacar lá na frente, no mercado de trabalho, mas o processo durante a infância tem de ser dosado. Sem pressão”, orienta.

E é por meio de atividades lúdicas que os empresários Fábio Vargas e Meire Vargas incentivam as habilidades que a filha, Valentina Vargas, 6, aprende na escola.

“Faz parte do nosso dia a dia. Ajudamos nos exercícios propostos, além de inventarmos brincadeiras que auxiliam no desenvolvimento, como pintura, montagem, música, jogos, entre outros”, relata o pai. Fábio acrescenta, ainda, que os exercícios lúdicos de matemática, com o ato de brincar, proporcionam desenvolvimento intelectual e cognitivo da filha. “O importante é que todos se divirtam”, afirma.

A menina estuda em um colégio bilíngue, e isso, segundo o pai, auxilia no futuro da filha.

“Ser fluente em outro idioma é praticamente um pré-requisito no mundo globalizado em que vivemos. Esse domínio expande a visão do mundo, nos permite a comunicação com novas culturas e pessoas bem diferentes. Abre oportunidades em nosso país e em todo o mundo”, finaliza Fábio.

SAIBA MAIS

Ações para o desenvolvimento das crianças

IDIOMA

Benefícios

Crianças bilíngues têm mais facilidade de concentração e de enxergar situações e resoluções de diferentes maneiras.

Como desenvolver?

- Em escolas que oferecem o ensino bilíngue;

- Em casa, por meio de desenhos infantis, jogos educativos e brincadeiras;

- Especialistas dizem para inserir de forma natural. Por exemplo, na hora de cozinhar. Os responsáveis podem mostrar, em outro idioma, o nome de frutas, legumes e verduras.

EDUCAÇÃO FINANCEIRA

Benefícios

Especialistas afirmam que o mercado, no geral, estimula o consumismo. Por isso, saber o valor do dinheiro ajuda a criar consciência na hora da compra. Além disso, a criança aprende a importância do planejamento desde cedo.

Como desenvolver?

- A educação financeira pode ser estimulada por meio de brincadeiras lúdicas, como venda e compra de produtos e jogos de raciocínio lógico.

- Na hora de comprar algum produto, pais podem ensinar a criança a poupar dinheiro para adquirir o item desejado.

MUSICALIZAÇÃO

Benefícios

Estimula sensibilidade, memória, concentração, afetividade e criatividade.

Como estimular?

Escolas oferecem aulas de musicalização, oficina de teatro e contação de histórias. Além disso, pais podem levar os pequenos a museus, peças de teatro e cinema.

ESTÍMULO FAMILIAR

Benefícios

Desenvolvimento de habilidades sociais, estímulo à comunicação e à educação financeira; novas formas de enxergar e resolver os desafios da vida

Este vídeo pode te interessar

Prestar atenção nas áreas de interesse da criança e estimular com jogos de raciocínio lógico, pinturas, desenhos, etc.

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais