> >
Dólar dispara e fecha em R$ 5,59 com ruídos na política fiscal

Dólar dispara e fecha em R$ 5,59 com ruídos na política fiscal

Real registra pior desempenho entre moedas globais mesmo em dia positivo no câmbio no exterior

Publicado em 28 de junho de 2024 às 19:44

Ícone - Tempo de Leitura 4min de leitura

SÃO PAULO - O dólar registrou forte alta de 1,5% e fechou cotado a R$ 5,5906 nesta sexta-feira (28), em dia de volatilidade no mercado local e em meio a preocupações recorrentes sobre o cenário fiscal do Brasil. Com o fechamento desta sessão, a moeda americana renovou seu maior valor nominal desde janeiro de 2022.

Nesta sexta (28), último dia útil do mês, houve uma disputa entre agentes de mercado pela formação da Ptax, uma taxa de câmbio calculada pelo Banco Central que serve como referência para a liquidação de contratos futuros.

Pelo acordo, os dólares comprados pela consumidora deveriam ser entregues na véspera da viagem
Dólar fechou cotado a R$ 5,5906, em dia de volatilidade no mercado local. (Agência Brasil)

No fim de cada mês, agentes financeiros costumam tentar direcioná-la a níveis mais convenientes às suas posições, sejam elas compradas (no sentido de alta das cotações) ou vendidas em dólar (no sentido de baixa).

A disputa pela Ptax impulsionou as cotações do dólar no Brasil, ainda que no exterior a moeda americana tenha apresentado baixa. A maior parte das moedas emergentes, como o rand sul-africano e o peso chileno, registrou valorização em relação ao dólar. O real, no entanto, amargou o pior desempenho tanto entre as emergentes quanto entre as principais moedas do mundo.

O persistente desconforto fiscal no mercado e os ruídos entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o Banco Central (BC) também seguem pesando contra os ativos locais.

No início do dia, Lula voltou a questionar o patamar da taxa de juros no Brasil e a criticar o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

"A taxa de juros de 10,50% [ao ano] é irreal para uma inflação de 4%. Isso vai poder melhorar quando eu puder indicar o presidente [do Banco Central]", afirmou o presidente em entrevista à rádio O Tempo, durante sua passagem por Minas Gerais.

"O presidente da República não pode ficar brigando com o presidente do BC, porque ele foi escolhido pelo governo anterior, pensa ideologicamente igual ao governo anterior e não está fazendo o que deveria fazer corretamente", disse o petista.

Já no fim da manhã, Campos Neto afirmou que ajustes fiscais muito focados em ganho de receita são menos eficientes e podem ter como resultado menor investimento, menor crescimento econômico e inflação mais alta.

O presidente do BC disse, ainda, que a desconfiança sobre as contas públicas impacta os juros de longo prazo e as expectativas de inflação.

"A desvalorização do real ocorre em meio ao início do processo de mudança na presidência do Banco Central e às disputas políticas. As últimas semanas foram marcadas por um intenso processo de desvalorização da moeda brasileira, que parece ter ganhado uma dinâmica mais contundente ao longo dos últimos dias, com uma reação desproporcional do mercado em relação ao cumprimento da meta fiscal para 2024", afirma André Galhardo, consultor econômico da Remessa Online.

Nesta sexta, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, demonstrou preocupação com a desvalorização do real, mas não indicou intervenção do BC no mercado de câmbio, atitude que passou a ser considerada pelo mercado após a forte desvalorização do real nas últimas semanas.

"A gente vai estar sempre olhando se há algum tipo de descolamento muito fora daquilo que está acontecendo com os nossos pares e o restante do mercado global, se existem algumas janelas ou questão de disfuncionalidade na curva ou na própria liquidez", disse.

No acumulado do mês de junho, o dólar registrou alta de 6,48%. No ano, a moeda americana registra alta de mais de 15% ante o real.

"As falas de Lula não dando o respaldo necessário à equipe econômica no ajuste fiscal, sempre fazendo contrapontos à necessidade de ajuste, trazendo a possibilidade de aumento de receitas, que basicamente é aumento de impostos. Isso é muito pesado, pois se o governo não olha para o ajuste fiscal pelo lado dos cortes, ele está contratando mais gastos, que são um dos grandes elementos inflacionários", diz Diego Faust, operador de renda variável da Manchester Investimentos.

No exterior, investidores repercutiram novos dados de inflação nos Estados Unidos que mostraram desaceleração da alta de preços no país. O índice PCE, o mais acompanhado pelo Fed (Federal Reserve, o banco central americano) para suas decisões sobre juros, caiu para 2,6% em maio, após ter avançado 2,7% em abril.

"Os dados foram positivos, mas continuam acima do desejado. A desaceleração da economia e essa tendência inicial de arrefecimento da inflação ainda não são suficientes para que o Comitê de Política Monetária dos EUA, o Fomc, inicie o afrouxamento monetário. Vale a pena ressaltar que o mercado de trabalho segue resiliente", afirma Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research.

Na Bolsa brasileira, o Ibovespa caiu 0,32%, aos 123.906 pontos.

Este vídeo pode te interessar

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais