A nota divulgada nesta quinta-feira (2) pela Febraban (Federação Brasileira de Bancos), na qual a entidade reafirmou apoio ao manifesto "A Praça é dos Três Poderes", em defesa da harmonia institucional no país, irritou a direção da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil.
Na visão da cúpula dos bancos, as duas instituições públicas perderam motivos para abandonar a federação, algo que cogitavam não somente pela adesão à carta, mas também por discordarem da forma como a diretoria-executiva da organização conduz discussões no conselho, formado por 18 bancos.
Na nota, a Febraban disse que, em seu âmbito, o assunto está encerrado e "não ficará mais vinculada às decisões da Fiesp [Federação das Indústrias do Estado de São Paulo], que, sem consultar as demais entidades, resolveu adiar sem data a publicação do manifesto".
O documento, elaborado nas últimas semanas, veio a público, reunia assinaturas de mais de 200 entidades e tinha previsão para ser publicado até a terça-feira (31).
A coordenação da coleta de adesões e divulgação estava a cargo da Fiesp, mas o presidente da entidade, Paulo Skaf, adiou a sua publicação após reações do governo Jair Bolsonaro (sem partido).
Pessoas que participaram da reunião da Febraban na manhã desta quinta afirmaram que Caixa e BB expressaram desconforto diante da manutenção do conteúdo das diversas versões do manifesto.
Também fizeram críticas à nota por ter delegado à Fiesp a responsabilidade pela "coordenação do processo de coleta de assinaturas" e de sua publicação.
Bancos privados de menor porte teriam saído em apoio aos dois bancos públicos por entenderem que houve quebra de confiança na forma como o assunto foi conduzido pela diretoria da Febraban. Por isso, pediram uma nova reunião para discutir "os procedimentos internos" daqui para frente.
Ainda segundo relatos, essas instituições consideraram que teria sido melhor uma reunião de diretoria para discutir o manifesto. Afirmaram que só receberam o conteúdo por email para votação e, posteriormente, ficaram sabendo da divergência aberta pelos bancos estatais.
Com a nota da Febraban para pôr fim ao episódio, Caixa e BB ficaram sem motivos para levar adiante o plano inicial de abandonar a entidade.
Esse movimento só será retomado caso a Febraban volte atrás e assine o manifesto que a Fiesp adiou para meados de setembro.
Neste momento, diante da declaração pública de que não tratará mais do documento, a debandada das duas instituições federais seria interpretada como um ato em defesa do governo Bolsonaro --algo que demonstraria o aparelhamento político das instituições.
Apesar da pressão contrária de Caixa e BB e do adiamento da divulgação oficial, a entidade reiterou a concordância com o teor do documento em elaboração pela Fiesp.
A Febraban considera que o conteúdo do manifesto, aprovado por sua governança própria, foi amplamente divulgado pela mídia do país, cumprindo sua finalidade. A federação manifesta respeito pela opção do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, que se posicionaram contrariamente à assinatura do manifesto", afirmou.
Como o conteúdo do manifesto se tornou de conhecimento geral, a entidade escreveu já cumpriu "o seu papel ao se juntar aos demais setores produtivos do Brasil num pedido de equilíbrio e serenidade, elementos basilares de uma democracia sólida e vigorosa".
O manifesto desagradou ao governo, que via no texto críticas à gestão Bolsonaro.
O presidente vem aumentando os ataques à democracia e, em especial, ao STF (Supremo Tribunal Federal). Ele fez Caixa e BB ameaçarem abandonar a Febraban caso o documento fosse divulgado com a assinatura dos bancos públicos.
A decisão de Skaf de adiar a publicação do documento é atribuída por empresários a uma deferência a Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados. Skaf estaria em débito com o parlamentar, que acatou pleitos do setor na reforma do Imposto de Renda.
Pedro Guimarães, presidente da Caixa, tentou deter a adesão institucional do setor bancário ao texto.
Fausto Ribeiro, presidente do Banco do Brasil --e que faz parte do conselho diretor da Febraban, assim como Guimarães--, apoiou a posição da Caixa, elevando a pressão na entidade, até que a divergência se tornou pública no sábado (28).
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