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Dólar bate R$ 6,20 e recua com intervenção do BC, mas fecha em nível recorde

Dólar bate R$ 6,20 e recua com intervenção do BC, mas fecha em nível recorde

Em sessão de alta volatilidade, moeda norte-americana atingiu o maior valor nominal da história, a R$ 6,095

Publicado em 17 de dezembro de 2024 às 19:39

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SÃO PAULO - O dólar renovou seu recorde histórico nominal nesta terça-feira (17), com variação positiva de 0,07%, fechando a R$ 6,095. O BC (Banco Central) realizou mais dois leilões extraordinários de câmbio nesta terça, e as intervenções conseguiram desacelerar a alta da moeda americana, que chegou a romper a barreira dos R$ 6,20 na máxima do dia. Mesmo assim, a divisa terminou a sessão em valor recorde pelo terceiro dia consecutivo.

Na Bolsa brasileira, o Ibovespa disparava 1,10%, aos 124.922 pontos, no fim da tarde.

Dólar está em alta
Alta do dólar chegou a romper a barreira dos R$ 6,20 na máxima do dia. (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

Ainda que o valor de R$ 6,095 seja recorde na base nominal – a que desconsidera a inflação do cálculo –, a maior cotação real foi atingida em setembro de 2002, na esteira da primeira eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Corrigido pela inflação, o valor do dólar naquela ocasião seria hoje o correspondente a R$ 8,75.

A conta, feito pela consultoria Elos Ayta, considera a cotação da Ptax – a taxa de câmbio calculada pelo BC (Banco Central) – e ajustes pela inflação brasileira (IPCA) e norte-americana (CPI) até novembro de 2024.

A sessão começou com investidores avaliando a ata do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC, divulgada pela manhã, que aponta que a piora da inflação de curto e médio prazo exigiu postura mais tempestiva e que o cenário se tornou mais adverso com a materialização de riscos.

Na última quarta (11), em seu último encontro de 2024, o Copom elevou, em decisão unânime, a taxa básica de juros (Selic) em 1 ponto percentual, de 11,25% para 12,25% ao ano.

O comitê prevê um aumento de juros de mesma intensidade nas duas próximas reuniões, em janeiro e março de 2025.

Se o cenário se concretizar, a Selic chegará ao patamar de 14,25% ao ano – pico da taxa básica na crise do governo de Dilma Rousseff (PT), entre 2015 e 2016.

Em reação à ata do Copom, o dólar abriu em alta, e o BC vendeu US$ 1,272 bilhão em um primeiro leilão extraordinário logo pela manhã. Mesmo assim, a moeda chegou ao patamar mais alto até então, de R$ 6,20.

Em resposta, o BC realizou o segundo leilão do dia e vendeu US$ 2,015 bilhões, somando US$ 3,287 bilhões apenas nesta terça (17).

Com os dois novos leilões, o BC já injetou US$ 12,76 bilhões no mercado de câmbio desde a última quinta (12).

Os leilões são intervenções do BC no câmbio. Na prática, eles servem para aumentar a quantidade de dólares disponíveis para os investidores, seguindo a lei da oferta e demanda. Ou seja, quanto mais moeda puder ser comprada, menor vai ser a cotação dela.

O recuo mais significativo ocorreu após a confirmação de que a Câmara dos Deputados irá votar o pacote de contenção de gastos do governo Lula (PT) até quarta-feira (18).

O anúncio veio do presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), que fez a ressalva de que a votação não garante a aprovação nem a rejeição das matérias.

Ele afirmou que a ideia é que a Câmara vote nesta terça o projeto de lei complementar, que impõe limitação para a concessão de créditos tributários em caso de déficit nas contas públicas e abre brecha para o contingenciamento de emendas parlamentares.

Na quarta, devem ser votados a PEC (proposta de emenda à Constituição) e o projeto de lei, com outras medidas do pacote fiscal.

"Nós vamos votar. Não estou garantindo aprovação nem rejeição. Nós vamos votar, estamos discutindo, conversando, dialogando, encontrando textos para votar. Mas o calendário de votação é esse", disse Lira a jornalistas ao chegar à Câmara.

Analistas consultados pela reportagem avaliam que a alta do dólar persiste devido às incertezas fiscais e à falta de confiança dos investidores na condução econômica do governo brasileiro.

"Essas intervenções [do Banco Central] têm apenas um efeito paliativo. Elas amenizam a alta, mas não resolvem o problema", afirma Lucélia Freitas, especialista em câmbio da Manchester Investimentos.

Para Freitas, o problema central está na questão fiscal e na ausência de medidas efetivas para reduzir as incertezas.

"Sem um pacote eficiente para lidar com essas questões, não há consistência que permita a redução da incerteza. Como resultado, o dólar sobe, a taxa de juros aumenta e a confiança do mercado diminui, criando um ciclo preocupante que afeta diversos setores e traz apreensão para o futuro", diz.

Entre os principais obstáculos na tramitação do pacote fiscal estão a ausência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) das articulações, à medida que se recupera de uma cirurgia em São Paulo, e a questão do pagamento de emendas parlamentares, com investidores apostando que ambos devem travar as medidas.

"Atualmente, o que fortalece tendência de valorização da moeda norte-americana frente ao real é a grande expectativa do mercado para a votação do pacote de corte de gastos", disse João Duarte, sócio da One Investimentos.

Apesar de o BC não ter dito o motivo dos leilões, eles ocorrem em meio à crescente desvalorização do real, com o dólar fechando acima de R$ 6 na maior parte das sessões deste mês em meio à reação negativa do mercado ao duplo anúncio do governo de um pacote fiscal e de uma reforma do Imposto de Renda.

"O ajuste fiscal é o verdadeiro caminho, porém as medidas apresentadas até agora são tímidas e insuficientes, enquanto o governo demonstra resistência a avançar com novas ações. Essa combinação de fraqueza política e falta de vontade para promover o ajuste necessário coloca o país em um beco sem saída", afirma Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.

Operadores afirmam que os leilões foram necessários para driblar a falta de dólares no país, comum nesta época do ano devido a remessas de dinheiro de empresas estrangeiras para as matrizes.

Os bancos estão com aproximadamente US$ 30 bilhões em caixa, segundo dados da Bloomberg, um valor relativamente baixo. Em setembro, por exemplo, o saldo era de US$ 50,6 bilhões.

Geralmente, com o dólar alto e poucos recursos em caixa, bancos relatam a dificuldade ao Banco Central, que faz a venda de dólares à vista.

No mercado exterior, os investidores aguardam a decisão do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) sobre a taxa de juros do país, que será divulgada nesta quarta. Os mercados esperam uma redução de 0,25 ponto percentual na taxa de juros.

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