A tramitação da PEC dos Precatórios e o aumento das incertezas sobre a evolução da política fiscal no ano eleitoral de 2022 têm gerado uma paulatina deterioração nas expectativas dos agentes de mercado em relação ao crescimento da economia, inflação e juros ao longo das últimas semanas.
O presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, reconheceu que as manobras recentes do governo para financiar o pagamento do Auxílio Brasil, e até mais do que isso, a maneira como elas foram executadas, bem como os questionamentos em relação ao potencial de crescimento da atividade econômica doméstica no longo prazo, ajudam a alta na curva de juros futuros do país.
"Pagamos um preço em termos de credibilidade muito grande para um desvio fiscal que não é tão grande, mas existe uma percepção [do mercado] de que a forma como foi feita abalou o arcabouço fiscal que existia", afirmou Campos Neto, durante encontro anual de dirigentes da Febraban nesta terça-feira (30).
Os prêmios na curva de juros, que precificam as projeções do mercado para a taxa básica de juros (Selic) à frente, operavam em queda nesta manhã na B3. Por volta das 11h45, as taxas dos títulos com vencimento em janeiro de 2023 recuavam de 11,88% no fechamento da véspera para 11,80%. No caso dos títulos para 2027, a queda era de 11,57% para 11,46%.
Campos Neto afirmou também que, com o mercado cada vez mais tentando vislumbrar qual será o cenário macroeconômico global no pós-pandemia, um questionamento que tem surgido com recorrência diz respeito ao crescimento estrutural que o Brasil conseguirá entregar nos próximos anos.
"O que começou a entrar nesse preço de prêmio de risco nas curvas longas é essa dúvida em relação a qual é a nossa capacidade de crescer estruturalmente. Lembrando que, quando a gente olha para trás, nos últimos seis, sete anos, o crescimento estrutural no Brasil foi bastante baixo".
Presidente da Febraban (Federação Brasileira de Bancos) e ex-diretor do BC, Isaac Sidney lembrou da importância da aprovação da autonomia da autoridade monetária, ocorrida no início de 2021, em especial neste momento de fortes pressões inflacionárias no Brasil e no exterior.
"O Banco Central passa por uma prova de fogo, mas a nossa firme expectativa é que a independência formal que o Congresso lhe conferiu, com o referendo constitucional do Supremo, faça toda a diferença para que, sem qualquer hesitação, o guardião da nossa moeda possa lidar com as fortes pressões inflacionárias da economia global e doméstica", afirmou Sidney.
Já o presidente do conselho diretor de Febraban e copresidente do conselho do Itaú Unibanco, Pedro Moreira Salles, disse que, embora ainda seja necessária alguma dose de cautela com os riscos trazidos pela pandemia e suas variantes, já é possível olhar para 2022 com um pouco mais de otimismo.
"Se não podemos afirmar que chegamos ao final da crise, é justo reconhecer que iremos atravessá-la, e mais ainda, que o pior, definitivamente, já passou".
O executivo disse também que o setor bancário está bem preparado para enfrentar a concorrência representada pelos bancos digitais e fintechs de toda sorte.
"Há quem diga que o setor bancário, tal como conhecemos, irá desaparecer para dar lugar a uma nova realidade. Não é essa a minha visão. É da natureza dos bancos se adaptar a novos cenários. Para onde quer que as fronteiras da inovação levem o mercado financeiro - com novas plataformas, novas moedas, nova regulação ou novas modalidades de contato com os clientes -, o setor bancário continuará a ser o seu componente central e definidor", disse Salles.
"Em vez de reclamar do vento, aqui sempre preferimos ajustar as velas. E acho que fizemos isso mais uma vez", acrescentou.
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