SÃO PAULO - Após a forte escalada das últimas semanas, o dólar voltou a cair. Nesta sexta-feira (5), a moeda americana fechou o dia em baixa de 0,43%, cotada a R$ 5,461, e acumula recuo de 2,3% desde a última sexta (28).
Nesta sessão, o principal motor da divisa foi a divulgação de dados de emprego nos Estados Unidos. Durante a semana, no entanto, as atenções estiveram voltadas ao cenário interno, em especial a declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre a responsabilidade fiscal do governo.
Nesta sexta (5), Lula disse que a economia não vai quebrar e que não adianta falar de responsabilidade fiscal com ele.
"Não adianta falar de responsabilidade fiscal, porque, se tem uma coisa que eu aprendi com a dona Lindu [a mãe do presidente], foi responsabilidade fiscal, cuidar do meu pagamento, cuidar do meu salário, cuidar da minha família. E hoje a minha família é o Brasil", afirmou, em evento no campus Osasco da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), na Grande São Paulo.
As falas ocorreram após sucessivas críticas do presidente ao Banco Central do Brasil e sinalizações de que não haveria espaço para corte de gastos no governo, que fizeram com que o dólar atingisse a marca de R$ 5,66 no início da semana. Com as declarações no sentido contrário, o mercado teve alívio momentâneo, o que se refletiu na queda do dólar.
Nesta sexta (5), o mercado repercutiu a divulgação de um relatório de emprego nos Estados Unidos, o chamado "payroll", que deu sinais mistos. Por um lado, foram criadas 206 mil postos de trabalho no país em junho, acima das expectativas de 190 mil de economistas consultados pela Reuters. De outro, o desemprego subiu para 4,1%, de 4,0% em maio.
Quando somado à moderação dos preços em maio, o relatório confirmou que a tendência desinflacionária está de volta aos trilhos após o aumento da inflação no primeiro trimestre. Isso também pode elevar a confiança das autoridades do Fed em relação às perspectivas de inflação e empurrar o banco central dos EUA um passo mais perto de começar a cortar os juros ainda este ano.
"Esses resultados reforçam a tese de que a reunião do Fed em setembro será decisiva para um possível corte de juros, o que pode beneficiar o Brasil indiretamente, aliviando a pressão sobre o Banco Central, considerando os debates sobre um possível aumento de juros aqui em setembro", diz Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos.
Na sessão desta sexta (5), os ativos também sofreram após o feriado de Dia da Independência nos EUA, que ocorreu na quinta (4).
Na Bolsa brasileira, o dia foi instável, e o Ibovespa encerrou a sessão com oscilação positiva de 0,08%, aos 126.267 pontos, descolando-se dos índices americanos, que bateram recorde.
A falta de grandes "motivadores" para agitar a Bolsa, que já vinha de uma sessão de liquidez reduzida na véspera pelo feriado dos EUA, levou o índice a operar de lado neste pregão, afirmou o analista Sidney Lima, da Ouro Preto Investimentos.
"A Bolsa está em um terreno de indefinição, isso tudo está acontecendo por conta da falta de novidades grandiosas, e se a gente olha para o mercado internacional, a bola da vez era o 'payroll', e ele, no geral, veio dentro dos conformes", afirmou Lima.
Na visão do gestor e analista da Buena Vista Capital, Renato Nobile, o ganho modesto da bolsa brasileira no dia sinaliza uma tendência de recuperação observada recentemente após a moderação no discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação ao Banco Central e uma maior atenção sobre os gastos do governo.
"O momento está mais favorável, principalmente com o mercado precificando possíveis duas quedas de juros nos EUA e com os ânimos mais calmos aqui no Brasil."
No Brasil, o cenário fiscal segue em foco, após o ministro Fernando Haddad (Fazenda) ter anunciado um corte de R$ 25,9 bilhões para 2025, o que também colaborou para a forte queda do dólar na última sessão.
Segundo Haddad, o governo vai conter despesas ainda este ano para alcançar a meta fiscal e respeitar o limite de gastos. As contenções devem ser formalizadas no próximo dia 22 de julho, quando será divulgado o próximo relatório de avaliação do Orçamento.
Para economistas consultados pela Folha, no entanto, o corte de R$ 25,9 bilhões é insuficiente.
Sérgio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados, afirmou que o grosso dos ajustes necessários terá que passar pelos gastos com educação, saúde e previdência.
"Os cortes anunciados passam por revisão de benefícios, o que já era o permitido pelo presidente. Vai acalmar um pouco o mercado, mas não muito. Ajustes mais significativos com um novo regime fiscal terão que ser feitos a partir de 2027", disse o economista.
As contenções devem ser formalizadas no próximo dia 22 de julho, quando será divulgado o próximo relatório de avaliação do Orçamento deste ano.
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