O tombo global da moeda norte-americana, desencadeado pelo resultado decepcionante da confiança do consumidor nos Estados Unidos, abriu uma janela para uma leve queda do dólar à vista no mercado doméstico na sessão desta sexta-feira (13). Nas primeiras horas do negócio, o dólar até ensaiou uma nova rodada de alta, em meio à percepção crescente de aumento do risco fiscal doméstico, mas acabou cedendo ainda pela manhã, com investidores aproveitando a maré externa para realizar lucros e ajustar posições.
Após descer até a mínima de R$ 5,2211 no início do período da tarde, o dólar recuperou um pouco do fôlego, enquanto investidores monitoravam falas do secretário especial do Tesouro, Bruno Funchal, e do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre a questão fiscal.
No fim do pregão, a moeda norte-americana era cotada a R$ 5,2451, queda de 0,21%. Apesar de tanto vaivém ao longo dos últimos dias, o dólar à vista, que chegou a encostar em R$ 5,30, encerra a semana com variação reduzida (+0,17%). Em agosto, avança 0,68%. Isso reforça a percepção de que há certa rigidez na taxa de câmbio, com o risco fiscal impedindo que o real se beneficie da perspectiva de aperto monetário maior e mais prolongado.
Lá fora, o DXY- que mede a variação do dólar frente a seis moedas fortes - operou em queda firme durante à tarde, abaixo da linha dos 93 mil. A moeda americana também recuou, com raras exceções, em relação a divisas de países emergentes e exportadores de commodities.
O dólar já fraquejava lá fora no início dos negócios e afundou com a divulgação do índice do sentimento do consumidor nos EUA, da Universidade de Michigan: queda de 81,2 em julho para 70,2 na preliminar de agosto, bem abaixo das previsões (81,3). Analistas atribuíram o resultado a preocupações com inflação e avanço da variante Delta, cujo impacto econômico ainda não é mensurável.
"A forte queda nos dados de confiança nos Estados Unidos acabou enfraquecendo a moeda americana diante dos emergentes. Tivemos um reflexo no mercado local, com a cotação do dólar mostrando certo alívio", afirma a economista do Banco Ourinvest Cristiane Quartaroli. "Mas as questões políticas e fiscais permanecem no radar. E podemos esperar mais volatilidade no mercado."
Funchal, do Tesouro, resumiu nesta sexta, ao participar de uma live, o "dilema" do governo, que tenta conciliar pagamento dos precatórios com o desejo presidencial de aumento do Bolsa Família. Haverá espaço fiscal para reajuste do programa social apenas em caso de aprovação da PEC dos Precatórios (premissa que será levada em conta na elaboração da lei orçamentária). Se a proposta for rejeitada pelos parlamentares, o Bolsa Família ficaria como está. Em cerimônia para entrega de moradias populares em Cariri (CE), Bolsonaro voltou prometer reajuste de, pelo menos, 50% no Bolsa Família (rebatizado de Auxílio Brasil) a partir de novembro, data em que acabam os pagamento do auxílio emergencial por conta da pandemia.
Em entrevista a uma rádio, o ministro Paulo Guedes classificou o aumento no valor dos precatórios de assustador e disse que o parcelamento é o único meio de executar o orçamento. "Preferiam que eu rompesse o teto de gastos?", indagou Guedes, argumentado que o parcelamento está previsto na jurisprudência, embora a maioria dos analistas veja o expediente com um calote velado.
Guedes também defendeu a reforma do Imposto de Renda, cuja votação na Câmara foi reprogramada para terça-feira pelo presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), após acordo com lideranças partidárias. As preocupações com o Orçamento de 2022 e as expectativas para a condução da reforma do IR devem continuar a ditar o rumo dos negócios na próxima semana.
Não bastasse todo o estresse fiscal, a crise política parece não dar trégua, com embates crescentes entre Bolsonaro e os demais Poderes. O novo episódio foi a prisão, nesta sexta-feira do presidente do PTB e aliado de Bolsonaro, Roberto Jefferson, ordenada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes.
O estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus, ressalta que um sinal claro dos problemas domésticos é o fato de o dólar por aqui ter operado descolado do cenário externo pela manhã. "Isso demonstra que a preocupação com a política fiscal é gigantesca. A curva de juros não para de subir, com taxas longas já acima de 10%. Os investidores estão muito estressados com o Brasil", afirma.
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