O dólar à vista emendou o segundo dia de queda firme na sessão desta quarta-feira (08), não apenas rompendo a linha dos R$ 5,60 como fechando abaixo do patamar de R$ 5,55 pela primeira vez desde 17 de novembro, quando encerrou o pregão a R$ 5,5242.
O principal indutor para a apreciação do real veio do exterior, em dia marcado por enfraquecimento do dólar tanto em relação a divisas fortes quanto emergentes, na esteira da redução dos temores relacionados aos impactos da variante ômicron sobre a economia global, após a farmacêutica Pfizer informar que três doses de sua vacina são eficazes contra a nova cepa. Além disso, ainda ecoam no mercado dados positivos da balança comercial da China divulgados ontem, que diminuíram os receios de desaceleração da atividade mundial e deram fôlego às commodities
Ao apetite ao risco no exterior somou-se a percepção de menor risco fiscal, na esteira da expectativa pela promulgação, mesmo que parcial, da PEC dos Precatórios (concretizada no fim do dia), após acordo costurado entre os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Embora esperado e em boa medida já incorporado à taxa de câmbio, o provável anúncio de alta da taxa Selic em 1,50 ponto porcentual, para 9,25%, pelo Comitê de Política Monetária (Copom) hoje à noite contribui para dar fôlego ao real.
Afora uma pequena alta pela manhã, quando registrou a máxima do dia, a R$ 5,6362 (0,32%), o dólar operou em terreno negativo durante todo o pregão, rompendo momentaneamente a linha de R$ 5,52 no início da tarde, quando registrou mínima a R$ 5,5267 (-1,63%).
No fim da sessão, o dólar à vista era cotado a R$ 5,5348, em baixa de 1,49%. Com isso, a moeda americana já acumula queda de 2,55% na semana, mais do que devolvendo a alta de 1,50% na semana passada, quando chegou a flertar com os R$ 5,70.
"Existe um apetite ao risco no exterior que está beneficiando todas as moedas emergentes. Tem essa percepção de que a ômicron, embora tenha contágio rápido, não é tão letal e que as vacinas são capazes de contê-la", afirma a economista-chefe do Banco Ourinvest, Fernanda Consorte, acrescentando que, internamente, o mercado também se anima com a proximidade do "fim da novela" da PEC dos precatórios. "A taxa de câmbio se ajusta a esse clima de otimismo no mercado, mas continua longe de estar em patamares bons".
Para Ricardo Gomes da Silva, diretor da corretora Correparti, o alívio na taxa de câmbio deve ter vida curta. O mercado pode voltar a se estressar na próxima semana por conta de dois eventos: a votação, no plenário da Câmara dos Deputados, da parte da PEC alterada pelo Senado e a decisão de política monetária do Federal Reserve, com provável anúncio de aceleração da redução de estímulos. "A verdade é que a questão da PEC ainda não foi resolvida. É preciso ver como vai ser a votação na Câmara. O dólar pode recuperar o patamar de R$ 5,60 na semana que vem", afirma Gomes da Silva.
O diretor da Correparti ressalta que há uma forte demanda represada de importadores por divisas, já que empresas estrangeiras estão exigindo pagamento antecipado para assinar contratos. "Com o dólar acima de R$ 5,65, os importadores ficaram de fora. Agora, vão voltar ao mercado. Não vejo como o dólar cair mais e sustentar abaixo de R$ 5,50."
Dados do Banco Central mostraram que o fluxo cambial foi negativo em US$ 3,398 bilhões em novembro, por conta da saída de US$ 7,174 bilhões via comércio exterior. Já o canal financeiro apresentou entrada líquida de US$ 3,776 bilhões no período. No ano, até 3 de dezembro, o fluxo cambial total é positivo em US$ 14,324 bilhões.
O BC também informou que a posição vendida dos bancos em câmbio à vista subiu de US$ 10,486 bilhões no fim de outubro para US$ 14,956 bilhões, o que sinaliza que houve aumento de remessas ao exterior no mês passado.
Entre os indicadores do dia, o IBGE informou que as vendas no varejo caíram 0,1% em outubro ante setembro (na série com ajuste sazonal) - abaixo da mediana de Projeções Broadcast (+0,6%).
A economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, observa que, diante de sinais reiterados de fraqueza da economia, caíram por terra as apostas em um aperto monetário mais intenso e prolongado, a despeito da piora das expectativas de inflação.
"O Copom deve anunciar alta de 1,5 ponto da Selic hoje. A expectativa fica em torno do comunicado. Pode haver alguma alteração na sinalização do Copom por conta dos dados de atividade fracos e da tratativas da PEC dos Precatórios", afirma Abdelmalack.
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