A decisão do Banco Central de subir os juros em ritmo mais forte, ofuscada na quinta-feira pelo exterior negativo, acabou tendo mais impacto no mercado de câmbio nesta sexta-feira (19), com o ambiente externo mais ameno. O real foi de longe a melhor moeda dos emergentes nesta sexta e, na mínima do dia, chegou a cair para R$ 5,45, o menor nível desde 25 de fevereiro.
Operadores relataram entrada de fluxo externo, com a visão de que o BC pode elevar os juros em até 1 ponto porcentual em maio. Com isso, o dólar acumulou queda de 1,34% na semana, a segunda consecutiva de baixas. Mas no ano ainda sobe 5,3%.
No fechamento, o dólar encerrou a sexta-feira em queda de 1,51%, a R$ 5,4853, o primeiro pregão que a moeda norte-americana termina abaixo de R$ 5,50 desde o dia 24 de fevereiro. No mercado futuro, o dólar para abril cedia 1,35%, a R$ 5,4885 às 17h38.
O efeito da surpresa com o Comitê de Política Monetária (Copom) foi sentido na quinta apenas na abertura do pregão, pois os juros longos americanos passaram a subir e diluíram o impacto no real, observa o Cleber Alessie, da corretora Commcor. Nesta sexta, passada a piora externa da quinta-feira, os ativos domésticos, especialmente o real, encontram espaço para precificar o Copom surpreendentemente mais 'hawkish' (mais duro), ou seja, defendo juros mais altos.
Na curva de juros futuras, os investidores já embutem chance de corte de até 1 ponto porcentual em maio. Este efeito mais forte da perspectiva de altas de juros tende a ser limitado pela frente se o Congresso não andar com a agenda de reformas, alerta Alessie.
A economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, destaca que a surpresa com o Copom e as intervenções extraordinárias do BC ajudaram o real ter um desempenho um pouco melhor que seus pares, mas esta situação pode não perdurar. "O agravamento da pandemia e o elevado risco fiscal percebido continuam pesando sobre a moeda", alerta em sua carta semanal.
A consultoria internacional TS Lombard elevou a previsão para a taxa básica de juros, a Selic, de 4% para 5% ao final deste ano. Para o economista responsável por Brasil da TS, Wilson Ferrarezi, a visão é que o BC quer agir de forma mais agressiva agora na elevação dos juros para evitar ter que ser forçado a fazer isso de forma ainda mais forte lá na frente, comenta em relatório.
Para Ferrarezi, a pressão inflacionária gerada pela disparada do dólar está por trás das recentes intervenções extraordinárias do BC no câmbio, mesmo em dias que o real estava ganhando força. Como o temor de mais medidas populistas de Jair Bolsonaro está ajudando a impedir melhora mais forte do real, Ferrarezi avalia que o BC resolveu ser mais agressivo em suas elevações de juros, buscando segurar o dólar.
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