Em dia com agenda doméstica esvaziada, o mercado de câmbio acompanhou os movimentos do dólar no exterior. A moeda norte-americana operou volátil ante o real pela manhã, mas passou a cair no começo da tarde, refletindo a perda de fôlego da divisa dos Estados Unidos ante moedas fortes e emergentes, sobretudo de exportadores de commodities, com o peso chileno sendo uma das raras exceções, por conta do avanço da esquerda nas eleições parlamentares do fim de semana. O desmonte de posições contra o real, principalmente de estrangeiros, voltou a ganhar força na B3 e em Chicago, onde os investidores passaram a ter posição comprada nos futuros da moeda brasileira, ou seja, apostando em sua valorização, o que não acontecia desde agosto de 2019.
Após bater na máxima de R$ 5,32 mais cedo, o dólar acabou fechando mais perto da mínima do dia, de R$ 5,24, encerrando a segunda-feira, 17, em leve queda de 0,09%, a R$ 5,2663. No mercado futuro, o dólar para junho cedia 0,16% às 17h40, a R$ 5,2710.
Para o sócio e diretor de Investimentos da Kairós Capital, Fabiano Gomes Godoi, o real ainda tem espaço de valorização adicional pela frente, refletindo um ambiente de melhora dos números da pandemia, por conta do avanço da vacinação, que pode levar a alguma recuperação da popularidade de Jair Bolsonaro, abrindo espaço para o avanço da agenda de reformas no Congresso. "Esta janela está condicionada ao ambiente lá fora permanecer tranquilo. Caso o ambiente exterior se deteriore com as expectativas inflacionárias crescentes, as coisas aqui ficam bem mais difíceis."
Esta janela para a melhora do real e outros ativos brasileiros, como o Ibovespa, que nesta segunda-feira tocou os 123 mil pontos, avalia Godoi, pode durar no máximo até outubro, quando deve começar a ganhar ainda mais forte o debate das eleições de 2022 e os ativos tendem a ficar mais voláteis. "Não é estrutural essa melhora, mas conjuntural. O Brasil não fez a lição de casa no fiscal", afirma o executivo da Kairós.
Nesta segunda, declarações do vice-presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Richard Clarida, ajudaram a enfraquecer o dólar mundialmente, além de números positivos da China. O dirigente voltou a reforçar que a economia americana precisa dos estímulos extraordinários do Fed. Uma das provas é o mercado de trabalho, ainda com 8 milhões de postos perdidos na pandemia.
A diretora de estratégia de câmbio da gestora BK Asset Management, Kathy Lien, observa que indicadores mais fracos que o esperado da economia norte-americana estão ajudando a fortalecer outras moedas ante o dólar, como as ligadas a commodities. Mas o mercado vai seguir monitorando os dados de inflação, que passou a virar uma preocupação mundial nesta retomada da economia. Alguns bancos centrais estão mais propensos a agir do que outros, destaca ela. As moedas que mais vão se apreciar são justamente a destes países. No Brasil, o real vem reagindo ao aumento de juros pelo Banco Central e sinalização de mais altas pela frente.
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